Testament: The Order of High Human | Análise

A melhor maneira que posso descrever do que joguei de Testament: The Order of High Human é que é bizarro, um pouco perturbador, muitas vezes (sem intenção) engraçado, mas no geral não tem muito sucesso no que quis trazer aos jogadores. Mas vamos lá saber o porquê então. 

O jogo tem um ou outro pormenor interessante e claro que também tem que ser mencionado, como uma ótima arte de personagens e ambientes interessantes para percorrer, bem como um sistema de feitiços decente, mas é difícil encontrar muito mais para elogiar em Testament: The Order of High Human. 

Desenvolvido por um pequeno estúdio de 15 elementos, a Fairyship Games, este é um first person action RPG que tem como palco um mundo de fantasia pós-apocalíptico chamado Tessara. Nós vamos jogar com Aran, que acorda após ser sequestrado pelo Nature Father… que mais posso descrever como sendo uma espécie de árvore que fala, com barba e com um mau feitio. Aran é um High Human, um ser imortal que já foi Rei de Tessara, que acabou misteriosamente por ficar sem seus poderes. As razões para isso ter acontecido só são explicadas mais tarde – geralmente através de monólogos incrivelmente forçados de Aran falando consigo mesmo sobre coisas que ele já sabia, mas eu, como jogador, não fazia ideia. 

Eventualmente, descobrimos que Arva, que é o irmão de Aran se transformou num ser consumido pela escuridão, que de repente sai de um portal para nos dar “gozo” de termos sidos reduzidos a um mero mortal e fazer um rápido e típico discurso de vilão e desaparecer em seguida. Portanto até ficarem a saber o verdadeiro porquê das coisas, vão ter que jogar um bom bocado, e até isso acontecer apenas vão ter que seguir as indicações que o jogo vos dá (em forma de tutorial) e ir ouvir os monólogos de Aran, que dão pistas muito vagas do que está a acontecer.  

testament: the order of high human

Mas tudo bem. Uma espécie de história apresentada de forma confusa e um trabalho de localização desleixado provavelmente não seria o pior se o combate fosse ótimo… infelizmente não é. A jogabilidade com espada em primeira pessoa que parece uma espécie de Elder Scrolls (mas bastante medíocre) resume-se principalmente a fazer o mesmo combo repetidamente e, em seguida, desviar do caminho de um ataque que por norma tem sempre o mesmo padrão. O jogo finge ter um sistema de combinações de ataques, mas na verdade não tem. Quer eu tenha um timing exato com os meus golpes como o tutorial diz, ou apenas dê um clique com o botão esquerdo do rato o mais rápido possível, a animação e a quantidade de dano que inflijo parecem ser bastante idênticas.  

Já os ataques com arco e flechas são um pouco mais divertidos. A maioria dos inimigos morre com um único tiro na cabeça, e eu realmente gosto quando sou recompensado pela minha precisão digna de Robin Hood, se bem que o comportamento dos inimigos é estranho no mínimo, pois o inimigo que ataco com uma valente flechada continua a seguir a sua vida normal (nem tenta esconder-se ou fugir), mas os outros à volta ficam completamente descontrolados…, tá bom então. 

Já os ataques furtivos, podem causar one hit kill em muitos inimigos e causar muitos danos nos Bosses, mas as oportunidades de usá-los são bastante limitadas. Existem feitiços para serem usados também, no total de 15, contudo, só podemos ter equipados 4 de cada vez. Por exemplo, existe uma barreira destrutível semelhante ao sinal Quen que Geralt usa em The Witcher , feitiços com grande efeito numa larga área, bem um outro que permite a drenagem de vida muito, muito lento dos inimigos. Se quiserem usar os feitiços, a espada tem de ser guardada… não faz muito sentido, pois pergunto-me se Aran não poderia ser multitask, e poder usar os ataques com a espada e usar feitiços em simultâneo.  

testament: the order of high human - jogabilidade

E se ficarmos sem flechas e poções de mana (a mana não se regenera lentamente, é pena), estamos de volta à mesma velha e básica rotina de combate corpo a corpo. Os inimigos à distância geralmente ficam parados, estupefactos, e permitem que nós os separemos se conseguirmos encurtar distância com eles. A inteligência artificial do jogo honestamente falando não é muito boa, com padrões de ataque previsíveis constantemente, não apresentando assim um grande desafio. 

Também existe um sistema de progressão baseado em skill tree, que permite que se melhore os atributos de combate corpo a corpo, arco e flecha ou feitiços. Está ok, mas bastante básico diga-se, o que por um lado é bom pois é fácil de entender e não complica. De referir ainda que o jogo não é só andarmos a aniquilar tudo que é monstros, também existem variados quebra-cabeças que adiciona ao jogo uma pitada de desafio intelectual, contudo grande parte deles podiam ser mais elaborados, mais difíceis de resolver, portanto nem neste departamento o jogo nos dá um desafio.

A força dos inimigos é indicada por um ícone colorido por cima das suas cabeças, com verde sendo o nível mais fácil e roxo sendo muito difícil. Enfrentei um inimigo roxo e fui esmagado até a morte com um golpe apenas (foi uma vez sem exemplo também). Quando morremos, vamos reaparecer no último checkpoint, apesar de não haver locais de checkpoints visuais, mas existem algumas pedras de fast travel ao redor. Os inimigos abatidos às vezes deixam loot na forma de cristais verdes de que são essenciais para curar a vida, cristais azuis que nos recuperam mana ou fragmentos de criação que são usados para criar itens na roda de consumíveis. 

Em termos visuais, e apesar de recriar bastante bem o mundo de fantasia a que se propõe, o jogo graficamente para os dias atuais parece-me um pouco datado. O design de personagens está bom é um fator positivo como já mencionei, mas nos dias atuais é certo que já vi melhor noutros jogos first person. Quanto a bugs, e mesmo a versão analisada sendo uma preview build, honestamente só achei que existem quedas frequentes nos frame rates (mesmo em resoluções mais baixas), mas isso é algo que o estúdio está a par e dizem que será solucionado na versão final. Na versão final também haverá opção de escolher o idioma do jogo para Português do Brasil (e mais outros idiomas claro), o que é bom para os jogadores que tem dificuldade com o inglês. É de louvar mais este esforço de localizar o jogo com mais idiomas, pois não deve ser fácil para apenas 15 pessoas.

O jogo para além de ter sido lançado para PC a 13 de Julho (via Steam e Epic Games Store), também irá estar disponível nas consolas de antiga e nova geração da Playstation e Xbox, contudo até ao momento, o jogo não se encontra disponível em nenhuma das respetivas lojas digitais, sendo assim provável que exista algum atraso no lançamento das versões para consola.

Conclusão:

Testament: The Order of High Human um jogo desenvolvido com muita paixão pelo estúdio da Fairyship Games, isso é inegável! Contudo, o jogo fica-se pelo medíocre, pois parece que parou no tempo, e já não estamos em 2004/2005, pois fez-me lembrar os jogos dessa época. Para “ajudar”, o  gameplay não puxa por nós, o enredo também não é apelativo… e até me custa escrever isto muito honestamente, tendo em conta uma vez mais o esforço das 15 pessoas que desenvolveram o jogo. Não vejo o jogo a destacar-se no género a que se propõe, pois não surpreende, nem inova.