Eu adoro Marvel’s Avengers e considero-o um dos jogos mais subvalorizados de 2020.
Lembro-me de manifestar, em voz alta, o meu entusiasmo com o jogo meses antes do seu lançamento. Cheguei até a afirmar que o meu hype para Marvel’s Avengers superava em muito o hype para o Cyberpunk 2077, numa altura em que, para uma grande legião de pessoas, o mais recente jogo da CD Projekt Red seria, pelo menos, um candidato a Jogo do Ano de 2020 e não um dos jogos mais desapontantes desse ano. Mas ao contrário de Cyberpunk, que até ser lançado sempre teve em seu redor uma grande expectativa, o mesmo não se verificou em relação a Marvel’s Avengers.
O jogo foi anunciado em 2017 com um pequeno teaser e, nessa altura, o que se sabia é que o jogo estava a cargo da Crystal Dynamics, responsável pela ressurreição de Tomb Raider com uma magnífica trilogia que mostrou aos jogadores uma nova Lara Croft. Volvidos dois anos, em 2019, em vésperas de E3, começaram a surgir leaks de que o jogo dos afamados heróis iria ter uma grande componente multijogador, mais especificamente, no cooperativo. Ora, acontece que nesse mesmo ano, em Janeiro, tinha sido lançado Anthem, um jogo produzido pela Bioware, também ele com um grande enfoque no multiplayer em detrimento de uma campanha single-player épica que se aproximasse das séries Mass Effect e Dragon Age.
Hoje sabemos o fracasso que foi Anthem e as consequências que esse falhanço trouxe para a Bioware, tendo mesmo a EA decidido em Fevereiro do ano corrente pôr um fim ao plano para reviver o jogo, não lhe dando uma segunda vida como aconteceu, por exemplo, com No Man’s Sky da Hello Games. O anúncio de que Marvel’s Avengers não se iria focar apenas na campanha ao estilo dos jogos Batman Arkham ou, mais recentemente, de Marvel’s Spider-Man da Insomniac fez com que a sombra de Anthem começasse a pairar sobre o novo jogo da Crystal Dynamics.
Na E3 2019 foi finalmente mostrado algo sobre o jogo com destaque para os atores que iriam emprestar as suas vozes às personagens e para uma demonstração de gameplay da missão inicial da campanha. Foi ainda confirmado que o jogo teria multijogador cooperativo para até 4 jogadores e que iria receber vários conteúdos após o seu lançamento.
Com o anúncio, logo começaram a chover críticas: a cara dos heróis não agradou a muitos (a cara da Black Widow foi mesmo alterada); o jogo não era mais do que um “cash-grab”, ou seja, uma forma de aproveitar o estrondoso sucesso do MCU para ganhar dinheiro; o jogo seria um novo Anthem, isto é, um fracasso.
A Crystal Dynamics tinha pela frente uma missão espinhosa. As primeiras impressões têm quase sempre um peso substancial e era seguro afirmar que não convenceram a maioria dos jogadores. Já em 2020, foi lançada a Beta do jogo que permitiu jogar as primeiras missões da campanha e também fazer algum conteúdo secundário. As críticas adensaram-se mais ainda. Mas, ao contrário da maioria, foi com a Beta e com a oportunidade de experimentar o jogo que o meu hype cresceu. Sim, ao início também não era elevado, mas também não era tão baixo que me levasse imediatamente a descartar o jogo. O caos durante as batalhas fazia-me lembrar os filmes do MCU, dos quais eu sou um grande fã. Gostei do que joguei, mas sabia que iria ser um lançamento conturbado.
E assim foi, a imprensa não considerou Marvel’s Avengers mais do que um jogo mediano, muito por causa dos inúmeros bugs que afetaram o jogo aquando do seu lançamento. Decidi esperar pela altura certa para adquirir o jogo, que foi em Março deste ano, pouco tempo depois de receber o upgrade para as consolas de nova geração. Devido a afazeres académicos que implicam pouco tempo para jogar conjugado com um backlog com um tamanho considerável, só comecei o jogo em finais de Junho tendo passado a campanha muito recentemente. O relógio marca 44 horas de jogo.
A campanha agarrou-me do início ao fim. A história original está muito bem construída e não posso deixar de realçar o quão boas estão as interpretações dos heróis, o que de certa forma não surpreende tendo em conta o elenco de luxo que faz parte do jogo com nomes como Troy Baker (Bruce Banner/Hulk) e Nolan North (Tony Stark/Iron Man). Para além da história, destaco o gameplay. O combate é explosivo e são notórias as diferenças entre cada herói. Por exemplo, jogar com o Iron Man ou com o Thor não é igual, pois apesar de ambos poderem voar, o Deus do Trovão é claramente melhor no combate corpo-a-corpo do que o excêntrico Stark.
O ter adorado o jogo não significa que não lhe aponte falhas e a maior que lhe posso apontar é o facto de muitas das missões da campanha principal terem uma estrutura focada no multijogador. Não são missões puramente single-player como na mais recente trilogia de Tomb Raider. Numa eventual (talvez pouco provável) sequela, creio que a Crystal Dynamics, se pretender incluir multiplayer, deveria fazê-lo de uma forma separada da campanha principal e não integrada. A duração da campanha é um dos pontos fracos que também se aponta ao jogo, contudo, não consigo pronunciar-me quanto a isso, pois fui fazendo algum conteúdo secundário, a saber, HARM Challenges e Iconic Missions Chains, que aumentaram a longevidade. Por último, queria abordar o tema das famosas microtransações.
Sim, Marvel’s Avengers tem-nas, mas apenas para comprar itens cosméticos. O que me leva a um ponto ainda mais importante: para além dos 6 heróis principais, o jogo já recebeu mais 2 (Kate Bishop e Hawkeye) e prepara-se para receber, pelo menos, mais 2 (Black Panther e Spider-Man, este último em exclusivo para a Playstation). Noto que as novas personagens não são apenas integradas no elenco, como um novo lutador no Super Smash Bros. Ultimate ou no Tekken 7. Cada nova personagem tem a sua própria expansão, com nova história, novas cutscenes, novas habilidades para desbloquear. E quanto se paga por cada nova personagem, história, etc? Nada. São completamente gratuitas.
A gratuitidade das novas personagens já tinha sido anunciada mesmo antes do lançamento do jogo e apesar do fraco sucesso comercial do jogo, a Crystal Dynamics mantém a sua promessa. Numa altura em que até Season Pass já têm sequelas (como parece ser a regra em fighting games), é de enaltecer esta abordagem por parte da Crystal Dynamics. Resta reafirmar que adoro Marvel’s Avengers e que as 44 horas de jogo irão aumentar, pois ainda nem as expansões atuais comecei e estou ansioso para o lançamento de War for Wakanda com Black Panther, em Agosto.
Foi um jogo condenado à nascença, de forma injusta, e se este artigo tiver despertado alguma curiosidade, entre os dias 29 de Julho e 1 de Agosto, o jogo estará disponível para experimentar gratuitamente para PC, Stadia e Playstation.
Defensor da paz entre as consolas e não da guerra entre elas, começou com uns toques na Mega Drive, depois passou para a velhinha PS One e, seguidamente, para a eterna PS2, mas foi apenas com a PSP que a sua grande paixão pelos videojogos despertou, principalmente quando chorou que nem um bebé no final do Crisis Core Final Fantasy VII. Apesar de jogar (quase) de tudo um pouco, o seu coração bate um pouco mais rápido pelo género RPG, pois são jogos desse género que mais memórias lhe trazem.