Gameverna – Commodore 64: Primeiro Contacto

Commodore 64

Eu sei que primeiro contacto é um termo muito popular em alienologia, mas foi exatamente como me senti quando experimentei pela primeira vez este sistema, um alien. O Commodore 64 (C64) é um dos computadores pessoais mais conhecidos em todo o mundo e fez furor durante muitos anos após a sua introdução no mercado em 1982. Não é invulgar ouvir alguém que gosta de videojogos referir que começou a sua experiência com esta indústria através de um destes computadores. Podemos até dizer que, na maioria dos casos durante os anos 80, ou se tinha um Commodore 64 ou um ZX Spectrum, este último tendo sido um sucesso incrível na europa devido ao baixo preço que o tornava extremamente competitivo. Vamos por agora ignorar o Amiga 500 que embora chegue ao mercado em 1987 é um campeonato diferente e fica para outro artigo. Em relação ao C64, e dependendo da versão, o ZX Spectrum chegava a ser metade ou até mesmo um terço do preço. Antes de continuar devo referir que estes computadores são um pouco “antes do meu tempo”, visto que estamos no início e meados dos anos 80 e eu só vim ao mundo na segunda metade dessa década. Como tal a minha experiência com estes computadores e com este estilo de jogo foi, enquanto cresci, praticamente nulo.

ZX Spectrum 48k

Comecei a jogar ainda muito novo num 386 da AST, uma bela máquina na altura, que, já era capaz de apresentar resultados bem melhores do que o C64 ou o Spectrum. Tal como hoje em dia alguém com 16 anos vai olhar para um jogo de Mega Drive e pensar nos montes castanhos do Jurassic Park. Até para mim, embora entusiasta, não me foi fácil apreciar o que o C64 me deu a conhecer. Mas também sejamos sinceros, acho que tive muito azar com os jogos que tinha ao meu dispor, e agradeço qualquer recomendação que me queiram dar. O mesmo aconteceu com o ZX Spectrum quando perdi umas horas valentes com ele, em que as primeiras 247 foram só a tentar correr um jogo.. E lá está, atenção que não é desconsiderar ou não dar valor, mas o facto de não haver uma ligação nostálgica torna tudo mais difícil. Ainda assim é com muito gosto que exploro este tipo de sistemas com os quais não tenho qualquer ligação por ser uma experiência genuinamente nova.

O primeiro jogo que experimentei foi aquele que me despertou mais curiosidade, primeiro por gostar bastante da temática, por ser fã de terror e também por ter sido o primeiro jogo (ou assim dizem) a ter uma classificação para maiores de 18, isto muito antes de existir ESRB ou Pegi. Estou a falar de Jack the Ripper de 1987, uma text adventure que pouco tem a ver com a história mítica do estripador Londrino do final do século XIX embora se faça valer do título. Este tipo de jogo não é fácil, e este é bastante meticuloso, se não fizermos exatamente o que é suposto facilmente perdemos e temos de recomeçar de início. O jogo está dividido em três partes e só no início de cada uma delas é que existe um “save”, que não é de todo um save. Na verdade no fim de cada parte é dada ao jogar uma palavra que no início da parte seguinte ele tem de escrever para prosseguir a história.

Está bem pensado diga-se. A narrativa está bem escrita e a história é interessante, embora seja muito pouco sobre Jack the Ripper e muito mais assente numa base sobrenatural. Eventualmente precisei de um walkthrough por não conseguir perceber o objectivo em certas secções depois de várias tentativas falhadas. No geral foi uma experiência interessante onde apenas o final do jogo foi deveras frustrante e confuso, o que prolongou o jogo mais do que eu queria ou do que achei necessário. Com este fora do caminho, com muito tempo livre pela frente e apenas mais sete jogos pensei em dar uma vista de olhos em todos.

 

O que me pareceu mais cool, mais rad, mais 1990, foi o Thunder Jaws. Só foi necessário um minuto para perceber que se tratava de um belo pedaço de esterco video jogável. Existem dois tipos de níveis, começamos com algo que parece um shooter horizontal a matar tubarões e outros mergulhadores debaixo de água, e depois no fim destes temos um sidescroller run and gun do mais básico e frustrante que há. A única qualidade que encontrei foi a música do ecrã inicial, mas isso não é dizer muito. Algo que achei curioso é que praticamente todos os jogos tinham opção no início de escolher vidas ilimitadas, energia ilimitada etc. Lembro-me de alguns jogos pirateados no MS-DOS também o fazerem como por exemplo o Pre-Historik 2, mas aqui pareceu ser a norma. Visto ter esta opção, e atendendo à qualidade estonteante do jogo decidi sim, quero usar cheats, sem dúvida nenhuma, e pelo menos vou ver o resto do jogo. Não ficou mais interessante….

