Gosto muito desse gênero de jogos de fantasia, meio que medieval com magia e desafios sobrenaturais, há uma sensação muito particular que busco sempre que é essa necessidade de sobreviver, vencer o desafio sobre-humano e tentar perceber qual é a história que se abre no ecrã. Mandragora é excelente nisso pois a história começa de um jeito, os desafios realmente nos desafiam e depois passamos de vilão a herói de uma saga.
Misture a essa gameplay 2D, quase um “action plataform” só que com combate, cenários maravilhosos com fundos animados, sombrios, gelados, variando conforme o lugar do mapa onde vc estiver. Essa pitada 2D + 3D animado deu um refresh no gênero, me prendeu e fez querer terminar esse jogo antes de escrever este artigo. Mandragora é um RPG de ação estilo soulslike (não gosto de usar esse nome, fica apenas para explicar ao leitor do que se trata) é um excelente projeto da Primal Game Studio, publicado pela Knights Peak e com assessoria de imprensa da JF Games, misturando combate tático e progressão não linear com uma direção de arte impressionante, ou seja, de modo muito feliz apresenta ao jogador um design de jogabilidade bem primoroso com cenários imersivos, profundos e arte muito bem-feita.
A HISTÓRIA
A história de Mandragora tem Brian Mitsoda por detrás e se passa no mundo de Faeldumm, onde monstros abundam e o colapso parece inevitável enquanto o protagonista, você jogador chamado de “Inquisidor”, está encarregado de vigiar os hereges e de executar fielmente a vontade do “Sacerdote”, um fanático religioso. O que parecia um trabalho simples de obediência e serviência acaba por obrigar nosso herói a iniciar uma jornada transformadora que coloca todo esse mundo em questão que está sendo atacado / absorvido pela chamada “Entropia”.
Decidi terminar esse jogo antes de escrever o artigo por ter notado que, depois das primeiras horas de gameplay, com a imersão no mundo já mais avançada, depois de engajar com diversas trocas opcionais e diversos NPCs a somar na aventura, grande parte da experiência se resumiu a ficar pessoalmente envolvido com os vários tipos de indivíduos, alguns amigos outros inimigos, mas curiosamente todos a colaborar pelo sucesso da sua jornada. Só jogando vão perceber o que que quero dizer, para não dar spoilers.
Mandragora é uma mistura de combate dos estilos “soulslike” (essa palavra de novo), com rola + magia + itens + ataca e “metroidvania” no sentido da exploração dos mapas, posso dizer que é um dos mundos “2.5D” mais ambiciosos que já explorei e que varia entre cavernas, catacumbas, cidadelas abandonadas, castelos, torres, etc. Todos esses mapas sempre infestados de inimigos rastejantes, caminhantes e voadores, armadilhas, portais dessa entropia, ao mesmo tempo que cada nova área parecia grande ao mesmo tempo se conectava com os portais de respawn e de upgrade (ok, as bonfires) 😀
Uma coisa que eu normalmente não gosto mas que nesse jogo deu certo é aquela velha formula do mapa ter locais inacessíveis que, para alcançar, primeiro ter de desbloquear poderes que vão sendo encontrados com as sidequests ou conforme a história avança. Por acaso neste jogo isso deu certo mas normalmente é um dos fatores que estragam a experiência, especialmente quando é algo fácil do tipo “para alcançar aquele local precisa de um pulo duplo” ou apenas desbloquear um gancho que pode ser usado em determinados suportes para subir / escalar partes do mapa.
A aventura é maravilhosamente assustadora por causa da dificuldade e, apesar de muito equilibrada, alguns pontos precisam ser lapidados pelos gamedevs como o veneno e o sangramento. Basta “respirar” perto de um simples ratinho infectado que rapidamente sua vida inteira é zerada e só mais na metade do jogo é que conseguimos um item de cura e imunidade temporária. Aliás falando em itens e poções há dezenas de opções mas, na minha opinião, todos esquecíveis por funcionarem apenas durante alguns segundos, sendo que uma luta com um boss demora, dependendo da sua arma e do seu level, 3 a 5 minutos. Haja esquiva para sobreviver a magias hitkill que saem do chão, caem do céu, giram na tela, quase um bullet hell enquanto o seu personagem não está evoluído o suficiente.
DIFICULDADE E GAMEPLAY
Há controles deslizantes para tornar a dificuldade do jogo mais acessível, limitando a energia e o dano dos boss em 70% (modo easy), algo que ajuda mas nem tanto e nesse ponto Mandragora é ótimo em tornar sua jornada infernal, tornando cada feito alcançado significativo. Aqui vale uma dica aos jogadores: explorem bem os mapas antes de cada boss, quando inimigos droparem equipamentos fiquem farmando neles até dropar também a arma, foi assim que encontrei uma espada muito forte e fui com ela até o final, sendo que os últimos 20% do jogo foram descascando inimigos igual cebolas com essa espada overpowered. 😀
A gameplay é aquele combate em plataformas com inimigos variados em áreas com vários caminhos que se abrem, uns levando a becos sem saída às vezes elaborados e cheios de recompensas ou às vezes vazios e frustrantes, outros simplesmente conectando a outras partes do mapa seguinte, outraz vezes achando mini-boss, medium boss ou o boss da área que te destróis em segundos. É bem normal chegar a um ponto que ainda não se consegue avançar mas tem um recurso de marcar manualmente o mapa com ícones, o que é bem conveniente para aquelas portas sem chave, plataformas inacessíveis, arcas do tesouro sem lock pick para abrir, etc. Para facilitar nossa vida tem teletransporte nas “bonfires”, ou seja, dá pra ir de um lado a outro no mapa num pulo e também um botão que nos leva direto ao hub central do jogo, que é a “witch tree”.
