Daytona USA – O epítome dos arcade racers

A SEGA lançou nas arcadas o Daytona USA em 1993… outra vez, em 1993 amigos! Ainda andava pessoal a babar com o Streets of Rage 2 e já a SEGA se aventurava à grande no mundo dos polígonos. Ainda no mesmo ano chega o primeiro Virtua Fighter, mais um marco das primeiras aventuras poligonais de sucesso na indústria dos videojogos. Se há algo que a SEGA sempre fez particularmente bem foram jogos de arcada, daqueles estilo snack rápido. São imensos os exemplos de After Burner a Crazy Taxi, passando por Outrun e Virtua Tennis. O meu primeiro contacto com Daytona USA acaba por ser no PC, com a versão para Windows 95 que os meus pais me ofereceram no natal de 1996, ainda tenho este evento gravado em VHS. Não tenho bem noção de como conhecia o jogo nessa altura, não foi por ter jogado nas arcadas, mas o mais provável é ter visto em alguma revista ou no templo dos jogos.

Nesse natal estava indeciso entre Daytona USA e Virtual Fighter, que também teve a sua release SEGA PC, tal como Virtua Cop ou Sega Worldwide Soccer. Acabei por decidir comprar o Daytona USA e ainda bem, até porque mais tarde arranjei uma cópia daquelas de caneta de acetato do Virtua Fighter. Lembro-me como se fosse hoje que na altura tinha um Pentium 100 MHz, com 4mb de RAM e 1gb de disco. Depois de instalar o jogo eu e o meu pai notámos logo um problema, o jogo corria um bocado lento, esta é talvez a primeira memória que eu tenho no que diz respeito a falta de performance de um computador. Mas felizmente os meus pais, que sempre me trataram bem, decidiram comprar mais 4mb de RAM, para um total de 8mb! Resolveu o problema e, durante alguns anos, esta foi a maneira que eu tive de experiência Daytona USA, e embora não fosse a melhor versão, era a que eu tinha. Só muitos anos depois viria a ter a versão da Sega Saturn, após encontrar uma cópia na defunta Cashland do Colombo.

Mas entre isso existiu um período na minha vida em que era completamente viciado na melhor versão de Daytona USA… a versão das arcadas. Acreditem, não tem nada a ver, a imersão e jogabilidade é do dia para a noite. Nesta altura já eu tinha jogos como Gran Turismo, mas nada chegava perto da sensação de conduzir aquela espécie de carro de Nascar com quatro mudanças. Durante o secundário, onde já tinha uma certa independência monetária e liberdade para ir aqui ou ali sem ter de dar satisfações, foi quando frequentei imenso dois salões de arcadas locais, os únicos que realmente posso dizer que frequentava com regularidade. Aliás, a certo ponto, um deles era várias vezes por semana, mas sempre à quinta feira, esse dia da semana nunca falhava. Porquê? Perguntam vocês. Bem, quando digo independência monetária, o que quero dizer é que a minha mãe me dava 10€ à quinta feira. Esse dinheiro servia para eu almoçar na escola à quinta feira, e para comer qualquer coisa no bar a meio da manhã se tivesse fome durante os outros dias da semana. Mas o destino desses 10€ acabava por ser sempre diferente e, o que normalmente acontecia, é que 5€ era para almoçar no chinês (porque a comida da cantina era fatela e eu sempre fui esquisito) e os outros 5€ era para 10 jogos de Daytona USA.

O salão de arcadas perto da minha escola, cerca de 5 minutos a pé, era dotado de 4 máquinas de Daytona USA ligadas entre elas, o que permitia jogar contra os meus amigos. Na altura aquilo não foi só um vício para mim mas para outros da minha turma, toda a gente jogava Daytona USA, e jogávamos bem, eram grandes competições ferozes na pista advanced. Foi o único jogo que me lembro de ter atenção aos tempos e tentar bater os recordes, primeiro do pessoal que jogava comigo e depois da própria máquina. Mas não era o único, diria que o mais bravo dos que jogavam comigo era o meu amigo Mauro, o gajo dava-lhe com a alma. Era sempre grandes corridas frenéticas quando estávamos os dois no salão. E havia aquela cena de um gajo ficar mesmo chateado, mas sempre competição saudável, nunca deu para andar à pêra, só uns nomes aqui e ali, mas na aula de matemática ficava tudo tranquilíssimo. Já agora, claro que a malta hoje em dia nos seus trintas ainda se lembra que toda a gente fumava nesta altura, e muitas máquinas tinha um spot tipo cinzeiro para pousar os cigarros no lado direito. Mas o Daytona USA não tinha, portanto se tivesses a fumar e fosses next tinhas de ir mandar cenário com o cigarro na boca, olho direito meio fechado por causa do fumo e uma mão sempre nas mudanças.

