Dwellings of Eldervale – Boardgame | Análise

Foi uma espera de três anos até conseguir por as mãos numa cópia de Dwellings of Eldervale. Este jogo de tabuleiro criado por Luke Laurie e publicado pela Breaking Games esteve esgotado, nunca chegando às lojas nacionais. Mesmo as várias re-impressões a que foi sujeito esgotaram no momento que foram disponibilizadas ao público no site da empresa. Finalmente, a oferta nivelou com a procura e consegui adquirir este jogo, estando agora disponível no mercado nacional.

Porque antecipava este jogo? Havia a promessa de ser uma lufada de ar fresco no panorama dos jogos de tabuleiro, oferecendo uma aproximação diferente ao género worker placement, misturando-o com mecanismos de area control e engine building, envolvendo tudo numa temática de fantasia cativante e pouco comum no género.

Cumpriu a promessa? Sim! Depois de tanto tempo à espera, temia sentir as minhas expectativas defraudadas, mas a verdade é que é tudo o que esperava e ainda mais.

Dwellings of Eldervale é um jogo épico passado num mundo mágico em que monstros elementais gigantes deambulam, enquanto dragões, magos e guerreiros lutam pelo domínio de 8 poderes elementais. Os jogadores controlam facções únicas em busca de aventuras, batalhas, poder e, em última instância, habitar Eldervale, moldando-o de acordo com sua visão.

O jogo desenrola-se entre três áreas: as barras dos elementos, onde os jogadores controlam a sua influência sobre os vários elementos (oito no total – ar, terra, água, fogo, luz, escuridão, ordem e caos); o mapa de Eldervale, formato por várias peças hezagonais; e a área do jogador, onde controla a sua facção, unidades disponíveis, recursos e o tableau de cartas que vão sendo adquiridas para colher benefícios adicionais. Existem duas facções disponíveis por elemento, o que dá 16 com que podemos jogar, cada uma com as suas habilidades particulares.

A primeira coisa que salta à vista em  Dwellings of Eldervale é a produção. Os componentes de jogo são de boa qualidade, acima do standard do esperado de um jogo no mercado atual.  Onde a produção mais brilha é nos componentes de arrumação, com bandejas de armazenamento que permitem guardar os vários componentes de jogo de forma separada e organizada, incluindo não só para os recursos, mas também para cada uma das facções. Este pormenor acelera de uma forma extraordinária o processo de preparação do jogo. Para a dimensão do jogo, o tempo de preparação é absurdamente rápido. Escolher a facção, tirar a sua bandeja, preparar o mapa e os componentes dos elementos disponíveis no jogo e pouco mais. Quando interiorizado o processo, não ultrapassa os 5 minutos de preparação.

Uma nota negativa apenas para um pormenor dos componentes: o tabuleiro individual de cada facção, em cartão, é, na verdade, a tampa para a bandeja de armazenamento dos componentes da mesma. Do ponto de vista de design, é brilhante. Pega na bandeja, tira a tampa que é ao mesmo tempo o tabuleiro da nossa facção e voilá. Contudo, isso cria um elemento de desgaste e como o cartão entra sobre pressão na bandeja, após um par de utilizações começa-se já a notar alguma erosão nas suas bordas.

Depois, para a complexidade e variedade estratégica que o jogo nos oferece, as regras são bastante simples e rápidas de aprender/explicar.

Muito resumidamente, em cada turno, cada jogador pode fazer uma de duas ações. Pode colocar uma das suas unidades numa localização em Eldervale, realizando a ação disponível no local ou recolhendo tokens de recursos, que podem ser trocados pelos mesmos ou adicionados a ações do seu tableau de cartas. Essas unidades podem ser trabalhadores comuns ou personagens especiais (dragão, mago e guerreiro), cada uma delas com as suas características próprias. Em alternativa, os jogadores podem realizar uma ação de regroup, com a qual recuperam as suas unidades do mapa de volta para a sua área de jogador, voltando a ficar disponíveis para ser utilizadas.

A particularidade da ação de regroup em Dwellings of Eldervale é que, ao contrário de outros jogos que partilham este mecanismo, ao recuperarmos as nossas unidades podemos colocá-las nas cartas do nosso tableau, de forma a ativar as suas habilidades e colher benefícios adicionais. Não é uma ação neutra de recuperação das nossas unidades de forma a podermos voltar a utilizá-las, mas sim, na verdade, a ação que muitas vezes estamos mais desejosos de fazer, por ir desencadear as cartas que tão estrategicamente fomos adquirindo.

Existem várias rotas para pontuar neste jogo, seja através das cartas que adquirimos para o nosso tableau, seja através dos dwellings que construímos no mapa. A constante é que marcamos tantos mais pontos quanto evoluirmos no domínio dos elementos em jogo, lembrando, por exemplo, o mecanismo da Popularidade em Scythe. Existem ainda outras formas de pontuar, sendo que se dividem entre pontuações imediatas e pontuações de final de jogo, pendendo a divisão percentual claramente para as últimas.

Construir um dwelling é das ações mais gratificantes no jogo, num momento em que transformamos um dos nossos trabalhadores numa povoação, com o simples ato de adicionar uma espécie de chapéu em forma de telhado ao nosso meeple, completando uma transformação visual com uma simplicidade que me faz questionar como ninguém se tinha lembrado ainda disto antes. É essencial construir dwellings, não só por serem das principais formas de pontuar, mas também para apoiar nos combates. Contudo, cada vez que o fazemos também perdemos um dos nossos trabalhadores, reduzindo o número de ações que podemos fazer.

Já o combate é inevitável em Dwellings of Eldervale, pois é despoletado cada vez que uma unidade é colocada numa região já ocupada por unidades de outras facções ou por algum monstro. O processo da sua resolução está bastante agilizado, resolvendo-se de forma rápida e gratificante. Algo que apreciei imenso é o combate não ser demasiado penalizador para os derrotados, pois há sempre algo a ganhar, mesmo quando perdemos o combate. Algumas cartas e estratégias podem, inclusivamente, levar-nos a entrar num combate com o intuito de perder.

O combate dá um dos grandes motes de Dwellings of Eldervale: cada ação de jogo pode ser gratificante para os jogadores, envolvendo-os constantemente de forma positiva, independentemente do desfecho. Os mecanismos não são inovadores, mas estão muito bem conjugados entre si e refinados de forma a que cada acção seja interessante para os jogadores.

Conclusão

Pros

  • Qualidade da produção, sobretudo com as bandejas de armazenamento
  • Rapidez na preparação do jogo
  • Facilidade de aprendizagem das regras e fluidez de jogo
  • Complexidade e diversidade estratégica
  • Excelente valor de re-jogabilidade
  • Os telhados em cima dos meeples! 😉

Cons

  • Desgaste fácil dos tabuleiros das facções, por serem também as tampas das respetivas bandejas de armazenamento.

Dwellings of Eldervale é um jogo estraordinário. Apresenta-se como um jogo grande e complexo. E é, efetivamente. O grau de complexidade estratégica e estímulo do intelecto dos jogadores é elevado. Contudo, a simplicidade das regras e a forma rápida como o jogo flui torna-o bastante acessível para os jogadores e a sua preparação rápido fazem com que seja fácil de o levar para mesa. Não apresentando mecanismos inovadores em si, conjuga-os muito bem e trabalha bem cada processo de jogo de forma a que seja interessante e gratificante para os jogadores. As escolhas e os caminhos para os pontos são variados e interessantes e até mesmo perder um combate pode ser benéfico para um jogador.