Like a Dragon: Infinite Wealth | Análise

O Ryu Ga Gotoku Studio continua a fazer autênticas “obras de arte”! Sejam muito bem-vindos a Like a Dragon: Infinite Wealth, onde vamos encontrar mais batalhas, mais drama, mais momentos caricatos, imensos mini-jogos e o retorno dos dois personagens principais da série. Kiryu Kazuma e Ichiban Kasuga voltam ao ecrã em grande estilo e entregam-nos muito provavelmente o melhor jogo da saga Like a Dragon já feito. 

Não há uma maneira fácil de colocar a série que era conhecida anteriormente como Yakuza (para mim terá sempre este nome) na cabeça dos jogadores do ocidente. Ou adoramos cada um dos jogos que já foram feitos e todas as personagens e momentos marcantes que aconteceram, ou simplesmente não, pois podia ser um estilo de jogo que não agrada, ou mesmo a própria história podia não agradar e cativar a longo prazo os jogadores ocidentais. Tudo mudou quando o mainstream abriu-se para a série no ano de 2020, quando o Ryu Ga Gotoku Studio decidiu mudar o estilo de jogo para um RPG baseado em turnos em Yakuza: Like a Dragon. Falando por mim, foi excelente este jogo ter estado na altura no Xbox Game Pass, pois foi uma ótima maneira de me convencer a adquirir o jogo que na altura revolucionou por completo a série Yakuza. 

O novo Like a Dragon: Infinite Wealth coloca de imediato as cartas na mesa sobre o que a nova aventura de Ichiban Kasuga significaria para a aclamada série, embora em termos de história isso tenha sido mais que sugerido em jogos anteriores. Em Yakuza: Like a Dragon de 2020, Ichiban e  Kiryu tiveram o primeiro contacto, e de certa forma, o nosso bom velho Dragon of Dojima já aí tinha confiado ao novo e irreverente protagonista carregar o peso do futuro da série nos seus ombros. Após os eventos da primeira aventura de Ichiban, (e com o hype em alta) os jogadores tiveram a oportunidade de experimentar o estilo de jogo puro e duro dos jogos anteriores da saga Yakuza, além de abrir caminho para a história individual de Kiryu, com Like a Dragon Gaiden: The Man Who Erased His Name, que chegou até nós em Novembro passado. 

Sem querer divulgar grandes detalhes, além do que o estúdio nipónico já nos deu a conhecer nos trailers, já se passaram praticamente quatro anos desde o fim de Yakuza: Like a Dragon, e devido a uma série de circunstâncias problemáticas, encontramos Ichiban Kasuga e os seus companheiros novamente em sarilhos (passaram de bestiais, a bestas por assim dizer). No meio de tanto problema, ainda vamos acompanhar Kasuga na sua viagem até à paradisíaca Honululu em busca de Akane, que é nada mais, nada menos, que a sua mãe biológica. Lá ele vai encontrar uma conspiração envolvendo ele próprio, impiedosos gangues criminosos que dominam o Havai e claro, Kiryu Kazuma, que está ao serviço da Daidoji Faction (não vou dizer claro o que ele lá anda a fazer para evitar spoilers). Contudo, será graças à preciosa ajuda do Dragon of Dojima e a novos aliados que conhece na ilha, que Ichiban Kasuga volta gradualmente a ser o herói que todos veem nele. 

like a dragon: infinite wealth - characters
Ichiban e alguns dos seus companheiros de aventuras

As histórias principais de cada capítulo da série até agora conseguiram manter um bom equilíbrio entre ação e drama, e em Like a Dragon: Infinite Wealth isso não é exceção. Os dois protagonistas são tratados com mestria, primeiro juntos, depois em separado. Além disso, Kasuga, embora ainda seja o louco idealista e alguém em que se pode confiar, também se tornou mais inteligente, enquanto Kiryu, que está numa luta contra o tempo, vê a sua força diminuir lentamente e deve encontrar uma maneira de aguentar a todo o custo esta sua última batalha (assim dá a entender).  

Esta nova aventura marca a conclusão de muitas histórias que estão abertas desde Yakuza 0, e embora basta terem jogado aventura anterior Yakuza: Like a Dragon para acompanharem bem a história e os acontecimentos mais marcantes, o jogo irá recompensar especialmente os fãs que acompanham esta grandiosa história desde o primeiro jogo Yakuza que foi lançado na Playstation 2 (mas também podem ter jogado o remake Yakuza Kiwami claro). Posso desde já avisar que as emoções vão estar à flor da pele em praticamente todos os momentos, e é nesses mesmos momentos que se nota o empenho, dedicação e respeito do Ryu Ga Gotoku Studio por esta saga que vem conquistado imensos fãs por esse mundo fora. 

O gameplay ao bom estilo RPG continua a ser um dos destaques do jogo.

Mover a história de Like a Dragon para fora das fronteiras do Japão pode ser uma das mudanças mais importantes na série até ao momento, mas na prática não é uma mudança tão dramática quanto pode parecer. Sim, as avenidas ensolaradas, coloridas e selvagens de Honolulu não têm muito em comum com as ruelas e becos cinzentos de Ijincho, Kamurocho ou Sotenbori, mas os cidadãos comportam-se de forma bastante semelhante ao que vimos em jogos anteriores, pois há uma forte presença japonesa no Havai (pois é o principal destino de férias dos Japoneses). Este novo local é também o maior da série até ao momento, e acreditem que existe muito sítio para se explorar, sendo fácil nos desviarmos constantemente da missão principal. 

