FIFA 23 – Provavelmente, o melhor FIFA de sempre | Análise

Dizer que o FIFA 23 poderá ser o melhor FIFA de sempre é arriscado e ponho-me a jeito para alguns comentários… mas tenho de o dizer.

A minha análise a FIFA 23 vai focar-se muito na sua jogabilidade. As novidades nos vários modos de jogo e seus detalhes podem facilmente ser consultadas aqui, passando por crossplay entre consolas, lançamento do futebol feminino de clubes, reinvenção do sistema de química no Ultimate Team ou personalidade do jogador no modo carreira. Mas a verdadeira análise, para mim, passa pela jogabilidade.

Todos os anos, a EA, no anúncio do novo título da sua mais rentável franquia, nos enche os ouvidos com termos pomposos que prometem que vamos ter um simulador de futebol cheio de novidades, com tecnologia xpto, mais autêntico e responsivo.

Mas também, todos os anos, sentimos que o jogo continua igual ao de sempre e apenas levou uma ligeira lavagem de rosto. No ano passado, como escrevi na altura, fruto da introdução da tecnologia Hypermotion, já tinha sentido, finalmente, um notório passo em frente, algo realmente diferenciador. Este ano, essa tecnologia evoluiu para a sua versão 2 e está mais refinada. Mas, mais que tecnologias, a jogabilidade, apesar de longe de se ter revolucionado (o jogo sente-se similar ao FIFA 22) parece fugir ao padrão a que estamos habituados dos últimos títulos. E essa diferença nos padrões de jogo, tornam-no, para mim, muito mais interessante.

Permitam-me, para já, desmistificar uma pouco uma ideia que, ano após ano, se fiz de todos os FIFA: “O jogo este ano está mais lento”. Nunca achei que estivesse, de facto, mais lento. Acontece que a maioria dos jogadores que o afirmam jogam o modo Ultimate Team e, no final do ciclo do título anterior, possuem equipas de jogadores especiais já maximizados, quase todos com 95+ de velocidade e boa agilidade. Quando recomeçamos o ciclo num novo FIFA, regressamos a jogadores ouro base, muito limitados nas suas habilidades e, naturalmente, tudo nos parece mais lento e pesado. A culpa não é do jogo.

Este ano, contudo, a EA tornou, de facto, o drible dos jogadores mais pesado. E isso muda todo o padrão de jogo, exigindo uma construção de jogo em que o passe sai mais valorizado.  Adicionalmente, a forma como pensamos a velocidade dos jogadores foi revolucionada através de um mecanismo inovador.

Graças ao Hypermotion 2, a EA Sports conseguiu introduzir novas mecânicas de corrida no FIFA 23. Os desenvolvedores criaram o sistema AcceleRATE, que define o estilo de corrida e aceleração dos jogadores.

Cada jogador vai cair em um de três tipologias de AcceleRATE: controlledexplosive lengthy. Desde o lançamento de FIFA 23 que o interesse e atenção tem recaído sobre os jogadores lengthy. Estes não possuem a maior aceleração, mas em longas distâncias conseguem correr mais rápido que os restantes, graças à sua passada mais larga. Um jogador lengthy consegue, assim, fazer-se sentir quase tão rápido como os mais rápidos do jogo, apesar de não ter os valores de habilidade que o justifiquem.

O critério que define um jogador lengthy é a sua altura elevada e muita força, atributos que geralmente eram associados a jogadores lentos e não usáveis. Com esta mecânica, estes jogadores conseguem ultrapassar as suas antigas limitações e acompanhar os mais rápidos do jogo, tornando-se não só usáveis como, em alguns casos, bastante eficazes. Se, há umas semanas atrás, me dissessem que um dos melhores jogadores de FIFA 23 iria ser o Erling Haaland, eu iria rir-me na cara da pessoa. Mas a verdade é que o é e o seu preço no mercado do Ultimate Team reflete isso mesmo, superiorizando-se a jogadores como Messi, Salah ou Vinicius Jr.

Adicionalmente, muitos dos defesas centrais do jogo acabam por entrar nesta categoria de AcceleRATE, o que os torna capazes de recuperar e apanhar os avançados mais rápidos.

Os jogadores mais rápidos e explosivos continuam a poder ser devastadores, mas em espaços mais curtos, usando a sua aceleração para criar espaços e rasgar defesas. É nos sprints ao longo de espaços maiores que que as velocidades se nivelam.

Tudo isto somado, entre a revolução da forma como os jogadores correm e o drible ser mais pesado, o processo de construção de jogo ofensivo e a criação de desequilíbrios exige outro tipo de abordagem. É o adeus do abuso da velocidade e do spam de skill moves.

