Atelier Mysterious Trilogy Deluxe Pack – Se um alquimista entusiasma muita gente, três entusiasmam muito mais

Série de grande longevidade, eis que a trilogia Mysterious de Atelier teve honras de remasterização e compilação num único pack. Para quem gosta de JRPG sem muito “drama”, terá dezenas horas de entretenimento.

Enquanto fã incondicional quer de JRPG (com prevalência para os que optam por combates por turnos), quer de cultura de animação japonesa no geral, nomeadamente anime, sempre acompanhei “de fora” os sucessivos e já de longa data lançamentos da saga Atelier. Nunca, porém, tinha jogado um que fosse. Sabia que se tratavam de jogos focados no sistema da alquimia, não como mera gimmick mas como parte essencial da progressão, que recorriam a protagonistas femininas e que faziam da arte dos desenhos animados japoneses (vulgo anime) a sua aposta no campo visual. Fiquei, entretanto, a saber que utilizavam uma divisão dos seus vários jogos por trilogias, sendo Mysterious uma delas.

Neste contexto, foi com interesse e expectativa que me propus experimentar o pack Atelier Mysterious Trilogy Deluxe, não tendo dado por mal empregue o meu tempo. Para quem tem pouco tempo da azáfama do quotidiano para dedicar a JRPG que são, em regra, jogos com dezenas de horas de história para serem terminados, correndo o risco de até se “perder o fio à meada”, com tantas coisas para aprender, campanhas intrincadas e cheias de acontecimentos a que se tem dedicar grande atenção caso não se queira ficar “à nora” após dias sem jogar, este pacote encaixa muito bem. O adjectivo que melhor encaixa em qualquer uma das histórias é: leve.

Esqueçam aquele cliché de enveredar por uma epopeia com o propósito de salvar o Mundo. Nada disso. O que esta trilogia propõe é que durante o tempo que passem a jogar, façam amigos, aprendam a fazer bom uso da alquimia (o denominador comum a toda esta franchise), recolham ingredientes e, pelo meio, derrotem monstros progressivamente mais poderosos que se irão atravessar pelo vosso caminho.

Começando pelo primeiro dos três, em Atelier Sophie (o primeiro jogo da trilogia), a protagonista, Sophie, depara-se com um misterioso livro, de seu nome Plachta, enquanto prepara uma receita alquimista no atelier da sua avó. Este livro, falante, perdeu a memória e precisa da ajuda de Sophie para a recuperar. A história desenrola-se num registo lento e a conta-gotas, introduzindo aos poucos as personagens que farão parte dos acontecimentos, conseguindo, no entanto, deixar-nos interessados em saber o que virá a seguir.

Por seu turno, em Atelier Firis, controlamos uma jovem de uma pequena cidade subterrânea que anseia por explorar o Mundo, principalmente depois de descobrir que tem um talento para a alquimia, conseguindo, assim, convencer os seus pais a deixá-la ir. Ao contrário de Atelier Sophie, este jogo conta com a implementação de um sistema de time limit, ou seja, o relógio do jogo avança sempre que utilizamos alquimia, recolhemos ingredientes para esse propósito ou exploramos o mapa, o que para quem não está familiarizado (como eu) torna o primeiro impacto um pouco stressante. O limite imposto, no entanto, acaba por ser suficiente para passar os exames que a main quest impõe, podendo explorar sem preocupações novamente depois disso.

No terceiro jogo, Atelier Lydie & Suelle, contrariamente aos dois anteriores, não há um mapa aberto para explorar, mas também não tem o sistema com limite de tempo que existe em Atelier Firis, voltando a permitir um relaxamento na gestão de sidequests pontuais, antes de nos sentirmos apressados a ir ao objectivo principal primeiro. Como o título já deixa a entender, aqui são duas as protagonistas, irmãs gémeas, que têm como principal motivação que o seu atelier de alquimia seja o melhor de todo o reino, ou seja, à semelhança dos dois jogos anteriores, o tema é leve, apimentado em Lydie & Suelle pela rivalidade com uma amiga de infância.

O sistema de alquimia, semelhante aos 3 jogos, não é difícil de entender, sendo mais complexo de dominar. Cada ingrediente passível de ser utilizado, tem uma forma própria, cuja informação é evidente no ecrã de jogo, e é conjugando as diversas formas que os ingredientes assumem que se poderá tirar o máximo da alquimia, fabricando itens mais e mais poderosos, fundamentais para nos auxiliarem nos combates, aliás, quanto melhor se retirar o potencial da alquimia, mais fáceis se tornarão as batalhas.

Quanto ao combate é um agradável turn-based, muito simples de dominar, principalmente para quem está familiarizado, com tutoriais que contêm em poucas palavras os ensinamentos necessários, tornando-se progressivamente entusiasmante à medida que novas personagens são adicionadas à party e vão sendo desbloqueadas novas habilidades.

Em termos sonoros considero que é também, a par do entusiasmo gerado com a criação de objectos melhores com a alquimia, um outro ponto alto, comum a todos os jogos. As melodias acompanham o tom light que os jogos assumem, sendo tão agradáveis de ouvir enquanto se explora as cidades, florestas e demais paisagens, bem como nos combates, marcando um tom mais sério também, quando as batalhas o justificam.

Nota também para a inclusão de todos os DLC que foram lançados para as versões originais, que se traduzem em fatos e personagens jogáveis, por exemplo, além de digital books belíssimos com a arte anime em todo o seu esplendor e que é um óptimo acrescento para quem é apreciador do estilo (como eu).

Por fim fica a referência da localização: para quem apreciar as vozes em japonês, que foi como eu optei por jogar, terá nos 3 jogos esta opção. Para quem pretender dobragens em inglês fiquem a saber que Atelier Lydie & Suelle não vem com essa opção, ao contrário dos outros dois.

Conclusão:

Feita esta análise, em traços gerais, creio que a produtora Gust teve uma ideia de mestre ao escolher uma das suas trilogias e compilá-la num pacote que permite a quem nunca teve contacto com a saga ter aqui um óptimo ponto de partida, com três jogos sólidos, com dezenas de horas e conteúdo e de fácil acompanhamento. Com mais de uma dezena de jogos lançados, Atelier está bem e recomenda-se!