Football Manager 2022 traz-nos a nova temporada do maior (e melhor) simulador de treinador de futebol. Vai revalidar o título?
Revalidar o título talvez não seja a maior questão aqui, visto que é como perguntar se o Bayern vai ser campeão alemão. A franquia Football Manager não tem competição à altura e mais facilmente vemos uma mudança de campeão na Bundesliga. A questão aqui, na verdade, talvez seja se a nova versão deste jogo justifica comprar o bilhete de época.
No momento que escrevo esta análise, levo já 35 horas de Football Manager 2022, sendo que dediquei 170 horas do meu tempo ao seu antecessor. De certa forma, parece que estou, na verdade, a jogar o mesmo jogo há 205 horas. Para os fans da franquia, isto não é surpresa nenhuma, sendo até esperado que assim seja. De ano para ano, a Sports Interactive tem escolhido focar-se num ponto do jogo para fazer mudanças maiores, pouco mexendo nas restantes variáveis. O pacote total é um jogo que, apesar de sempre muito similar ao anterior, está sempre numa progressiva curva ascendente de qualidade. E quais foram as melhorias mais significativas desta vez?
NOVO MOTOR DE ANIMAÇÃO
Se muito do volume de Football Manager se passa nos menus, é dentro das 4 linhas que vemos materializado o fruto do nosso trabalho. E este ano a Sports Interactive focou-se em nos oferecer uma experiência de jogo melhorada.
Em Football Manager 2021, os movimentos dos jogadores 3D estavam presos aos discos do antigo motor 2D. Isso levava a muitos momentos de movimentações algo desconexas entre os momentos com e sem bola. Os jogadores pareciam deslizar antes de controlar a bola, entre vários outros problemas.
Este ano, um novo motor de jogo baseia a movimentação dos modelos dos jogadores no seu esqueleto 3D oferecendo-lhes um leque maior de movimentações. Juntando a uma melhoria na lógica com que as diferentes animações são escolhidas para cada contexto, temos, como resultado, os jogadores a comportarem-se de forma muito mais realista e natural. Isto muda a génese do que é Football Manager 2022? Não. Mas melhora consideravelmente a nossa experiência, tornando-a muito mais autêntica.
E, com uma experiência de jogo mais autêntica, também os momentos de jogo que nos marcam se tornam mais intensos, como aquela reviravolta dramática que nos permite passar a fase de grupos da Champions ou aquele jogo que estamos a pressionar desde o primeiro minuto, perante uma equipa que estoicamente segura o nulo e aos 70 minutos percebemos que o adversário quebra e acabamos a golear.
Ainda está longe de ser perfeito e continuamos a ter alguns momentos algo robóticos, mas é um passo significativo em frente e este motor de jogo abre um futuro risonho para os futuros títulos da franquia.
UM NOVO DATA HUB
Um treinador de futebol moderno não existe sem informação analíticas de todas as vertentes estatísticas do jogo, que o armem de informação detalhada sobre a performance da sua equipa e adversários. Este tipo de dados têm crescido em Football Manager com o passar do tempo mas atingem o seu apogeu este ano, com o novo Data Hub.
No Data Hub encontramos reunidos um incontável número de gráficos, diagramas, infografias e outro tipo de visualizações, que reune todos os pedaços de informação deste jogo numa biblioteca gigante. Visualizações da performance geral da equipa, comparando-a com a média da liga, análises aos próximos adversário, relatórios compilados pelos nossos olheiros, gráficos detalhando todos os micro-momentos do jogo, como cruzamentos, desarmes, passes, enfim… tudo o que deixaria José Mourinho extasiado há uns anos atrás.
É um espaço que vi como certamente muito útil nas mãos certas, mas que, confesso, me intimidou, inicialmente, a mergulhar. É como dar pauzinhos chineses a quem comeu a vida toda de talheres e se quer despachar da refeição em 15 minutos. Não sabes muito bem o que fazer com aquilo tudo.
Mas Football Manager 2022 faz um excelente trabalho em ir ensinando e motivando a usar esta ferramenta. Os relatórios sobre o próximo adversário, com uma síntese analítica da informação, caem regularmente na nossa caixa do correio, destacando os pontos mais fortes e fraquezas que podemos explorar. Após cada jogo, recebemos também um resumo analítico da prestação da nossa equipa. E todas as infografias e gráficos estão extremamente bem feitos e acessíveis, tornando esta avalanche de informação muito mais digerível até para o jogador mais casual.
Não muito tempo depois de começar a jogar dei por mim a fazer uma “pausa” para ir ao Data Hub explorar e descobrir mais sobre como a equipa estava a jogar. De repente, de forma acessível, consegui perceber que jogadores estavam a perder mais a bola ou quais não estava a recuperar defensivamente da forma esperada, entre outros exemplos. O Data Hub tem mesmo informação sobre TODOS os momentos do jogo. E com isso optimizei os meus alinhamentos, equilibrando mais a equipa e tornando os processos de jogo mais eficazes.
Em resumo, provavelmente a maioria dos jogadores nem vão ligar muito a esta nova adição, mas é muito bem vinda e enriquece este jogo.
