Starfield – Espaço, a última fronteira |Análise

A hora da verdade chegou para Starfield. Depois de estar por bastantes anos a ser desenvolvido, eis que o novo jogo da Bethesda aterrou nas consolas XBOX Series S/X e também nos computadores. Preparem-se… temos pela frente uma aventura de proporções colossais. 

Há tantas esperanças depositadas em Starfield neste momento por milhões de pessoas, que esperam que o novo título da Bethesda seja um dos melhores RPG´s da história dos videojogos. O estúdio especializou-se no género RPG por muitos anos, mas também não se aventurou numa nova propriedade intelectual por 25 anos. A longa espera compensou, e de certeza que vai fazer as delícias (por muito tempo) de muitos jogadores por esse mundo fora. 

Starfield é uma obra maravilhosa e única, um legado extraordinário para uma forma de fazer videojogos que, infelizmente, está-se perdendo aos poucos. Mas também é um lançamento que está longe de ser perfeito e que sofre de algumas irregularidades devido ao seu tamanho titânico. O jogo tenta tocar tantos estilos ao mesmo tempo e satisfazer tantos tipos de jogadores, que no final acaba por ser muito bom nas coisas que a Bethesda tradicionalmente fez bem durante toda a sua existência, mas não se livrou de alguns tropeções aqui e ali. 

Como devem saber, este jogo é um RPG de ficção científica que tem como pano de fundo toda uma galáxia que podem explorar livremente. Starfield tem diversas inspirações em grandes filmes sci-fi como por exemplo Starship Troopers, Alien ou Interstellar, mas também posso dizer que tem qualquer coisa de similar a Mass Effect, isto falando agora no campo dos videojogos claro. 

Em outros jogos de Todd Howard o fio condutor é por vezes bastante escasso e é apenas um mero pretexto para justificar a nossa presença no mundo e dar-lhe um objetivo a longo prazo. Mas neste novo jogo, a história é surpreendentemente forte. Há aliados e inimigos com personalidades interessantes e intenções de descobrir, há situações tensas e há uma aura de mistério que envolve a narrativa que dá muita vontade de saber o que vai acontecer a seguir. O suspense da descoberta de uma série de artefactos de origem desconhecida que temos de recolher para descobrir o seu significado é rapidamente exposto, e desde então a minha curiosidade em saber mais está sempre em alta. 

O nosso personagem começa como um mineiro e caberá a nós escolher a sua história passada, as suas características (não só físicas) e depois também, o futuro dele. A história evolui bastante quando encontramos a Constellation, um grupo de exploradores que viajam por esse cosmos fora em busca do desconhecido. É com este grupo de notáveis pessoas que ficamos a saber um pouco mais acerca dos artefactos de origem desconhecida que referi antes, e temos agora de viajar pelos confins do espaço em busca dos restantes para desvendar o mistério que eles guardam. Contudo a história principal é quase como que um pequeno aperitivo de tudo o que o jogo tem para oferecer. 

O fato de haver um vilão também ajuda, algo que não aconteceu em todos os jogos do estúdio, mas para mim sempre me pareceu boa ideia dar foco às histórias, especialmente em grandes mundos abertos. É verdade que a presença dele demorou muito tempo a manifestar-se, contudo sempre esteve presente e nós nem demos por isso. 

O enredo principal pode ser terminado em cerca de 30 e poucas horas, isto se forem diretos ao assunto, mas se fizerem isso estão a perder toda uma experiência, pois estamos a falar de um jogo que pode e deve durar uma boa quantidade de horas que facilmente triplica ou até mesmo quadruplica. Nos jogos da Bethesda o que importa é a viagem e não o destino, e certamente muitos jogadores investiram centenas de horas de jogo em The Elder Scrolls: Skyrim ou em Fallout 3 sem sequer chegarem perto do fim… ou ter o menor interesse nele. 

O que de uma forma ou de outra todos nós vamos fazer Starfield, em maior ou menor numero, é alguma missão. Existem muitas das já habituais missões dos da Bethesda, como alguém que nos pede para ir a um local para obter um determinado saque, viajamos até lá, matamos todos, trazemos o que nos pediram e por fim recebemos a nossa recompensa. A maioria das missões secundárias tem esse desenvolvimento, mas também existem missões da história principal assim, já sendo até um pormenor típico dos jogos da Bethesda. Se em The Elder Scrolls temos uma gruta com trolls no seu interior, em Starfield o conceito é parecido, só que em vez de uma gruta e trolls, temos piratas do espaço e edifícios sci-fi. 

No início, consegui manter o meu plano de apenas concentrar-me na campanha, mas foi sol de pouca dura, até porque não existem jogos de RPG onde a história principal seja tão “sem importância” como nos jogos da Bethesda. Atenção que não estou a tirar mérito a história principal, nada disso, pois está ótima e bem escrita, mas aqui podemos viver aventuras incríveis sem jogar a história principal por um segundo que seja, e basta nem sequer chegarmos às duas horas de jogo para já termos um número bem “jeitoso” de missões secundárias para completar. Não temos mesmo mãos a medir! 

