WARTILE – Um tabuleiro em que vikings ganham vida!

Quando se alia o carisma da mitologia nórdica a uma ideia interessante de estratégia dinâmica a expectativa é elevada. Só é pena que, tudo espremido, as falhas impeçam a diversão completa.

Os jogos de estratégia são, em grande parte, jogos de nicho, ou seja, uma fatia gigante de videojogadores por esse Mundo fora faz dos RPG, FPS, jogos de simulação (desportivos ou de automóveis) e jogos de acção, aqueles em que mais dinheiro investem, aos quais se foram juntando os battle royal nos últimos anos. Mas, felizmente, para quem aprecia este género não se pode queixar de não existir ou não terem existido produtos de grande qualidade como a série Civilization, XCOM ou Age of Empires, só para enumerar alguns dos mais famosos, e WARTILEcom a sua temática própria e um toque bastante diferente, é mais um jogo deste estilo.

Em WARTILE (da produtora PlayWood Project Aps) o jogador, na pele de um jovem viking, assume as rédeas da sua aldeia após o falecimento do seu pai “às mãos” de uma misteriosa praga que tem feito várias vítimas (qualquer coincidência com a realidade é pura ficção…), ainda que, desde início, estejam à disposição duas personagens para controlar simultaneamente. Naturalmente que a narrativa da campanha é focada em saber qual a origem do problema e como lhe pôr termo, não sendo nada de transcendente nem que deixe alguém “preso à cadeira” para querer saber o que se irá passar a cada momento, devendo reconhecer-se, no entanto, o mérito de serem feitas várias referências à mitologia nórdica, nomeadamente locais e deuses, o que me agradou.

Onde são concentradas as maiores atenções de WARTILE é claramente no combate. A progressão é feita através da escolha do nível para onde se deve ir de seguida (nada intuitivo, diga-se), que está disposto num mapa Mundo e, após uma contextualização da história feita por um narrador, o jogador é informado de qual é o objectivo principal daquele nível e qual ou quais os objectivos secundários, se houver, que melhorarão a pontuação final da conclusão daquela etapa, existindo mais recompensas por isso. As personagens que podemos controlar são como peças de xadrez, podendo mover-se com rigor uma de cada vez para uma quadrícula específica, ou todas ao mesmo tempo, não com tanta precisão mas, em contrapartida, mais rapidamente se progride. Assim que personagens inimigas se encontram à distância mínima necessária, dependendo da arma que utilizam, automaticamente começam o confronto, sem que seja necessário dar qualquer ordem, o que é a característica mais distintiva deste jogo, levando a uma mistura de estratégia com acção que deve ser tida em atenção e que achei divertida e dinâmica.

Mas há mais uma característica particular: a utilização de cartas. Cada personagem tem uma carta de habilidade própria que pode usar em combate e que pode quebrar a armadura do inimigo, fazer taunt ou arremessar uma arma, infligindo mais dano, por exemplo, sendo que essa carta de habilidade única de cada elemento tem que ser escolhida antes de iniciar a exploração num mapa e, após cada utilização, tem uns segundos de cooldown antes de uma nova utilização.

Além desta habilidade singular, existem outras cinco cartas de habilidade mas da warband, que também têm de ser escolhidas antes e que vão sendo disponibilizadas três de cada vez, de forma aleatória, ou seja, começa-se com três, ao utilizar-se uma, essa carta vai para o deck, e das cinco que escolhemos levar para aquele mapa vem outra “para a mão”, e assim sucessivamente, sendo que cada carta exige uma quantidade própria de pontos de combate (battle points) para poder ser jogada, pontos esses que teremos que coleccionar com cada inimigo derrotado, exigindo-se concentração para não se utilizar, por exemplo, a carta que regenera HP em vão, uma vez que depois terá que se aguardar que essa carta saia outra vez do deck, envolvendo também o factor sorte mas achei todas estas combinações satisfatórias.

