twilight of the gods - destaque

Twilight of the Gods – A brutalidade da mitologia nórdica

Zack Snyder está de volta com mais uma produção e desta vez ele entrega-nos as suas batalhas sangrentas e viscerais na série de animação Twilight of the Gods, disponível na Netflix. 

A série de oito episódios parece ser a resposta da Netflix com a temática nórdica à sua própria série animada baseada no panteão mitológico grego, Blood of Zeus, repleta de deuses com planos engenhosos e mortais corajosos que se unem contra eles. 

Os visuais gloriosos de Twilight of the Gods vêm do estúdio de animação Xilam Animation, que já recebeu bastantes elogios pelo seu aclamado filme de animação, I Lost My Body.   

O uso de animação 2D ao longo da série cria uma sensação quase nostálgica, remetendo a uma era de animação onde era a norma, e não a exceção. Enquanto a maior parte do trabalho anterior de Snyder foi atolado com um uso de cores monótonas e visuais estilo “lamacentos”, Twilight of the Gods é vibrante e cheio de vida, mesmo nos seus momentos mais sombrios. 

A série de animação gira em torno de Sigrid, que parte numa épica aventura para matar o Deus do Trovão, Thor, que assassinou selváticamente toda a sua família na noite em que ela se iria casar com o Rei Leif. A mitologia nórdica é amplamente focada no masculino, o que não é uma surpresa, considerando que a sua sociedade era maioritariamente patriarcal. O que é uma surpresa é que Zack Snyder optou por fazer de Sigrid a protagonista da série. O Rei Leif promete segui-la onde quer que ela o leve, custe o que custar, que é o tipo de devoção cega que estas histórias muitas vezes reservam para as personagens femininas. O Rei Leif tem o seu charme/estilo é um facto, mas Sigrid consegue eclipsar o seu futuro marido nesses “departamentos”. 

twilight of the gods - sigrid

Com Leif ao seu lado, Sigrid ainda consegue reunir uma equipa que também possuem os seus próprios motivos, histórias trágicas e habilidades impressionantes. Isso inclui recrutar  Egill, que domina a “arte” das Runas, ou ainda a poderosa bruxa Seid-Kona, que são talvez os elementos mais notáveis deste grupo de guerreiros improváveis. 

Para além dos mortais que Sigrid recruta, ela encontra um aliado improvável. Loki tem as suas próprias razões para querer Thor fora de cena de uma vez por todas e de todos os deuses nórdicos que Twilight of the Gods apresenta-nos, Loki é, sem dúvida, o que se destaca. Tal como Sigrid, ele sentiu a ira da vingança de Thor contra a sua espécie, e a sua família pagou o preço devido ao simples desejo de ter uma vida própria. Ele é uma figura bastante trágica, e é difícil não sentirmos pena dele (e de querermos que ele se vingue), mesmo quando ele ataca os seus possíveis aliados. O episódio 5, em particular, deve satisfazer todos aqueles que têm “fome” de uma abordagem mais fiel ao God of Mischief. 

twilight of the gods - THOR

A equipa que acompanha Sigrid é bastante robusta e variada (se assim posso dizer). Cada um deles tem uma aparência e voz distintas, mas foi pena não haver tempo suficiente para a série se focar no passado de cada um deles. Seria interessante de se ter explorado mais a fundo o background de cada um dos companheiros de Sigrid. Egill e Loki podem ser os personagens mais memoráveis, mas Hervor e Hel também deixam uma bastante boa impressão.  

A série é exatamente o que se espera quando se trata de ter o “carimbo” de Zack Snyder, especialmente quando se trata de conteúdo adulto. Antes de a série ser lançada, recordo-me que prometeu que a série teria “muito conteúdo sexual”, mas as cenas não são muito chocantes. Sim, há muitos trios, mas todos eles servem para completar o enredo. Quer estejam (literalmente) a despirem-se das inseguranças ou a lançar as bases para uma motivação heroica, a intimidade destes momentos é vital para perceber quem são estas personagens. Quando se trata de violência, o sangue, vísceras e todo o restante gore estão mais na linha da série de animação Castlevania (também disponível na Netflix), do que de Invincible por exemplo. 

twilight of the gods

Para o público que só conhece Thor através do MCU, a visão desta série de animação sobre a divindade que empunha o Mjolnir pode ser um choque. Enquanto a mitologia nórdica apresenta Thor como sendo ambivalente em relação à humanidade, a sua malícia bem documentada em relação aos gigantes ocupa o centro das atenções nesta série e é uma visão inquietante de se ver. A visão de Snyder acerca da mitologia nórdica pode ser muito peculiar, muito dele (e ainda bem que ele teve essa liberdade para o fazer), mas mesmo assim ainda permanece bastante fiel à essência das ideias e costumes associados aos deuses nórdicos.

Bem dentro do gore e lore da série, existem alguns conceitos altamente atraentes com os quais Snyder até parece brincar. Ou seja, frustrando a ideia de que Valhalla é o descanso de um guerreiro depois de morrer no campo de batalha. Em vez disso, é enquadrado que quem morre em batalha é usado depois por um deus vingativo que pouco ou nada se importa com eles. Embora a série seja apresentada como “um mundo mítico de grandes batalhas, grandes feitos e grande desespero”, há elementos na segunda metade da temporada que colocam em questão se este mundo que nos é mostrado é realmente uma versão mítica do nosso próprio mundo em que vivemos. 

twilight of the gods - sigrid and leif

Se já assistiram a Blood of Zeus, mas gostam ainda mais da mitologia nórdica, então Twilight of the Gods é absolutamente imperdível. Se não gostam do estilo de contar histórias muito distinto de Zack Snyder, então esta série não terá tanto o impacto desejado. É, sem dúvida, um dos melhores projetos “originais” de Snyder, talvez porque esteja enraizado em algo que é amplamente familiar para o público, pelo menos aqueles que têm alguma compreensão básica da mitologia nórdica. Esta é uma das melhores séries de animação atualmente disponíveis na Netflix, ideal para se assistir nestes dias friorentos de Inverno