A Volta a França, este ano, chega à consola antes de chegar à estrada. Abre o apetite para a (adiada) prova rainha do ciclismo?
Sempre gostei de ver ciclismo na televisão. Posso dizer que pertenço ao nicho de jogadores para os quais este título provoca bastante expectativa. Chegando os meses mais quentes do ano, com o realizar das principais provas internacionais de ciclismo, lá ia eu, invariavelmente, re-instalar o Pro Cycling Manager e “perder” horas a fio de volta desse magnífico jogo de referência para os adeptos do ciclismo. Quando deixei de ter PC para jogar, ao mudar para um Apple, comecei a jogar os títulos do Tour de France na consola. Não sendo um jogo com a mesma densidade, oferece outras opções mais focadas na corrida em si e deixando de parte a complexa estratégia de gestão de equipa.
Tour de France 2020, da Cyanide Studios, permite-nos jogar a prova que dá nome ao jogo, mas também oferece um modo de carreira de equipa, em que controlamos uma equipa ao longo de várias temporadas, ou de um ciclista individual, que criamos e desenvolvemos as suas habilidades até lutar com os melhores.
Tour de France 2020 traz algumas novidades em relação ao título do ano passado, sobretudo a nível de melhoraria da inteligência artificial, que lê a corrida de uma forma mais realista, levando a um comportamento mais competitivo dos nossos adversários.
O sistema de contra-relógio também foi melhorado, podendo nós gerir a fadiga de melhor forma, alternando entre posturas: uma que nos permite melhor controlo sobre a bicicleta, para abordar curvas mais apertadas e outra que sacrifica esse mesmo controlo para pedalar com menor esforço, oferecendo menos resistência ao ar.
Adicionalmente, podemos agora controlar o nosso ciclista em modo primeira pessoa, levando a uma experiência mais imersiva da estrada. É especialmente intensa e útil nas descidas, oferecendo uma sensação de velocidade sem precedentes e permitindo um melhor controlo na abordagem às trajectórias. Contudo, continuo a preferir o modo terceira pessoa, pois facilita mais na leitura estratégica da corrida e a responder mais rapidamente aos adversários.
As principais equipas do pelotão internacional estão licenciadas, pelo que temos nomes, ciclistas e equipamentos reais. Este é um ponto que, parecendo que não, impacta em muito a nossa experiência de jogo. E, pela primeira vez, este jogo terá também uma versão para PC.
No entanto, as novidades ficam por aqui. O jogo continua a oferecer a mesma jogabilidade no geral dos títulos anteriores, os mesmos gráficos e até os menus não nos reforçam que estamos perante um novo título da franquia.
Tour de France 2020 é um jogo desafiante. Não se enganem a pensar que é um jogo de corrida, em que apenas temos de acelerar e travar. Pode ser até uma experiência de jogo muito frustrante para jogadores mais impacientes ou que não dominem as particularidades tácticas deste desporto. Este é um jogo de estratégia, em que o domínio de todas as componentes da corrida e gestão de energia são essenciais.
O jogo oferece um sistema de tutorial por missões para aprender os princípios básicos que é indispensável de fazer antes de começar um dos modos de jogo oferecidos. Mesmo dominando esses princípios, quando dentro de uma corrida, a curva de aprendizagem é grande e vai ser preciso algum tempo e dedicação até dominar o jogo e conseguir fazer corridas com resultados positivos. Este é, de facto, um jogo para um nicho, em que é importante conhecer o ciclismo não só para ser bem sucedido, mas mesmo até para gostar e usufruir dele.
Ultrapassando a barreira da aprendizagem, a jogabilidade de Tour de France 2020 é excelente e tudo o que um aficionado de ciclismo pode desejar. No primeiro dia que peguei neste jogo, dei por mim agarrado à consola madrugada dentro. O grau de detalhe e controlo das particularidades dos vários momentos da corrida, como proteger da resistência do vento, controlar trajectória e velocidade nas curvas e descidas, ler os adversários e reagir aos seus ataques (ou atacá-los no momento certo), dominar a gestão de energia nas subidas… está tudo lá e está bem feito.
Entrando na parte técnica, o jogo é visualmente excelente, oferecendo-nos um bom ambiente de corrida. Contudo, na PS4, deparei-me com alguns problemas, como quebras de performance ou freezes em momentos de maior condensação de ciclistas e público. Tenho pena que os ciclistas continuam todos a ter o mesmo rosto e as mesmas animações, mas, de certa forma, essa característica sempre fez parte dos títulos de ciclismo da Cyanide. Aceito que o desafio técnico de dar o passo em frente nesta área seja significativo para o estúdio, quando falamos de pelotões de mais de uma centena de ciclistas. O som também se torna algo repetitivo, com muito pouca variedade de palavras de incentivo, repetindo-se ao longo de toda a etapa.
Conclusão:
Tour de France 2020 é um simulador de ciclismo muito bem conseguido, que consegue apresentar novidades suficiente para não ser uma repetição do título do ano passado. É um jogo para fans de ciclismo, que dificilmente deverá agradar ao restante público. Tem uma curva de aprendizagem grande, mas oferece uma experiência de jogo rica e estimulante para os aficionados da modalidade. Muito embora as algumas limitações técnicas, que tornam o ambiente de jogo algo descaracterizado, a jogabilidade é excelente e ficamos tão absorvidos na corrida em si, que as limitações no ambiente não se tornam um problema. Se, este ano, é o jogo a abrir o apetite para a competição real? Sim, é um bom jogo e vai deixar-nos ansiosos pela Volta a França, prevista para Agosto.
Começou a jogar ainda os jogos se carregavam a partir de uma cassete de fita magnética. Completamente viciado em FIFA, é também fã incondicional de RPGs e Jogos de Estratégia. Junta, aos videojogos, a paixão pelos jogos de tabuleiro.