Os mapas têm os limites visíveis, de relativamente pequena dimensão, com baús e itens espalhados, bem como armadilhas (por exemplo, gás venenoso ou farpas que prendem os movimentos) que se não forem vistas com atenção, uma personagem que pise uma quadrícula errada perde HP, o que é um aliciante adicional pois pode ser o suficiente para que uma personagem morra, reduzindo a equipa. Os inimigos estão dispostos ao longo do mapa e os objectivos (principal e secundários) estão também espalhados pelos cantos do terreno. Existem save points em lugares fixos que regeneram o HP da party e funcionam como ponto de respawn caso todos os elementos que controlamos percam a vida, conferindo alívio quando se chega até um e, por vezes, são mesmo determinantes entre conseguir concluir com sucesso o nível ou não.

No que concerne ao aspecto gráfico não é, na versão Switch, um jogo que faça “arregalar os olhos” a ninguém, nomeadamente pelos cenários e personagens que não são detalhados ao nível do que é possível perceber que serão em Assassin’s Creed: Valhala, mas isto em modo docked, porque em modo portátil não só se percebe um downgrade nas texturas, como certas informações são quase impossíveis de ler, seja por aparecerem cortadas, seja pela diminuta dimensão da letra, sendo necessário aproximar mesmo junto ao rosto a consola para conseguir perceber, o que me leva a concluir que foi completamente esquecida esta forma de jogar pelos produtores que também não colocaram qualquer funcionalidade touch no jogo.

Asseguro que a informação, no canto superior direito, estava assim no ecrã…

Quanto ao som, existe um narrador que explica os momentos chave da história de uma forma interessante, devendo ressalvar o tom diferente que dá, e que se percebe, quando está a citar o que alguém diz. Nos menus existe uma ou outra música com aquele condão épico que a mitologia nórdica tem e que é inconfundível, porém, na progressão pelos mapas, onde a acção decorre, o que se destaca são sons de lâminas de espadas, de flechas a serem atiradas, da utilização de um escudo para se proteger de um ataque, ou seja, o expectável de acordo com o que é visível que está a acontecer. E só. Achei muito pouco para o tema, que merecia mais dedicação.

Mas o que me agradou menos ainda foi a sensação de ser necessário fazer grind “artificialmente”, porque a progressão normal de nível em nível da história até completar a campanha seria conseguida de uma forma natural caso não fossem desbloqueadas as personagens (que podem ser adquiridas após certos níveis serem ultrapassados) em nível 1, portanto, demasiado mais fracas do que as duas ou três que já utilizamos há mais tempo, por um certo preço, preço esse que é caro e, ainda por cima com menos gear disponível para elas, seja porque poderemos não ter explorado o mapa na íntegra e não ter coleccionado loot que estivesse escondido, seja porque o dinheiro “não estica” e equipamentos bons e necessários para os duelos fortes que surgem são extremamente dispendiosos (tudo dinheiro ingame, sem qualquer microtransacção envolvida).

Resultado: para ter os novos e indispensáveis elementos para a warband em condições de serem úteis, ou se repete níveis anteriores que estarão mais difíceis, ou se recorre a mapas secundários, que só servem mesmo para ganhar experiência. Não sendo os inimigos muito diferentes entre si, rapidamente fiquei aborrecido por me sentir forçado a melhorar personagens que só me foi possível obter em alturas fixas.

 

Conclusão:

WARTILE põe em prática várias boas ideias, pois a mistura de estratégia na disposição das personagens, com a acção mais dinâmica de os ataques ocorrerem de forma automática, e ainda a utilização de um sistema de deck de cartas claramente que resultou. No entanto, a banalidade gráfica e no capítulo do som e, principalmente, uma progressão construída para a repetição sobrepõe-se ao que de bom se conseguir fazer.

 

WARTILE está disponível para Windows PC, PlayStation 4, XBOX One e Nintendo Switch (esta versão tem DLC incluído).