De todas as adaptações de videojogos para o cinema/séries de TV, Fallout talvez fosse uma das que teriam o trabalho mais facilitado para ser um sucesso, mas ao mesmo tempo, a que poderia ser um autêntico desastre ao mínimo deslize. A Amazon Studios não deixou escapar a oportunidade e colocou a produção nas mãos de Jonathan Nolan (responsável por Westworld), que no final nos brindou com uma das adaptações mais fiéis e divertidas de um videojogo até aos dias de hoje.
Fallout foge (e bem) da armadilha de tentar adaptar a história de um dos jogos da famosa série da Bethesda, pois somos brindados com uma história criada de raiz para a série de TV. A série entrega uma belíssima representação do que é jogar qualquer um dos jogos da franquia (mas diria até mais o Fallout 3), com todos os seus acertos, mas não sem os tropeços. Basicamente, até os bugs típicos dos jogos da Bethesda marcam presença nos erros da adaptação, pois até parece que estamos a jogar sem precisar de termos um comando na mão.
Fallout passa-se 229 anos após a guerra nuclear que dizimou os Estados Unidos da América, mais concretamente na Califórnia (ou que resta dela). A história divide-se por três personagens principais: Lucy MacLean, uma jovem e ingénua moradora do Vault 33 e interpretada por Ella Purnell, Maximus, um escudeiro da Brotherhood of Steel que é interpretado por Aaron Moten e ainda Cooper Howard, um famoso ator de Hollywood que sobreviveu por mais de 200 anos como um Ghoul, um mutante que agora é um bounty hunter e que é muito bem interpretado pelo ator Walter Goggins, sendo inclusive a minha personagem favorita da série.
Os três personagens cobrem praticamente tudo o que Fallout poderia oferecer numa série de TV. Lucy é, de certa forma, inocente, já que nunca saiu do seu abrigo subterrâneo e não tem noção dos muitos perigos presentes nas Wastelands. Maximus conhece o mundo através da dor e da devoção à Brotherhood of Steel, que tenta impor a ordem no que resta de um país completamente devastado. Já Cooper, perdeu o que mais importante tinha na vida e viveu tempo mais que suficiente para compreender como as coisas realmente funcionam num país completamente desolado.
O foco nestes três personagens, permite que os fãs de Fallout possam reconhecer elementos e estar à cuca de alguns easter eggs (como por exemplo os Vault Boys ou a Nuka Cola), enquanto aproveitam a nova trama recheada de conteúdo de qualidade. Contudo, todos aqueles que não conhecem nada acerca de Fallout conseguem também aproveitar completamente esta adaptação e ficam assim a conhecer todas as facetas desse vasto universo.
Apesar de boa parte da trama ter Lucy como ponto principiar (a atriz Ella Purnell interpretou a personagem de forma sublime), Cooper Howard e o escudeiro Maximus são igualmente importantes para o andamento da história desta frenética 1ª temporada. Falando no caso de Cooper, ele é típico personagem durão e destemido, mas que tem um passado bastante trágico e que me deu muita pena, e honestamente só quero saber mais de como ele superou estes mais de 200 anos. Já Maximus, penso que vai brilhar mais na segunda temporada, pois apesar de ter alguns bons momentos ao longo desta primeira temporada, não me cativou muito confesso. Parece faltar algo no carisma da personagem para se conseguir destacar em relação aos outros dois personagens principais. Contudo, se ainda não viram armadura da Brotherhood of Steel que ele usa, façam o favor de ir ver, pois está simplesmente espetacular!
Aapesar de não seguir a história de nenhum dos jogos da Bethesda, a série faz parte da cronologia dos jogos, e passa-se alguns anos após os eventos de Fallout 4. O fato de não estar preso a nenhum jogo específico, deu liberdade a Jonathan Nolan (que é o irmão de Christopher Nolan já agora) de olhar em frente e arriscar no conteúdo que queria mostrar ao público, mas nunca se esquecendo de todos os pequenos pormenores que são imagem de marca de Fallout.
Como jogador, eu sempre tive um fascínio pelo universo de Fallout. Os jogos pós-apocalípticos sempre cativaram, e Fallout 3, mesmo com as suas inúmeras falhas, ainda é um dos meus jogos favoritos até hoje, seguido de perto pelo Fallout 4 e o mais antigo Fallout Tactics. Quase todos os jogos seguem caminhos diferentes, tendo apenas o mundo pós-apocalíptico e devastado como o ponto comum. A série segue exatamente esses passos, servindo como uma aventura “à parte” dos jogos da Bethesda.
Esta certamente foi a maior esperteza da produção, já que permitiu aproveitar um cenário rico, repleto de elementos interessantes, já devidamente desenvolvidos e prontinhos para colocar nos ecrãs das televisões. Com tudo isso já em mente, “bastou” criar uma história que fosse envolvente o suficiente e que conseguisse apresentar novos elementos para alcançar o sucesso. Fallout consegue trazer tudo isso, principalmente ao “dar vida” ao que encontramos nos jogos, com diversos encontros com figuras bizarras e caricatas, uma constante aura de perigo e uma vontade de explorar todos os cantos das Wastelands.
Como pontos menos conseguidos, talvez o fato do ritmo da temporada, pois tem um início muito corrido, tentando apresentar tudo o que precisamos de saber acerca da história de uma vez só, enquanto outros episódios são provavelmente demasiadamente longos, causando uma certa fadiga. Mas isso até pode ser benéfico, pois os episódios mais longos também ajudam alguns personagens ou situações a terem um pouco mais de espaço/tempo para serem mais aprofundados.
A primeira temporada de Fallout consegue mostrar muito bem a ideia que vemos nos jogos, sendo uma ótima história de ficção científica, aliada a uma das melhores adaptações de videojogos já feitas (diria que para mim está empatada com The Last of Us). Temos 3 personagens que terão que fazer de tudo para sobreviver nas Wastelands, só restando saber o que irão fazer para conseguir levar a melhor num mundo repleto de perigos, bem como se irão conseguir alcançar os seus objetivos (ou de que forma os vão atingir). Depois de The Boys e Invincible, a Amazon Studios consegue novamente produzir mais uma série de enorme qualidade que já anda nas “bocas do mundo”. Venha a segunda temporada!
Jogo de tudo um pouco, desde a minha primeira consola de jogos, a Master System II. Desde aí muita coisa mudou, mas a paixão e dedicação aos videojogos permaneceu intacta.
Apesar de jogar de tudo um pouco, desde FPS a RPG´s, sou grande adepto de Fighting games, como o Mortal Kombat e ainda de jogos de desporto automóvel, como o Forza Motorsport. Também não dispenso boas séries e bons filmes. Sou grande fã de animes desde muito cedo, onde tenho DragonBall e Naruto como séries de eleição.