Existem videojogos que nos põe a pensar neles mesmo quando não os estamos a jogar. Quer seja porque ficámos presos em algum momento do jogo e não descansamos a cabeça enquanto não ultrapassamos esse entrave ou porque estamos a gostar tanto da história que ficamos a magicar o desenrolar da narrativa e as várias possibilidades. Enfim, existem outras opções, claro, mas geralmente, são estes os motivos pelos quais fico a pensar num jogo quando não o estou a jogar.
Com Psychonauts 2, descobri uma nova possibilidade: dar por mim a pensar como é que alguém pode ser tão brilhante para criar aqueles níveis, aquela história e, acima de tudo, conseguir ligar tudo isto a uma série de temáticas sérias através do humor e de personagens inéditos. No fundo, foi isso que a equipa de Tim Schafer com este jogo, que era dos títulos que mais almejava jogar nos últimos anos.
A fórmula mantém-se fiel ao primeiro jogo e os elementos do antecessor estão aqui todos presentes. A história consegue ser, mais uma vez, muito bem trabalhada e recheada de humor. Raz, o herói de ambos os jogos, faz agora parte de uma organização, composta pelos psíquicos mais reputados do universo e arredores, que visa desmantelar todo o tipo de males. Como se isso não bastasse, percebem que existe uma toupeira (bufo, espião, infiltrado, etc) dentro da organização e que está a corromper tudo por onde toca. É este o mote para um maravilhoso jogo de plataformas e aventura que utiliza as mais incríveis habilidades de Raz para fornecer uma das experiências mais divertidas dos últimos anos.
É verdade que não estamos perante um jogo particularmente difícil, onde temos de dominar o combate de forma eximia e escrutinar todos os movimentos dos inimigos. Mas isso também não é, de todo, necessário nesta obra. Psychonauts 2 é um jogo para explorar e navegar, sem pressa, recolhendo itens e colecionáveis que facilitam e melhoram a nossa caminhada.
Se há coisa em que Psychonauts 2 se destaca é no design dos níveis. Poucos são os jogos que conseguem criar uma linguagem visual tão forte e que seja funcional em termos das mecânicas de jogo. Não se trata apenas de fazer cenários estrambólicos, como estar dentro da boca de alguém e saltar de dente em dente. Trata-se de fazer uma ligação perfeita entre os cenários e os movimentos e habilidades de Raz, fazendo com que cada área ou nível novo seja completamente diferente e único. Não houve um único momento em que me cansasse de jogar ou que não quisesse explorar um pouco mais do jogo. A procura por colecionáveis e outros itens torna o jogo recheado de conteúdo e diversidade, e nem damos pelas horas passarem, por muitas que tenhamos pela frente.
Contudo, nem tudo é perfeito e existem dois aspectos em que se nota que é uma série que precisa de uma nova roupagem e abordagem. Em primeiro lugar, o combate está um pouco datado. A utilização dos poderes de Raz até funciona bem, mas é no combate corpo-a-corpo que parece que voltámos um pouco ao primeiro jogo, que já tens uns anos valentes. Não é que seja mau, simplesmente acaba por ser mais monótono e menos divertido do que tudo o resto que fazemos no jogo.
Depois temos a questão gráfica e que, sendo algo que não afecta muito a experiência de jogo, poderia estar mais polida. As cutscenes até têm uma qualidade aceitável, mas há alguns momentos em que o jogo parece ter o motor visual de há 10 anos atrás. Todos sabemos os moldes em que o jogo foi desenvolvido e que os recursos foram bastante limitados mas, ainda assim, pedia-se um pouco mais de aprimoramento em alguns momentos do jogo. Mas, mais uma vez, não é um aspecto que prejudique a fantástica experiência de jogo.
Uma palavra final ainda para a excelente locução das personagens. Se muitos destes peculiares personagens têm imensa piada, não é só pelo belo argumento do jogo mas também porque quem lhes deu voz fez um trabalho magnífico e torna-os ainda mais credíveis e engraçados.
Conclusão:
Valeu a pena esperar por Psychonauts 2. É tudo aquilo que os fãs estavam a espera e acredito que até superou as expectativas dos mais conservadores, mesmo com os problemas já mencionados. Consegue manter a fórmula mas encaixa uma nova e interessante história que flui de forma frenética pelos maravilhosos níveis e locais por onde passamos. É começar a pensar no terceiro título e não deixar esta saga cair em esquecimento durante tanto tempo.
Descobriu os videojogos através do Game Boy mas foi com a PlayStation 2 que percebeu a importância desta arte. Enorme fã de RPGs e jogos de plataformas, acha que o Final Fantasy X é a perfeição em formato jogável.