Existe uma nova forma de nos deslocarmos com estilo e maior rapidez, o Street Surfer, e claro que temos os táxis um pouco por todo o lado como é já normal na série (serve como fast travel basicamente) A mudança de local é ainda mais bem apreciada com alguns mini-jogos, como o jogo da rede social Aloha Links. Não conseguimos dar sequer dois passos sem pressionar o botão para fazer Ichiban dizer “Aloha!” para todos as pessoas que estão na rua. Ser amigável com os cidadãos irá trazer algumas recompensas, portanto sejam bem-educados como os vossos pais vos ensinaram e digam olá. Também temos novos jogos para jogar nas máquinas Arcade (sim jogos completos), como SEGA Bass Fishing, Virtua Fighter 3TB e Spikeout, sendo este último um “personal favorite” meu e que já desejava ver na série há já bastante tempo.

like a dragon: infinite wealth - arcade cabinets
As máquinas Arcade de Spikeout, uma das diversas atividades disponiveis.

Mas as atividades secundárias não se ficam por aqui, se gostaram de jogar os jogos Crazy Taxi, então aqui vão encontrar Crazy Delivery. Neste trabalho part-time vamos ver Ichiban numa bicicleta a entregar comida na cidade de Honululu para obter gorjetas. Podemos fazer inclusive fazer alguns truques, mas sempre com atenção que as refeições tem que ser entregues dentro do tempo limite. Com pontos suficientes amealhados, podemos gastar em itens exclusivos do Crazy Delivery, que até dão algum jeito é um facto. Se preferirem a atividade Can Quest que marcou presença no jogo anterior (onde entregamos latas para reciclar), não se preocupem, pois também está presente, basta estarem de volta ao Japão. Existem muitas mais atividades opcionais (gostam de jogar Pokemon??!!) portanto a palavra de ordem é explorar e encontrar tudo o que podemos fazer enquanto damos uma pausa na missão principal. 

Mesmo estando no paraíso, Ichiban parece ter um íman para atrair sarilhos, pois o Havai está bem abastecido com bandidos, gangsters, mafiosos e mais alguns tipos de inimigos para derrotarmos. Para nos ajudar a combater esta bandidagem toda não temos apenas Kiryu e o antigo grupo de companheiros de Ichiban, mas também duas novas personagens, Tomizawa e Chitose. Tomi é responsável pelos ataques à distância, enquanto Chitose tem habilidades de cura de HP e diversos buffs para a equipa. Encontrar uma boa profissão para cada um deles significa experimentar diversas combinações, e não se preocupem, pois Honolulu também tem suas próprias dungeons tal como havia em Ijincho para fazermos “farming” de XP e obter itens mais raros. 

O bom velho protagonista original da série, Kiryu Kazuma.

O combate segue o mesmo padrão do título anterior, embora o estúdio pareça ter notado o quanto era incómodo andarmos pelas ruas, becos e até avenidas com tantas lutas a acontecer de minuto a minuto. Agora veremos menos grupos a vaguear pelas ruas, e parece que estão mais espaçados entre si, mas vão sempre haver sarilhos perto de tesouros ou de atalhos. Ao se aproximarem desses inimigos, entrarão naquele estado alterado de realidade que só Ichiban vê, ou seja, como se estivesse literalmente num jogo de computador, onde o herói tem que derrotar as forças do mal. Nota-se que a IA dos inimigos foi atualizada e as habilidades e como elas funcionam no ecrã foram ajustadas. Agora existem mais tipos de ataques combinados e de oportunidade, mas as habilidades de área (sejam power-ups ou ataques) também dependem muito de onde o personagem ativo esteja. 

No entanto, alguns aspetos menos bons de Yakuza: Like a Dragon  não encontraram uma solução em Like a Dragon: Infinite Wealth. As profissões ainda parecem uma forma de ampliar a experiência (para desbloquear habilidades herdadas) e ainda não entendo como as estatísticas do inimigo funcionam com as armas, pois às vezes são inconsistentes. E entendo que as lutas contra os Bosses devem ser memoráveis, mas não ao custo de sermos uma verdadeira esponja de pancada, pois certos Bosses podem atacar 4 vezes seguidas e destruir todo o nosso grupo num único turno. Além dessas reclamações, penso que com pequenos ajustes aqui e ali, os combates mais uma vez entregam uma grande experiência (o super ataque dos pombos de Namba por exemplo…, WOW). 

Conclusão:

Like a Dragon: Infinite Wealth é uma delícia de jogo, e o Ryu Ga Gotoku Studio conseguiu expandir e progredir não apenas o sistema JRPG da série atual, mas também a sua narrativa, desenvolvimento de personagens e conteúdo extra. Além de ser melhor em quase tudo e oferecer uma experiência de jogo que nenhum outro consegue igualar, tem ainda um nível de detalhe em expressões faciais, cenários, iluminações e desempenho que muitos jogos AAA com orçamento maior gostariam de ter. Supera o seu antecessor Yakuza: Like a Dragon em todos os sentidos, e já se adivinha que no futuro esta série está pronta para voos (quiçá) ainda mais altos.