 

 De seguida cheio de convicção de que ia ser muito melhor decidi experimentar o Robozone. Mais uma vez havia cheats mas pensei “não este vai ser bacano, até traz um poster, não pode ser assim tão mau…”. Estava errado, desta vez era estrume.

Um sidescroller super simples, com gráficos super básicos em que os inimigos pareciam saídos de um tiger handheld mas com cores. Fui logo ligar as cheats, santa paciência, e assim vi os incríveis três níveis desta obra prima. Nesta altura pensei “epah o crash dos videojogos não aconteceu na europa, mas pelo que tou a ver foi só por casualidade”. Bem vamos prosseguir com convicção pensei, nada vai ser pior que isto.

 

E realmente houve aqui uma luz ao fundo do túnel com o Badlands. Um jogo básico de corridas em perspectiva isométrica, muito ao estilo super off road, em que entre corridas podemos usar o dinheiro que vamos ganhando para melhorar o nosso carro. Os controlos não são geniais, mas são bastante aceitáveis e o jogo até é divertido, este valeu a pena. 

O único problema mais sério que vi foi que quanto mais equipava o carro, mais difícil ficava de conduzir, até chegar ao ponto em que ou se tinha muita prática ou era um bocado impossível. E era inevitável equipar o carro porque a cada corrida os oponentes ficam melhores. Agora sim, cheio de ânimo passei então ao próximo.

 

E a minha sorte debruçou-se sobre Metaplex. Uma espécie rudimentar de top-down shooter em que controlamos um robô, e disparamos lasers contra vários inimigos de difícil caracterização. 

Devo dizer que não foi de longe o pior dos que eu joguei, infelizmente não consegui foi chegar ao fim porque a certo ponto não consegui perceber o objectivo. E agora já vocês que estão a chamar preguiçoso porque não fui ver um walkthrough, bem, o que vos digo é que se encontrarem um digam. Ainda assim, foi uma nota positiva a acrescentar à experiência. Esperava que assim continuasse mas…

 

Depois veio o The Hunt for Red October, baseado num filme do mesmo nome onde estrela o Sean Connery. Quase de imediato a conclusão era óbvia, desta vez era excremento. Começa também por ser um shooter horizontal com o primeiro nível mais inutilmente longo e consequentemente entediante que algumas vez vi. e a partir daí muda o estilo de jogo constantemente. Assim que cheguei ao segundo nível, que de tão mal feito que está pensei que estava a ser burro, mas afinal era mesmo o jogo que é tão mau que me fez pensar que o óbvio se calhar não era assim tão óbvio. Afinal era, só é difícil executar a manobra que nos propõem. A seguir a isto fui logo ligar as cheats. Mesmo assim não valeu a pena…

 

Só faltavam dois e experimentei o Cisco Heat que achei passível de ser porreiro, parecia uma espécie de Outrun ou de Lotus. Passado 2 segundos de jogo, que se traduzem em 6 frames (no máximo), percebi logo, agora era mesmo merda! Desculpem lá a ordinarice mas por vezes é preciso chamar as coisas pelos nomes. 

Que jogo mais horrível valha-me nossa senhora, quem experimentou isto em 1991 e pensou “está mesmo bacano, vamos lançar o jogo para as lojas” devia ter uma visita do Reinaldo. Até fui ver posteriormente a versão arcade (original) do mesmo jogo e não tem nada a ver. Claro que estamos a lidar, na altura, com um computador com 9 anos no mercado e com um hardware muitíssimo inferior à arcade. No entanto não consigo ver isso como justificação para fazer este port a não ser uma tentativa de cash grab por parte do developer.

 

Apenas restava um, o subtil Loopz. Um simples jogo de puzzles onde temos de ligar as duas pontas de uma “canalização” com as várias peças que nos vão dando. 

É simples, engraçado, tem algum desafio e dá para passar o tempo. É pena ser demasiado curto porque apenas conta com 4 modos de jogo que são essencialmente skins e 9 níveis. Ainda assim foi uma nota positiva para acabar com os jogos de C64 que tinha, e certamente cerca de 745 vezes melhor que o Cisco Heat.

 

Concluindo, a minha primeira experiência com o sistema foi amarga. Como disse no início deste artigo é bastante provável que a minha selecção de jogos não fosse, de longe, a melhor, pelo que se tiverem recomendações, por favor estejam à vontade. Ainda assim gostei bastante de passar umas boas horas agarrado a estes jogos tão desconhecidos, tão diferentes daquilo que mesmo o meu 386 me habituou ainda na década de 80. Foi uma experiência similar com a que tive no Spectrum, embora honestamente essa tenha sido mais divertida pela presença do Paradise Café, o clássico Português.