A cumprir a mais célebre tradição portuguesa de “cruzar mares nunca dantes navegados” e levar a cultura da lusofonia para o mundo, sem dever compensações nem indemnizações como é lógico, uma escola de programação muito conhecida em Figueira da Foz realiza e publica seu primeiro videojogo educativo, resultado não apenas do esforço incansável e trabalho impecável dos seus dirigentes, Antonio Durão e Silvia Charana, mas com o inestimável apoio da CM de Figueira da Foz, de empresários locais e nacionais e do movimento Digital Valley Portugal.
Antes de escrever sobre o jogo em si, resolvi perguntar à Senhora Isabel Durão sobre o background desse menino prodígio.
Dona Isabel como é carinhosamente chamada, durante uma simpática conversa comigo, relatou que em junho de 1982 foi a Leiria com 27.000 escudos comprar o primeiro computador para o filho, um ZX Spectrum, visto que ele tinha “talentos” para essas novidades. Fascinado por aquilo o menino desenvolveu sozinho um programa de 70 linhas de código: uma bandeira de Portugal. naquele tempo só havia um único canal de televisão para assistir e um único aparelho televisor na casa, que era disputado pela família e pelo menino Durão. Sempre que lhe facultavam acesso à TV lhe era um acontecimento entre os amigos, que se reuniam e passavam horas e horas a trabalhar em códigos para seus jogos e programas. Não tinha receio dos meninos e meninas horas em frente ao televisor? “Ele estava bem, estava em casa!” revelou a senhora do esplendor dos seus 76 anos.
António Durão é o filho e orgulho da Dona Isabel mas para além disso é também o mentor da CodeUp na Figueira da Foz, local de excelência onde se aprende a desenvolver videojogos e evoluir seus talentos para esta indústria, serious and fun gaming, sempre em sintonia com o aproveitamento escolar normal. Antonio Durão é também board member da Digital Valley e CEO e fundador da Odin Game Studio, uma produtora local de videojogos., para além de colega durante oito anos escrevendo sobre tecnologia para meios de comunicação da região. Com Silvia desenvolvem ainda o Izzy Center, um centro para estudos, explicações, formação profissional e programação.
“Estive sempre ligado à tecnologia, fui programador muitos anos e depois enveredei pela gestão, mas sempre com este bichinho da programação porque continuei a trabalhar em paralelo. Estive ligado a projetos de infraestruturas do core business do que é hoje a área da tecnologia quando em 2018 achei que fazia sentido criar uma escola de programação aqui na Figueira, porque tinha conhecimentos e muita experiência.” – revela António Durão.
“As competências que os mais jovens adquirem na escola, penso que derivado dos currículos e não dos professores, estão completamente desfasadas da nossa realidade. O mundo gira à velocidade da luz e nós parece que ficámos algures numa revolução industrial. Das competências que são hoje exigidas a um profissional, os miúdos só as aprendem à saída da universidade. O que fiz foi criar um currículo e um projeto baseado na criação de jogos. Começámos a nos aperceber de que havia uma correlação entre os resultados que os alunos alcançavam na escola e o que aprendiam aqui, de acordo com o feedback dos pais. Tenho miúdos que entraram com 10 anos e aos 11 já sabiam fazer um pitch, que implica em muito pouco tempo condensar a informação importante. É preciso sistematização da informação e ter um grande grau de interpretação.”
De facto tive a sorte de conhecer diversos jovens talentos dessa escola, é incrível a motivação e vontade que eles têm para além do amor aos videojogos e à possibilidade de os desenvolver, para além de uma criatividade imensurável. Conversei por exemplo com o Tomás Ferreira como anteriormente já publicado aqui na Sidequest (link), que hoje segue sendo o prodígio incrível que sempre foi: aos quatros anos já lia e escrevia, aos seis anos viu um curso de programação em Leiria e queria participar… impedido por causa da tenra idade, foi duro na ocasião e disse zangado aos pais Diana e Hugo: “estão destruindo os meus sonhos“!
