Visage – A nova cara do terror?

“Jogos de terror são a minha cena!” – Núrya pré-Visage.

Sempre tive uma queda por terror – talvez “curiosidade mórbida” seja o termo mais apropriado. Mas há um terror em particular que mexe comigo, e esse é o sobrenatural (talvez devido ao trauma mal resolvido de ter visto o The Ring à noite com 11 anos). Apesar disto, continuo a ver filmes e a jogar jogos do género sem qualquer tipo de problema – mas não estava preparada para  Visage. De todo.

Em 2016, o SadSquare Studio teve uma ideia – fazer um jogo inspirado nos mais aclamados jogos de terror até então, como o mítico P.T. ou Amnesia: The Dark Descent, com o apoio de entusiastas do horror. Seguiu-se uma bem-sucedida campanha no Kickstarter (conseguiram o financiamento 12 dias depois de terem lançado a campanha!), várias versões do jogo foram lançadas em early access, até que no dia 30 de Outubro de 2020, o jogo no seu formato definitivo ficou finalmente disponível. Mesmo a tempo do Halloween.

Fiel ao género, Visage é mais do que um jogo de terror com fantasmas – é um terror psicológico no seu estado mais cru, e nós somos parte activa. O jogo é passado em primeira pessoa, na pele de Dwayne, alguém de quem ao início não temos muita informação. Sabemos que estamos presos numa casa, e algo de errado definitivamente se passa.

O jogo divide-se em três capítulos, que podem ser jogados por qualquer ordem, e contam a história dos antigos habitantes da misteriosa casa: Lucy (que é estranhamente semelhante à Samara de The Ring – por razões mencionadas previamente, este capítulo não me caiu muito bem), Dolores e Rakan. Cada um tem mecânicas diferentes para progredir no jogo, e a casa onde nos encontramos vai-se transformando à medida que a história nos é apresentada, como se a própria fosse mais um personagem – e de certa forma até é, dependendo da interpretação que cada um de nós dá à história. