Street Fighter 6 – De olhos postos no futuro, mas não esquece as raízes | Análise

Mesmo que não sejam apaixonados por videojogos, é improvável que nunca tenham ouvido falar da série Street Fighter. Com mais de três décadas de história, muitos e bons jogos pelo meio e até mesmo um filme com Jean Claude Van Damme e Raul Julia, a série tornou-se num dos principais nomes da indústria do entretenimento. Depois do jogo anterior ter cometido alguns erros, Street Fighter 6 já está disponível e traz consigo uma experiência completa com vários modos de jogo. Que as lutas comecem! 

Quem é fã e acompanha esta aclamada franquia da Capcom, sabe do lançamento conturbado de Street Fighter V, que foi lançado sem conteúdo arcade, poucos personagens e a componente online que tinha vários problemas e que demorou alguns anos para ficar jogável. Este foi muito provavelmente o Street Fighter que menos horas joguei, ao contrário de Street Fighter IV, onde tinha um sem número de horas de jogo acumuladas e uma progressão bastante interessante nas partidas online a contar para o ranking…. Bons velhos tempos! 

Street Fighter 6 traz consigo três experiências numa só, divididas nos modos de jogo Fighting Ground, Battle Hub e World Tour. O modo Fighting Ground traz os modos tradicionais de jogo, como o modo Arcade por exemplo. Já o Battle Hub é uma central para encontrar outros jogadores e jogar online, mas podemos fazer isso também no Fighting Ground, mas de forma mais simples por assim dizer, eu por exemplo jogo partidas a contar para o ranking assim. Por último, o modo World Tour é a grande novidade que apresenta um novo modo história, desta vez a Capcom decidiu dar ouvidos aos fãs e incluir este desejado modo. O jogo tem assim conteúdo suficiente para agradar todos os tipos de jogadores, seja em modo online ou em modo offline 

Vamos começar por falar na grande novidade de Street Fighter 6 que é o modo World Tour. Aqui nós jogamos com um avatar criado por nós que irá aventurar-se por várias locais (começando por Metro City nos EUA) encontrando pelo caminho lutadores bem conhecidos que vão servir como mestres (o primeiro é Luke) e irão posteriormente ensinar as suas técnicas (temos que ir avançando na história claro). 

Para começar este modo é preciso então criar o nosso avatar e as opções de customização são enormes, sendo possível não só modificar a aparência, mas também o corpo e os respetivos membros, mas cuidado pois tudo aqui tem influência no combate e dependendo do personagem que criamos, certos golpes serão mais difíceis de executar/defender. Se fizerem como no meu caso um personagem com as características do Zangief, claro que será bastante complicado depois executar ataques/habilidades da Chun-Li. 

Está então hora de partir para a aventura com uma história que se baseia numa rivalidade, que poderá fazer lembrar a mesma entre Ken e Ryu, onde o foco é ficar mais forte. O interessante deste modo é que tudo funciona como um RPG sendo possível personalizar o nosso recém-criado personagem utilizando técnicas de vários estilos diferentes, porém (e como referi) para desbloquear novas técnicas é preciso antes encontrar os mestres lutadores e aprender os seus estilos, e para quem gosta de fazer grind, então o modo World Tour é mesmo para vocês. 

Apesar de ser interessante, o modo World Tour vem acompanhado de um grind intensivo que vai forçar-nos a ter que realizar lutas intermináveis contra os mesmos inimigos para aprendermos tudo o que os mestres nos podem ensinar. Isto leva que este modo se torne cansativo, pois com exceção de alguns combates, a maioria dos combates serão repetidos. O que inicialmente me entusiasmou, depressa me começou a aborrecer. Estejam ainda atentos à vossa Skill Tree, pois é aqui vão aumentar a defesa, a barra de Drive, a energia, etc. E se são daqueles que gostam de comprar acessórios e roupas, o modo World Tour também tem uma boa variedade disso (e alguns alteram as estatisticas do nosso personagem), por isso estejam atentos às lojas que vão aparecendo. 

O modo Battle Hub é onde a jogatina online tem o seu foco, e é aqui que é possível encontrar outros jogadores  numa grande sala recheada de máquinas arcades. Uma vez mais, iremos usar o nosso avatar, sim o mesmo criado para o modo World Tour e que também pode participar nas Avatar Battles. Aqui é um bom local para poderemos conhecer outros jogadores, jogar partidas contra eles, assistir a outras lutas, e também podemos experimentar as extreme battles, um modo especial (e inovador) com regras específicas. É aqui que também podemos encontrar clássicos da Capcom, como Final Fight ou Street Fighter II Turbo, portanto basta acharem a respetiva maquina arcade e jogarem. Preparem-se para uma boa dose de nostalgia. 

O modo Fighting Ground é (na minha opinião) Street Fighter em toda a sua plenitude. Enquanto o World Tour pode ser uma introdução ao universo do jogo, indicado para quem anda afastado da série, o Fighting Ground é o coração do jogo. É aqui que por exemplo temos o modo Arcade, que funciona como o tradicional modo história. Ao escolher-mos um dos lutadores, veremos uma animação inicial com um pouco da sua história e depois teremos que enfrentar uma série de oponentes para ver a conclusão do seu arco. É simples, mas lá que funciona… funciona!  

O jogo continua conservador, mas também atualizado. Treinem, aprendam e repitam… E a partir daí comecem a entender como as coisas funcionam, pois apesar de Street Fighter ser muito popular, nunca foi fácil de dominar. Existem tipos de controlos para todos, e existem três tipos. O Moderno que permite executar golpes e ataques especiais (Super Arts) de forma simplificada, o Dinâmico que conta com ataques automáticos e combos (honestamente não acho graça nenhuma a este) e claro o Clássico, o esquema tradicional onde temos que “suar” para fazer um simples Hadouken, quem é como quem diz ter que fazer o comando ↓, ↘, → seguido de qualquer botão de soco. 

Parece que os tipos de controlos moderno e dinâmico tornam os combates mais fáceis e oferecem vantagens, mas não é o que acontece na prática. Afinal, o moderno, por exemplo, é uma ótima maneira para atrair mais pessoas é uma realidade, mas um jogador com um pouquinho mais de experiência nos controlos clássicos vai conseguir (facilmente), equilibrar o desafio. 

E o mais importante na minha opinião, somente o tipo clássico oferece a liberdade e o controlo total dos personagens. Então, para se dominar Street Fighter 6, não há outro jeito, é preciso “destruir” comandos e ter um ou outro calo nos dedos das mãos, e eu que o diga quando tento executar um qualquer ataque Super Art, que por vezes nunca é ativado nos momentos decisivos.   

Felizmente, Street Fighter 6 ensina-te a jogá-lo. Os modos de treino são excelentes, com destaque para o Guia de Personagem, que demonstra detalhadamente a execução de golpes e combos de todos os 18 personagens. Pode ser algo básico é certo, mas é uma opção de extrema utilidade. Pois aqui aprendemos os conceitos mais fundamentais de cada lutador, como o tempo de resposta ou a  distância necessária para acertar um golpe e dos danos que ele é capaz de fazer.  

Sendo um Street Fighter, existe obviamente monetização, e isso dá-nos uma vez mais um sabor agridoce. Isto não é de agora claro e vem em linha com a ganância adotada por diversos jogos de luta. Street Fighter 6 traz pouco conteúdo na sua versão base que vem com apenas 18 lutadores, onde apenas 10 são caras conhecidas, Ken, Ryu, Chun-Li, Honda, Guile, Dee Jay, Blanka, Cammy, Dhalsim e Zangief. Os restantes lutadores são caras novas, com a exepção de Luke que já apareceu no jogo anterior quando foi lançado o Season Pass 5 do Street Fighter V.  

Sinceramente das caras novas, apenas me cativou Marisa, que é descendente de guerreiros gregos e os ataques dela fazem mesmo lembrar as lutas de gladiadores…, portanto temos aqui uma verdadeira “máquina de dor”. Numa nota mais pessoal, não ver Sagat presente de inicio uma vez mais (apareceu no jogo anterior quando saiu o Season Pass 3)…, até dói. O mesmo posso dizer de M.Bison, mas isso pode ser devido ao seu final no jogo anterior… digo eu. Claro que a Capcom já divulgou que o Year 1 Character Pass iria adicionar mais lutadores ao seu novo jogo… onde o nome mais sonante é o de Akuma, portanto preparem-se uma vez mais para toneladas de DLC´s. Seria bom termos de inicio uma maior escolha de lutadores, e um bom exemplo disso pode ser encontrado em King of Fighters XV, que na sua estreia vinha com 39 lutadores disponíveis.  

De referir ainda que a Capcom decidiu incluir no jogo um pequeno pormenor, os comentários em tempo real durante as partidas. Os comentários são feitos por elementos populares da Fighting Game Community, que narram os nossos combates como se tivéssemos a ver um jogo de futebol na TV. Experimentei, mas honestamente prefiro ter essa opção desativada, pois para mim é mais um elemento que me distrai e gosto de estar concentrado ao máximo, principalmente nos Ranked Matches. 

Na parte visual, Street Fighter 6 utiliza o mesmo estilo dos seus dois antecessores. Porém, acho que certos pormenores dos lutadores estão mais próximos da realidade, mesmo que ainda existam alguns exageros. Existem bastantes detalhes nas suas roupas, bem como nos cenários e na sua própria massa muscular, não esquecendo claro a escolha de cores vibrantes escolhidas para embelezarem os cenários ou os próprios golpes (principalmente os Super Arts). Apesar de o meu computador não aguentar com as definições Ultra High, a minha GeForce GTX970 ainda consegue oferecer uma boa experiência de jogo com as definições normais, onde consigo uns bons estáveis 50 fps…, para mim está ótimo. Se tiverem a versão PC, não esqueçam ainda que podem jogar com um comando da Playstation ou Xbox por exemplo…, nem quero imaginar como será jogar apenas com teclado.

Conclusão:

Street Fighter 6 olha para o futuro, mas não esquece a nostalgia que consagrou a série (e ainda bem). Podia trazer mais conteúdo é um fato, e neste ponto refiro-me a personagens, 18 acho relativamente pouco. A monetização também deveria ser revista, pois pode não agradar a muitos e bons jogadores, contudo, acho que o que importa reter é que o jogo é viciante, e que a aposta no modo World Tour foi uma ideia vencedora, pois aproxima ainda mais as novas gerações de jogadores das gerações mais velhas que viram nascer esta icónica série.