São memórias de tempos que não voltam, mas os anos não fizeram com que Daytona USA fosse esquecido. Ainda hoje é um dos jogos que mais pessoas procuram nos salões resistentes que ainda têm máquinas destas. Não vou lá à talvez um ano e meio, mas costumo fazer excursões curtas ali à costa da caparica só para ir jogar Daytona USA nas arcadas, para quem não conhece pode fazê-lo no salão de jogos Meta. Mesmo em 2020 continua a ser um jogo fabuloso, a sensação de velocidade é fantástica, os circuitos são muito bons, apesar do primeiro ser demasiado simples, e destaque para o advance que é o mais equilibrado. A versão arcade tem uma caixa manual de quatro velocidades que é super satisfatória de usar, para putos de 15-16 anos então era A CENA, o mais próximo de ter um Peugeot 106 GTI com ganda bufadeira e andar a abrir pelas ruelas da cidade. A pista advance era a que jogávamos mais e melhor, de longe, havia curvas que com a prática íamos percebendo que passar de quarta para segunda era o melhor. Outras era quarta para terceira, outras bastava ali um toque no travão ou tirar o pé do acelerador, e todos nós tínhamos truques ou abordagens diferentes. Verdade seja dita, ficámos bastante profissionais da condução virtual, cheios de técnicas secretas.

Começámos depois a frequentar outro espaço, na Feira Nova, que também tinha duas máquinas de Daytona USA. Foi aqui que atingimos o expoente máximo do desporto automóvel a brincar. Nessas duas máquinas, eu tinha o recorde na da esquerda e o Mauro tinha o recorde na da direita, e assim ficou durante bastante tempo. Certo dia chegamos lá e alguém tinha batido o recorde do Mauro, e embora não tivesse sido na minha máquina, o tempo era melhor que o meu. Granda trigger mesmo a ferir o orgulho dos putos de 15 anos. A certo dia, por coincidência diria eu, estávamos a jogar e vem um rapaz mais velho, adulto aliás, perguntar se podia ficar next, e assim ficou. Ui o homem tinha unhas para aquilo… Em conversa diz que o recorde da máquina da direita era dele! Mas rapidamente percebemos que o gajo era ganda cheater, então o sócio trabalhava na loja das molduras que ficava para ai a 10 passos da máquina… Claro que ele era feroz, bastava pedir ao chefe para ir à casa de banho e batia um jogo num instantinho, nós tínhamos de vir da escola para ali, a logística era muito mais complicada.

Nunca batemos o record do rapaz e entretanto essas máquinas desapareceram para dar lugar a uma loja do chinês gigantesca. Ainda aqui a uns tempos lá passei e chorei bué por dentro de ver no que aquele espaço se havia tornado. Não era só as máquinas de arcade mas também tinha cinema, restaurantes e etc. Quando eu era miúdo, antes de existir um fórum a cada 50 metros, era o sítio onde toda a gente convergia, hoje é uma sombra muito fria daquilo que era infelizmente. Estas são as minhas memórias de Daytona USA, que é ainda hoje o meu jogo de arcadas favorito. Infelizmente, nem a versão PC, nem de Sega Saturn chega perto de emular a versão arcade , embora possível, está longe da experiência ideal. Isto porque pura e simplesmente não temos aquele assento (regulável atenção), aquele volante e aquela caixa de velocidades. Ao emular, os direcionais nem funcionam correctamente porque ao carregar na seta, o input registado é basicamente o volante completamente virado para um dos lados, portanto não existe qualquer tipo de finess. Só nos restam as excursões à Costa da Caparica, mas qualquer dia, quando ganhar o euromilhões, vou ter duas máquinas destas em casa. Vou é passar a dormir na sala porque para ter espaço a cama vai ter de sair.