DIA DE FECHO DE MERCADO COM NOVA VIDA
Football Manager 2022 dá maior ênfase ao dia de fecho de mercado de transferências. Aquele dia onde, na vida real, todos os adeptos do futebol estão a seguir ao minuto todas as movimentações de mercado, onde adeptos do Porto procuram perceber se o clube consegue fazer um bom encaixe com algumas das suas estrelas em vez de as ver sair no final da época a custo zero ou os adeptos do Benfica ficam a espera do anúncio do mais recente avançado contratado, quando na verdade fazem falta é defesas.
Este dia é agora vivido com maior ligação às redes sociais e media e todo o circo montado em torno do acontecimento, fazendo-nos chegar rumores e reacções de forma mais visível. Contudo, não deixa de parecer um refresh cosmético acima de tudo, com os menus a ganharem uma cor amarela (que nos faz lembrar o isolamento de uma cena de crime), do que algo que nos coloque de facto a interagir mais com o que se está a passar.
Mas eu gosto do que fizeram. É um momento que corta com o sempre igual interface do jogo, dando-lhe uma lufada de ar fresco por alguns minutos. E deixa-nos a pensar que o interface de Football Manager podia ser mais dinâmico, reagindo mais momentos do jogo com apresentações visuais distintas.
REUNIÕES DE STAFF
Este ano há um maior ênfase nas reuniões com os restantes membros da nossa equipa técnica. Os nossos colegas estão sempre avidamente prontos a oferecer conselhos sobre como melhorar o nosso clube.
Estas reuniões não são de facto conversas, mas sim um local onde nos são listadas sugestões sobre alguns pontos que podem ser melhorados e nos é dado feedback sobre o desenvolvimento e treino dos jogadores. A maioria dos conselhos são pertinentes, outros tornam-se descabidos pela repetição, como insistir em contratar mais um fisioterapeuta, quando andamos há 1 mês a dizer nas reuniões que estamos bem servidos.
Felizmente, podemos definir a regularidade com que queremos que estas reuniões tenham lugar, pelo que não se torna aborrecido.
E NO RESTO?
No restante, destaco algumas melhorias na forma como funciona o mercado de transferências. A Sports Interactive anuncia que houve melhorias na lógica e estratégias de mercado das equipas controladas pela IA. Pela minha experiência de jogo, não posso tirar conclusões sobre isso.
Posso, no entanto, destacar algo que me agradou imenso: os valores de mercado dos jogadores deixam de ser estanques e são apresentados sobre a forma de um intervalo de valores. E as equipas donas dos jogadores aceitam negociar, de facto, por valores próximos desse intervalo (em vez de nos pedirem 130M por um jogador que nos é apresentado como valendo 15M). Com o passar do tempo esses intervalos vão ficando desactualizados e temos de recolher novas informações sobre os jogadores, de forma a perceber a sua actual valorização.
E ficando nós interessados num jogador, podemos consultar o seu agente, de forma a perceber o que nos pode ser pedido para conseguir levas as negociações a bom porto. As conversa com agentes foram melhoradas e tornam o processo mais interessante e dinâmico. No global, a experiência no mercado de transferências, este ano, está muito mais interessante, pelo menos para o meu gosto.
O que continua, para mim, a não ter ser de todo interessante é a nossa relação com os media e as conversas de balneário. A Sports Interactive anunciou que o Football Manager 2022 oferece maior variedade de questões nas conferências de imprensa, mas… não aguento. Ainda nem um mês de jogo tinha passado e já eu estava a delegar o meu treinador adjunto para as conferências de imprensa, como quem manda um estagiário dobrar cartas. Eu já disse que estou muito contente pelo Corona ter marcado pela sua selecção. Não preciso que mo perguntem de. Cada. Vez. Que. Ele. O. Faz!!! E eu próprio fico aborrecido dos meus discursos motivacionais sempre iguais no balneário. Não sei como é que os meus jogadores aguentam, quanto mais como é que reagem ficando motivados.
Football Manager 2022 é mais um passo em frente numa série que continua progressivamente a evoluir no caminho para a perfeição. É, sem dúvida alguma, um melhor jogo que o seu antecessor. Agora se justifica que, repescando a analogia de início do artigo, compremos o bilhete de época? Não posso ser taxativo na minha resposta. Se não tens o 2021, então não há que pensar: a minha resposta é “de que estás à espera?!”. Se tens o 2021, depende do teu grau de compromisso com a série. O jogo não muda drasticamente e se calhar podes ficar satisfeito com apenas uma base de dados actualizada se fores um jogador mais casual. Mas se, como eu, és hardcore fan da série e vais meter muitas horas neste jogo, então sim, acho que vais ficar satisfeito com a tua compra.
Conclusão:
Football Manager 2022 é uma melhoria na série, que não tem rival no género. Faz um excelente trabalho em dar vida tantos aos grandes como aos pequenos momentos que nos levam a envolver neste desporto. Sentimos que nada falta do mundo do futebol. O motor de jogo melhorou consideravelmente, o novo Data Hub é interessante e gostei muito mais da experiência de mercado. Alguns elementos precisam de levar um maior foco de atenção para serem melhorados, mas é o mais perto que a Sports Interactive esteve do jogo perfeito.
Começou a jogar ainda os jogos se carregavam a partir de uma cassete de fita magnética. Completamente viciado em FIFA, é também fã incondicional de RPGs e Jogos de Estratégia. Junta, aos videojogos, a paixão pelos jogos de tabuleiro.