Agora sinto que estou a jogar realmente futebol. Entre a habitual jogabilidade inconsistente a que a EA Sports nos habituou e os abusos que os jogadores fazem dos mecanismos de jogo, sempre senti que muitas vezes o lado inteligente e planeado do futebol ficava de fora. A receita do sucesso passava 90% das vezes por correr para a frente e encadear algumas habilidades que os meus dedos nem têm agilidade para replicar. Passar a bola era secundário.

Planear o ataque é, agora, mais importante. Temos de passar a bola, pois se fuçarmos no drible, eventualmente vamos mesmo perder a sua posse. Temos de saber jogar futebol inteligente para suceder. E sabem que mais? Para mim está a ser muito divertido. Nunca a jogabilidade de um FIFA foi tão divertida para mim como está a ser agora.

E é com agrado que vejo alguns criadores de conteúdo que acompanho regularmente, geralmente sempre muito aversos à jogabilidade do FIFA, a “confessarem” estar igualmente a apreciar o FIFA 23.

Claro que também passo por muitos comentários de jogadores a queixarem-se que “demoram 2 semanas a virar um jogador”. Acredito que os jogadores que gostavam de correr e aplicar todo um leque de habilidades não estejam tão satisfeitos.

Contudo, os skill moves não estão mortos. Continuam muito eficazes. Mas apenas se usados com inteligência, nos momentos certos para criar um desequilibro e depois conciliar com outras vertentes do jogo. E não é assim que deveria ser? No fundo, como no futebol real. E o FIFA 23 parece-me mais próximo do futebol real que os seus antecessores.

No remate também temos algumas melhorias, sendo muito mais consistente a finalização dentro da área. O FIFA 23 trás duas novidades para o nosso arsenal de soluções para fazer a bola entrar na baliza. Temos os power shot, em que, perdendo um pouco mais de tempo a armar o remate, podemos lançar uma “bomba” na direcção da baliza. Bem… na direcção da baliza se acertarmos nela, pois é um tipo de remate muito mais “manual” na sua direcção, oferecendo em troca desse risco o potencial de conseguirmos uma finalização indefensável. Depois os adeptos de Ricardo Quaresma podem delirar com a capacidade de rematar (e também passar) em trivela, usando a parte de fora do pé para criar um efeito na bola. Conseguirmos escolher quando rematar em trivela alarga as nossas opções e momentos onde, anteriormente, seria impossível ter bom ângulo de finalização podem agora apresentar uma boa oportunidade de golo.

No geral, a jogabilidade do FIFA 23, apesar de não se livrar inteiramente das suas inconsistências, parece muito mais equilibrada que nos anos anteriores, exigindo-nos uma maior inteligência de jogo.

Claro que é apenas natural que, com o tempo, se descubram mecânicas que podem ser abusadas para facilitar a conquista de vitórias (vejo algum potencial para isso nas trivelas), mas isso é inevitável quando um jogo tem uma base de milhões de jogadores. E, para já, parece-me um jogo que vive de facto em volta de um futebol total e não de um abuso de mecânicas.

Visualmente, o jogo está excelente, pelo menos na nova geração de consolas onde joguei. Quando entramos num jogo salta logo à vista o grau de detalhe do relvado e ao longo do jogo a forma como vai ficando marcado. O ambiente do estádio é bastante dinâmico, com maior variedade entre adeptos, enriquecendo a nossa experiência de jogo.

As animações dos jogadores são bastante fluídas e realistas, notando-se, sobretudo nas colisões. Mas, mais importante, na lidação com a bola, noto menos interações aberrantes, em que a bola passa a roçar o pé do defesa sem ele a tentar interceptar ou o guarda-redes a desviar-se de um remate que ia à figura. Momentos desses ainda estão presentes de forma ocasional, mas claramente menor que em FIFA 22.

O jogo não está livre de problemas. Longe disso. Apesar de mais reduzidas, ainda encontramos algumas inconsistências. Apesar das melhorias e novidades, continuamos a sentir que estamos a jogar uma versão refinada do mesmo jogo de sempre. E os modos de jogo continuam sem se reinventar. Como eu gostaria que o modo carreira se aproximasse mais, por exemplo, dos NBA 2K. Ou que o Ultimate Team tivesse um modo torneio, por exemplo.

O que sinto é que, como me estou a divertir genuinamente com a jogabilidade deste ano, me esqueço facilmente de tudo o que podia estar melhor e não está.

 

Conclusão:

FIFA 23 não é revolucionário. Pouco trás de novo, na verdade. Mas evoluiu muito bem do seu antecessor, com refinamentos em pontos chave. O processo de jogo ofensivo é mais interessante e variado, não ficando escravo da exploração de mecânicas pouco naturalistas. É, para mim, muito mais próximo do futebol real e nunca me diverti tanto com um jogo desta franquia como com FIFA 23. Entre a boa jogabilidade e os visuais e ambientes cada vez melhores, este é, para mim, o melhor jogo da franquia até hoje.