“Nas aulas aprendem a construir um jogo de raiz, não apenas Scratch, que é aquilo que as escolas ensinam nas aulas de TIC, falamos mesmo de código na plataforma Unity, em linguagem C Sharp. Há dois anos criei uma produtora, a Odin Studios, as aulas passaram a ser em grupo como se estivéssemos realmente numa produtora… precisávamos de um projeto e logo decidimos fazer um jogo sobre a Figueira da Foz! Desenvolvemos o conceito e o jogo tem 54 níveis, apontamentos sobre tudo o que é do concelho da Figueira da Foz, incluindo vozes digitalizadas de artistas locais. Formamos equipas multifuncionais de programadores, ilustradores, designers 2D, responsáveis pela narrativa e produtores executivos. Cada aluno passava pelos diversos departamentos da empresa e tínhamos aulas de 4h a emular trabalho a sério num projeto.
Os miúdos fizeram em pixel art (forma de arte digital em que os desenhos são criados por pixeis individualmente colocados) todos os monumentos e tudo o que são estruturas reconhecidas na Figueira da Foz. O jogo vai ser usado como instrumento de marketing territorial e por isso foi também pensado na câmara municipal, que tem agora uma nova forma de promover o território, porque o jogo obriga as pessoas a passar pelos níveis que são freguesias e que têm a identidade cultural dos monumentos, espaços e pessoas.” – aponta o orgulhoso mentor António Durão.
A CodeUp lança agora o jogo O Tesouro da Rainha no exacto dia 01 de junho, no Centro de Artes e Espetáculos da Figueira da Foz, com a presença de diversas personalidades, desenvolvedores, parceiros e amigos.
Diretamente do Brasil, Ian Rochlin, fundador da GAMEJAM Plus e Juliana Brito, atual CEO desse projeto e da Indie Hero, enviaram efusivos cumprimentos a saudar essa conquista:
Tive o prazer de acompanhar de perto o desenvolvimento desse jogo que me transportou no tempo de volta aos RPGs de 8 e 16 bits, mas com um toque moderno que remonta ainda aos jogos em Flash dos anos 90. Rápido, divertido, com voz digitalizada da Carla Catarina Neves na narrativa do game, dungeons e mapas coloridos manualmente editados em pura pixel art… Tem detalhes muito caprichados como por exemplo a tela de opções com azulejos típicos portugueses ao fundo e a trilha sonora bastante diversificada que vai da “música de elevador” a puro rock and roll!
É um colírio para os olhos e um passatempo educativo de muita qualidade, se pensarmos que foi 100% desenvolvido por estudantes, alguns deles bem jovens. E não posso deixar de frisar o fator cultural desse videojogo, levando para os jogadores muito da história e da cultura locais de Figueira da Foz… Parabéns a todos os 22 alunos que trabalharam nesse projecto, para além da equipa e da mentoria!
O Tesouro da Rainha estará disponível em breve para iOS, Android e STEAM.
Deixo a pergunta no ar: será que esse tesouro afinal está enterrado sob a figueira da foz do rio Mondego? Ou no cofre secreto do Castelo de Buarcos? Ou numa dungeon secreta do Palácio Sotto Mayor? Fica lançado o desafio e uma saudação especial aos talentosos prodígios da Code.Up: Diogo Paz, Guilherme Caetano, Joao Albino, Tiago Cepa, Flavio, João Varela, Rodrigo, Joshua, Gabriel, Enzo, Paulo, Luis, Kauã, Bernardo, Inês, Sophya, João Cruz, Ivo, Edu, Vasco, Garrido, Gustavo e David!
Acompanhem nos canais e social medias da SIDEQUEST essa cobertura! E GG a todos.
Onde?
CAE - Centro de Artes e Espectáculos da Figueira da Foz
Rua Abade Pedro, auditório 2
Quando?
Dia 01 de junho de 2024 à partir das 14:30 horas
Aprendi em 1983 com o Atari 2600 o que era um videogame. Sou do tempo da internet discada, das cartas em máquina de escrever e de conversar pessoalmente! Do Telejogo Philco-Ford ao telemóvel mais recente, gosto de experimentar games indies e de ajudar a se tornarem títulos AAA. Colecciono consolas e videojogos que fizeram parte da minha história! Pai, Motard e Gamer. 😉