E se numa viagem de fim de curso com amigos, um terramoto te aprisionasse num comboio assombrado?
Esta é a premissa inicial de Re:Turn – One Way Trip, um jogo side-scroller em 2D da Red Ego Games, estúdio londrino indie de jogos de terror (uma nota, o logo deste estúdio é uma águia vermelha – Red Eagle – achei o trocadilho Ego/Eagle engraçado).
Cinco amigos saídos da faculdade resolvem acampar para desanuviarem um bocado antes de começarem a vida adulta. A nossa personagem, Saki, é metade de um dos dois casais do grupo. Temos Sen, o seu namorado (e futuro noivo, pela conversa), Kanae e Kazuki (casal número 2), e Yuuta, a vela. Eis senão quando um terramoto os separa a meio da noite, e um comboio decrépito aparece aparentemente vindo do nada. Saki, como qualquer jovem sã, resolve explorar o comboio (por favor notem aqui o meu sarcasmo).
Coisas estranhas começam a acontecer – sons fantasmagóricos vindos do nada, portas trancadas que, se olharmos pela fechadura, revelam sombras dentro dos quartos, notas escritas por crianças espalhadas pelo chão, uns haiku no mínimo duvidosos, … Isto dá origem a uma série de acontecimentos que fazem com que Saki ande para trás e para a frente pelas carruagens, tentando desvendar os mistérios do comboio e dos seus ocupantes, enquanto é arrastada entre o passado e o presente por uma força que nós próprios desconhecemos.
Apesar da premissa de Re:Turn – One Way Trip ser um jogo de terror, encontramos também muitos puzzles pelo caminho: uns bastante inteligentes que nos fazem puxar pela cabeça (e nos fazem ter um momento ah-ha! quando finalmente chegamos à solução), mas temos também outros que nos fazem andar numa busca infernal pela combinação certa, carruagem atrás de carruagem, para depois voltar atrás, para seguir em frente, e sempre assim. E se forem como eu (memória de peixinho dourado), o mais fácil é tirar uma foto à pista, pois o tempo que levamos até chegar à carruagem certa é o suficiente para a combinação ir à vida.
Re:Turn – One Way Trip não é um jogo excessivamente longo – eu demorei 8 horas até completar a história, com alguma tentativa e erro nos puzzles, e examinando tudo que tinha o ícone da lupa.
Mas não é só de puzzles que este jogo é feito. A atmosfera está muito bem conseguida, e consegue ser ampliada se jogarmos com headphones. Existe sempre aquela sensação que está algo à nossa espera enquanto avançamos pelas carruagens abandonadas, e apesar dos jumpscares não serem uma constante, estão muito bem posicionados – o suficiente para arregalar os olhos de vez em quando. A música é sinistra QB (menos a da carruagem-restaurante, que é alegre o suficiente para dar uma pausa merecida na tensão, mas torna-se cansativo passar pela mesma carruagem vezes e vezes seguidas e termos sempre a mesma música), e os efeitos sonoros estão espetaculares – a minha parte preferida foi ouvir o som diferente dos passos enquanto passávamos de uma carruagem com chão de madeira para uma carruagem com chão de metal.
O estilo visual é também simples o suficiente para ser uma experiência de jogo aprazível, misturando o estilo pixel art com desenhos mais manga quando há diálogos entre os personagens. E estes diálogos são realmente muito importantes, pois é através destes que toda a história é transmitida.
Falando em história, dos pontos mais importantes para mim quando tenho um jogo em mãos: começamos em força, mas à medida que as horas vão passando, apercebemo-nos que há umas falhas na narrativa que nunca são explicadas, decisões tomadas pelas personagens que parecem um pouco fora de contexto, e, lamento dizê-lo, um final completamente anti-climático. Pelo meio temos, no entanto, uma outra personagem que podemos controlar, e histórias dos ocupantes originais do comboio que vale a pena descobrir – histórias essas que levam Saki a pensar nas suas próprias decisões de vida. Apesar disto tudo, são umas boas horas passadas neste mundo estranho e peculiar.
O estúdio proporciona um Discord no qual podemos ir falar diretamente com os devs (estratégia de marketing fantástica, já que faz com que a comunidade se sinta incluída, e eles são bastante responsivos), e há aí um anúncio de um comic que sairá como DLC para explicar a história de amor entre Sen e Saki, e também uma sequela que irá colocar todos os pontos nos is – e estou ansiosa para desvendar todo o mistério deixado no ar.
Conclusão:
Re:Turn – One Way Trip é uma lufada de ar fresco em termos de jogos de terror indie, trocando jumpscares fáceis e visuais 3D escurecidos por uma atmosfera misteriosa e incómoda e a simplicidade dos píxeis. Apesar de deixar muitas perguntas sem resposta, toda a estranheza do que o que se passa na narrativa é o suficiente para nos deixar agarrados até ao fim.
Re:Turn – One Way Trip está disponível para PC, PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch.
Com 5 anos meteu as mãos numa cópia de Tomb Raider II e a partir daí o encanto pelos videojogos só aumentou. Joga maioritariamente RPGs, acção/aventura e terror, tendo um carinho especial por jogos “Choose your own Adventure”. Fangirl da Sony, mas quando ninguém está a ver vai jogando no computador.