Pecaminosa – Tiros, blackjack e boa música

A primeira coisa que senti quando peguei em Pecaminosa – A pixel noir game, foi a de que estava perante um jogo cheio de classe e bom gosto. 

Pecaminosa foi criado pela Cereal Games, um estúdio Açoriano localizado na ilha de São Miguel, e é um produto 100% português do qual nos devemos orgulhar. Todo o conjunto foi uma agradável surpresa, um jogo a marcar pela diferença, e que não tem como alvo as massas mas sim um nicho com muito por explorar. Este Police Action RPG totalmente feito em Pixel Art, vai fazer as delícias daqueles que como eu começaram a sua caminhada no mundo dos vídeo jogos quando os pixeis ainda eram uma consequência das limitações e não uma opção estética. Visualmente está muito agradável e transmite na perfeição o ambiente pesado e decadente da cidade.

A história transporta-nos para a década de 40, numa cidade norte-americana fictícia chamada Pecaminosa. Sombria, misteriosa e repleta de crime, é o palco perfeito para esta história. John Souza, o protagonista, um detective luso-descendente cuja carreira já viu melhores dias, vê a sua vida entrar em declínio apos ter morto o criminoso Charlie “Two Angels“. Desempregado, falido, e sem rumo, resta-lhe apenas a companhia da sua velha amiga garrafa de Mack Janiels ou tentar a sua sorte num jogo de Blackjack.

John Souza, um detective em declínio

Os primeiros momentos de jogo atiram-nos para a história de uma forma muito repentina, sem sabermos muito sobre o background dos personagens. Charlie regressa do mundo dos mortos e faz uma visita a Souza, acompanhado de dois capangas que parecem directamente saídos do universo de Grim Fandango. Apanhado de surpresa, e confrontado com o desaparecimento do seu amigo Sullivan, o nosso protagonista vê-se obrigado a trabalhar para Charlie e partir numa longa aventura repleta de morte, más decisões e muito whiskey, tudo na esperança de conseguir descobrir o paradeiro de Sullivan. 

Os elementos RPG estão presentes conforme prometido, o sistema L.I.F.E (Luck, Intelligence, Force e Endurance) permite-nos atribuir os pontos da maneira que mais nos agradar, sendo possível desbloquear novos diálogos ou abordagens diferentes para avançar na historia, dependendo dos atributos que escolhemos para Souza. É também possível melhorar estes atributos através de items consumíveis ou usando armor sets diferentes.

Sempre gostei de apostar na sorte…

A jogabilidade é rápida e intuitiva, os controlos respondem muito bem e facilmente nos habituamos a eles, ao fim de alguns minutos já nos sentimos capazes de enfrentar os inimigos sem muita preparação, mas enganem-se se pensam que vai ser sempre assim, porque algumas boss fights podem ser complicadas, e se não temos cuidado, damos por nós sem balas e a ter que esmurrar o inimigo para tentar sobreviver (admito, muitas vezes sem sucesso…)

Também não é preciso achincalhar…

Se há coisa que aprecio num jogo, é a banda sonora, para mim é essencial que a musica seja de qualidade e se enquadre no ambiente e na história. O grande trunfo de Pecaminosa é precisamente o facto de ter uma banda sonora de luxo. Totalmente interpretada por músicos de São Miguel e composta por Cristóvão Ferreira, faz como que haja aqui uma ligação especial entre os criadores do jogo e os músicos que o elevam a um patamar acima através da sua arte. Toda a banda sonora vai sendo desbloqueada conforme vamos avançando na história e podemos ouvir as musicas individualmente selecionando a opção Grafonola, disponível através do menu principal do jogo.

Classy touch

Tenho por hábito acompanhar todos os momentos da minha vida com música, e o processo de escrita deste artigo não foi excepção. Tentei fazer uma selecção de bom Jazz clássico que me ajudasse a entrar no mood de Pecaminosa, nomes como Andrew Hale ou Scott Hallgren foram o meu boost criativo durante todo o tempo. Por obra do acaso, acabei por encontrar no Spotify uma playlist criada por Lázaro Raposo (CEO da Cereal Games), com grandes nomes do Jazz, e foi essa playlist que acabou por me acompanhar até ao fim. Será que foi com estas mesmas músicas que os criadores se inspiraram para a criação do jogo? 

Conclusão:

Pecaminosa é um jogo muito bem feito, com uma boa jogabilidade e elementos RPG para satisfazer os amantes do género. Teria gostado de ver uma história mais policial, e menos sobrenatural, pelo trailer esperava algo numa onda de L.A. Noire ou Max Payne e acabou por ser algo um pouco diferente.

No futuro, acredito que a Cereal Games vá continuar cada vez mais a refinar os seus jogos. Pelo que vi, tem talento para dar e vender no que diz respeito a Pixel Art, adorava ver um point&click ao bom estilo Broken Sword a sair deste estúdio, iria ser um sucesso. 

Se o recomendo? Totalmente, acho que é um conteúdo muito bom pelo preço pedido.