Uma coisa que é mesmo viciante: explorar o mundo de Mandragora e achar cada cantinho do mapa (terminei a minha gameplay com 97% do mapa aberto e não faço a menor idéia de onde estão os 3% finais)! Essa exploração lembra muito games como Hollow Knight e também aquele Ori and the Blind Forest, com opções como quebrar o chão em certos locais ou subir escadas antes desativadas. Há diversos puzzles, nada muito complicado mas sempre recompensador.
O combate é a outra área de Mandragora que vence com primor: ao mesmo tempo que a jogabilidade é intuitiva, esquiva e bate, ao mesmo tempo tem um sistema de árvores de perícia, equipamentos variados e poderes diferentes para liberar conforme seu estilo, desde logo quando começa você já pode selecionar uma das seis classes: Vanguard, Flameweaver, Spellbinder, Nightshade, Wyldwarden e o Vindicator. Cada uma dessas classes está linkada a poderes como chamas, energia, natureza e etc mas o jogador não fica limitado a elas. Eu por exemplo joguei como Vindicator mas desbloqueei poderes bem fortes de combate e de fogo apenas, ficando bastante forte nessas duas.
Foi pena o sistema de gameplay não permitir mais pontos de evolução de modo que, no final do jogo, pudéssemos desbloquear completamente todas as árvores de evolução em todas as classes, seria bem interessante um NEWGAMEPLUS podendo experimentar outras magias, ataques, armas e etc num combate muito mais difícil com os inimigos, dando mais um tempo de vida ao jogo.
Há também duas árvores de habilidades, sendo uma delas para ajudar na luta contra a Entropia, mas sinceramente no caso das habilidades achei que a quantidade ultrapassa a qualidade e com isso desperdiçamos escassos pontos de upgrade com coisas quase inúteis para nosso estilo apenas para conseguirmos alcançar o poder que realmente queremos. Exemplo: várias habilidades aumentam atributos em 1% ou coisa assim e exigem 3 pontos de talento nesse nó sendo que o poder a seguir nos dá muito mais dano de ataque ou de defesa. Ainda assim desbravar esses caminhos e “desperdiçar os pontos” nos leva a obter atributos melhores a longo prazo. Isso também poderia ser revisto num update, limpando esses caminhos de evolução ou então, durante a gameplay, o jogador ganhando mais pontos por vitórias, de modo que no final do jogo ao menos UMA das árvores de talentos possa ser completada 100%: as duas árvores que foquei não consegui abrir nem metade dos poderes e olha que haviam SEIS árvores a escolher!
Há estus flask com outro nome para recuperar vida, há souls com o nome de “essência” a somar a outras mecânicas como adrenalina (que aumenta seu dano) e entropia (conforme mata seres dessa realidade alternativa) e todos esses coletáveis são utilizados para comprar mais poderes ou fazer upgrade dos existentes. Vale sempre a pena visitar o hub central “Árvore das Bruxas” e falar repetidamente com todos os NPCs que o jogador vai enviando pra lá, sempre há alguma sidequest ou missão que nos presenteia com itens ou poderes bem úteis na gameplay.
Nessa zona central há também um quadro de recompensas, apesar de divertidas essas missões, algumas bem rápidas, a meu ver pagam muito pouco e a exploração com farming em locais certos sempre recompensa muito mais.
Confesso que Mandragora: Whispers of the Witch Tree me prendeu desde o início e pela primeira vez demorei quase 20 dias a escrever um artigo, queria passar aos leitores a real impressão de um veterano jogador e não de alguém empolgado pela novidade. As ilustrações são impressionantes e especialmente o trabalho de áudio e vozes do Christos Antoniou conhecido como “Septicflesh” interpretada pela magnífica “FILMharmonic Orchestra of Prague” dão vida a esta fantasia sombria.
Recomendo darem uma chance ao jogo, disponível para PC na Steam e Epic Games Store ou também nas consolas PlayStation 5, Xbox Series X/S e Nintendo Switch.
Mais informações no site oficial do desenvolvedor clicando AQUI e também os seguindo nas mídias sociais AQUI.
Pros
- Imersivo e desafiador
- Mapas imensos e viciantes
- Inimigos muito desafiadores
- Diversos estilos de combate
- Equipamentos e Poderes adpatativos ao estilo do jogador
- Arte gráfica e trilha sonora espetaculares
Cons
- Diversos bugs e glitches nem irritantes
- Botao de correr de de abrir é o mesmo
- Frustração de acabar o jogo sem desbloquear poderes

Aprendi em 1983 com o Atari 2600 o que era um videogame. Sou do tempo da internet discada, das cartas em máquina de escrever e de conversar pessoalmente! Do Telejogo Philco-Ford ao telemóvel mais recente, gosto de experimentar games indies e de ajudar a se tornarem títulos AAA. Colecciono consolas e videojogos que fizeram parte da minha história! Pai, Motard e Gamer. 😉