Todo o jogo é extremamente bonito e altamente detalhado (então nas naves, está qualquer coisa) e flui melhor do que qualquer outro jogo da Bethesda que já tive oportunidade de jogar em consolas. Além disso, os combates estão bem projetados, mas confesso que I.A deveria ser revista, pois mesmo jogando em Hard, o desafio não é nada de especial. Pergunto-me também porquê que os inimigos em algumas situações (nem sempre) ficam como que parados no tempo, pois até parece que estão à espera de serem cravejados de balas. Mas continuando, este é um jogo de RPG no seu cerne, mas também poderia ser um jogo de ação muito bom, e bom exemplo disso é quando estamos envolvidos em tiroteios completamente frenéticos ou a tentar aniquilar algum pirata espacial com uma machadada bem dada no pescoço. 

Existem muitos planetas para aterrar, há também muitas estações espaciais para visitar e o espaço em redor dos planetas mais habitados está cheio de tráfego espacial. Algumas das naves são amigáveis (se queremos ser amigáveis também depende de nós), enquanto outras são piratas, o que muitas vezes leva a batalhas que eu compararia a mais às que vi em Star Trek do que em Star Wars. 

Podemos também mexer em diversos parâmetros que ajustam a quantidade de energia que cada sistema da nossa nave utiliza (como escudos, motores, lasers, etc), portanto se por exemplo estão rodeados por 3 inimigos e querem dar mais energia aos escudos, basta tirar a energia atribuída a outros sistemas da nave e atribuí-la aos escudos. Uma mecânica simples, mas interessante na minha opinião. 

Um dos meus locais favoritos no jogo é Akila City. A melhor forma de descrever este local é como um autêntico oeste selvagem no espaço. Os fundadores desta pequena cidade são ex-terráqueos que mantêm religiosamente as suas tradições, criando assim uma extensão bastante natural de uma cidade saída de um western, mas com aquela pitada de ficção científica. Além disso, os habitantes de Akila gostam imenso de artefactos da Terra, o que acaba por criar um “estranho“ conforto nostálgico.  

Claro que isto é apenas uma gota num imenso oceano desta aventura absolutamente gigantesca. Falamos de centenas de horas de jogo onde o conceito de criar o nosso próprio entretenimento é uma realidade. Se gostam da ideia de construir um sem número de postos avançados para obter um bom fluxo de matérias-primas, ou talvez prefiram comprar ou vender naves espaciais e obter uma boa maquia, aqui é possível. Se porventura também querem roubar tudo o que aparece à frente ou apenas descobrir e saquear bases espaciais abandonadas, podem fazer isso se assim entenderem. Em momento algum Starfield tenta fazer com que joguemos de uma determinada maneira, mas informa-nos que essas opções estão disponíveis, portanto somos nós que controlamos a aventura. 

Penso que o sistema de level up do jogo é muito inteligente. Embora seja basicamente uma seleção de skill trees em várias categorias onde desbloqueamos coisas para ter acesso a novas, foi adicionado um pequeno twist. Por exemplo, se quisermos desbloquear uma característica (como a Persuasion), teremos que completar um desafio antes de podermos subir de nível novamente, sendo mais um daqueles pormenores que são muito bem-vindos ao jogo. 

Agora também tenho de referir algumas coisas menos conseguidas no jogo (como a I.A que já mencionei), pois não é perfeito como todos desejaríamos. A Bethesda disse que este é o jogo tecnicamente mais sofisticado e livre de bugs no seu historial. E até concordo em parte, mas sejamos sinceros, não será elevar a fasquia muito alta? O jogo tem diversos bugs, e mesmo que em cerca de 40 horas o jogo ficou-me “congelado” por “apenas duas vezes, eu tive ainda uma missão que foi bem complicada de completar, com inimigos que ficarem presos no ar, diálogos que faziam loops e não havia forma de sair disso. 

Depois, existem também imensos ecrãs de Loading, o que no início não me incomodava é uma verdade…, mas com o passar do tempo, começa a ser muito chato ter que levar com ecrãs de Loading em praticamente tudo. Entramos num planeta, Load…, entramos num outpost, Load…, entramos numa estação espacial, Load…, e começa a cansar. Ok que são uns 5/7 segundos, mas faz com que quebre a imersão no jogo.  

De referir ainda a soberba componente sonora, cuidadosamente pensada para cada momento do jogo e que até dá arrepios (pelo menos a mim). Bom exemplo disso está logo na música do ecrã inicial (que é o tema de Starfield), que excelente composição, e que nos dá logo vontade de pegar na nossa nave e partir rumo às estrelas! Se porventura tiverem a Premium Edition do jogo, usem e abusem da Soundtrack (é o que tenho feito confesso).  

Conclusão:

Starfield tem muito, mas muito mais para contar do que apenas aqui escrevi, pois existe mesmo imensa coisa para se fazer. É uma grandiosa viagem por esse cosmos desconhecido, e que fará as delícias dos fãs de sci-fi e RPG´s. Se tivesse que pontuar o jogo, não lhe daria um 10 (pois tem alguns problemas) mas sim um sólido 9, pois está aqui uma verdadeira obra-prima que me conquistou desde os primeiros minutos, e que ainda me vai agarrar por muito mais tempo. Obrigado, Bethesda!