Tell Me Why é tão mágico e irreverente quanto as temáticas que aborda.
Como jogadores, a maioria reconhecerá o nome Dontnod como criador de jogos com um estilo próprio e irreverente. O estúdio francês criou, por exemplo, Twin Mirror em parceria com a Capcom, Vampyr ou até o mais conhecido Life Is Strange (que partirá para uma nova aventura este ano), em conjunto com a Square Enix. Desta vez, alia-se aos Xbox Games Studios para brindar os jogadores do ecossistema da Microsoft com Tell Me Why, um jogo de história, assente nas nossas decisões e com temas profundos.
Ainda que não tenha devorado toda a franquia LIS, Tell Me Why gerou muita curiosidade na minha pessoa, olhando às premissas mágicas que estas narrativas contêm sempre. Fiquei, no entanto, reticente com as modestas avaliações atribuídas pelos já habituais sites de jogos que cobrem esta parte. Porém, após percebermos de que se trata o título, torna-se uma tarefa fácil perceber o porquê da baixa reputação.
História:
O ambiente em que vivemos a aventura de Tyler e Alyson é bastante aconchegante, começando por contrastar com as peripécias destes dois irmãos. Irmãos esses que foram separados após um evento trágico que ditou o assassinato da mãe às mãos de um dos gémeos (não vos quero tirar o entusiasmo de descobrir qual). O meio e a vizinhança de pequenas dimensões não estavam, claramente, preparados para lidar com tal situação, formando um extenso role de mentiras que quase todas as personagens vão tentar não desmistificar.
A Dontnod faz questão de nos elucidar, desde o princípio, que este é um jogo trabalhado e pensado por especialistas e experiências reais. Isto porque Tyler é trans e homossexual (o tal motivo de “polémica” que referi acima), o que irá influenciar grande parte da opinião e desconfiança que as pessoas nutrem por ele. Aliás, a temática é abordada de uma forma natural, à medida que os eventos se sucedem, o que se torna uma chave para a sua maior abrangência junto da comunidade. Vale ressaltar que o jogo esteve disponível gratuitamente durante o mês de junho, e o primeiro episódio permanece disponível para se jogar na Xbox ou PC.
O cerne da ligação dos dois irmãos, e é precisamente neste ponto que entra o fator diferenciador dos jogos deste estúdio, assenta na questão de ambos conseguirem comunicar entre si, por telepatia, bem como reviver memórias passadas. Há, inclusive, momentos em que as lembranças de cada um acabam a divergir e cabe-nos a nós decidir qual escolher.
Mecânica e Fluidez:
De uma forma geral, é interessante a forma como assumimos o controlo ora de um personagem ora de outro, conseguindo um destaque abrangente de ambos. Não deteto problemas de maior no que toca à fluidez e jogabilidade, sendo que o espaço em que se desenrolam as cenas, é restrito àquilo a que a história se cinge. Sítios para explorar? Podem contar com eles, e até com bonecos colecionáveis espalhados pelo mapa, mas não é um mundo aberto, nem é esse o objetivo.
Como é habitual nos títulos do género (excetuando o novo Life Is Strange), o título foi lançado por capítulos, 3 no total. À medida que avançamos nesta narrativa, a sensação é de que há uma exploração em demasia dos mesmos assuntos. Ouvi, de resto, muitos criadores de conteúdo que partilham a sua opinião referirem que “falta mais um bocadinho”. Engane-se quem achar que não há mistério ou suspense, porque no tema central (e quase único) da morte da mãe dos irmãos, desenrolam-se múltiplos segredos e ações suspeitas que teremos de aceitar ou desconfiar, sob pena de influenciar a personalidade do Tyler ou da Alyson.
Conclusão:
Tell Me Why é, sem dúvidas, um jogo agradável e criativo, que merece a nossa atenção. Tem todos os ingredientes para nos fascinar e trazer o lado contador de histórias dos videojogos, em forma de uma narrativa peculiar e inovadora!