Project Zero II: Crimson Butterfly – O próximo só com fralda

Uma breve opinião sobre Project Zero II.

Quando o teu telemóvel toca e apanhas um cagaço, que quase borras a cueca, sabes que estavas concentrado e aterrorizado. Não me julguem e os que o fizerem é porque ainda não jogaram Project Zero II: Crimson Butterfly. Gostava de vos ver, às 2:30 da madrugada, a jogar isto completamente às escuras.

O terror asiático, não só nos videojogos, é uma cena completamente à parte dos slashers e do gore plebianos. É verdade que há bons filmes dentro desse género, tipo Halloween ou Friday the 13th, mas é completamente diferente. Mesmo quando o cinema de terror americano faz algo excelente, como The Shining ou The Thing, o feeling e as temáticas do terror japonês são muito diferentes. Normalmente centra-se em conceitos mais macabros, com tendência para o sobrenatural ou para o bizarro. Nos jogos não é diferente: os japoneses conseguem colocar o jogador com o coração a sair pela boca e o mais macho dos homens com os genitais a roçar o chão.

Um breve rant: não sou fã, de todo, de jogos de terror onde não podemos fazer nada em relação ao inimigo. Coisas como Amnesia ou Outlast não são para mim. Acredito que tiram todo o poder ao jogador, para conseguirem criar terror no mesmo. Para mim, não funciona. Acho que algo como Project Zero, Forbidden Siren ou Silent Hill é mais aterrador, mais perturbador e continua a dar hipótese ao jogador de actuar durante a acção. A grande diferença está no facto destes últimos fazerem três coisas muitíssimo melhor: mundo, estética e narrativa.

Há verdadeiro sumo nestes jogos, no que toca à sua premissa. Alguém a ler isto que tenha jogado Rule of Rose? Politiquices à parte, é capaz de ser a narrativa mais macabra, fora da caixa e perturbadora que conheço. E o jogo até é fraco mecanicamente, mas compensa imenso pelo resto. Project Zero II faz-me lembrar exatamente isso. A jogabilidade não é de todo fantástica, é um bocado presa, a personagem a deslocar-se não tem a fluidez que gostava, e o “combate” não é propriamente interessante. Mas a atmosfera e a narrativa são soberbas.

A história está recheada de mistérios, conceitos estranhos, suicídios (claro) e assassinatos. Claro que mete umas quantas crianças com o cabelo a cair pela cara. Nada é mais assustador que isso e os japoneses já o sabem à muito tempo. Outra coisa que eles são mestres é na estética. O setting de vila abandonada, com um aspecto feudal, é ideal para este estilo de jogo. Por acaso, Forbidden Siren e Kuon são similares nisto e são igualmente assustadores.

Para completar isto está um design de som soberbo, que, se experienciado num volume razoável, vai fazer os vossos pentelhos tremerem de medo constantemente, mesmo sem ter acontecido nada no ecrã. Não é que seja uma grande e incrível banda sonora… é sim, tudo para complementar o ambiente de terror, fazendo-o com uma eficácia tremenda. Há também que entender que o silêncio faz parte da música e, aqui, é mais importante do que na maior parte da arte. O silêncio pode construir um grande momento, a partir do nada.

Embora a movimentação do personagem seja muito presa e a jogabilidade no geral não seja fantástica, há certas coisas de louvar. A série Project Zero centra-se à volta de utilizar a nossa máquina fotográfica para exorcizar espíritos. É ao tirar-lhes fotos que os conseguimos “derrotar”. Isto está bem explorado, com vários modos e upgrades possíveis para a máquina. Podemos ter vários tipos de abordagem, consoante o equipamento ou os upgrades que temos na altura. O facto de os inimigos não estarem visíveis, ou por vezes pouco visíveis, é um dos grandes contributos para o stress que o jogo exerce sobre jogador. Temos apenas um dispositivo que nos indica a presença de um espírito e também a sua localização, embora que só vagamente. Quando sacamos da câmera é que vemos realmente o que temos à frente. Acreditem que vão apanhar belos cagaços graças a isso, durante as, mais ou menos, 9 horas de jogo.

A progressão do jogo faz lembrar muito o típico no gênero de survival horror. Chegas a um ponto que precisas de uma chave ou de duas medalhas para abrir a porta X. Entras na porta X e descobres a chave para a porta Y. Nessa porta, tens um puzzle que te dá um artefacto para abrires uma passagem secreta e por aí adiante. Como Project Zero II se passa numa pequena vila (All God’s Village), essa progressão faz-se entre várias casas e edifícios. Isto ajuda a não tornar a experiência monótona por ser sempre no mesmo sítio. No entanto não deixa de haver algum backtracking entre sítios que já visitamos. Um pouco ao espelho do que fazem os primeiros Silent Hill.

Quando chega às lojas o jogo foi bem recebido e durante os anos foi nomeado várias vezes como um dos jogos de terror mais assustador de sempre. Até digo mais, é difícil procurarem uma dessas listas na internet e não estar lá Project Zero II. E, normalmente, é sempre o segundo da série, presumo que principalmente pela narrativa, já que mecanicamente não é muito diferente do primeiro. Os próprios developers queriam ter uma narrativa significativamente melhor do que no primeiro, porque a maior parte das pessoas ficava tão assustado que a narrativa do dele não era suficiente para agarrar o jogador. Incrível, mas não me surpreende, lembro-me de o jogar quando tinhas talvez uns 15 ou 16 anos e bem que desisti vários dias.

Ainda não joguei o terceiro, de subtítulo “The Tormented”, no entanto quero recomendar, além do primeiro, o Maiden of Black Water da Wii-U. Além de ser dos muito poucos do gênero na consola, é ligeiramente diferente dos outros da série, e é um excelente jogo. Depois disto tenho a minha dose de coração a mil e pesadelos durante a noite para uns tempos. Portanto tão cedo não vou jogar o terceiro, mas tenho de falar aqui ou no youtube sobre os excelentes jogos de terror da PS2. São muitos, há muita qualidade e já joguei praticamente todos. Até lá fica o meu conselho, joguem Project Zero, este segundo é espetacular.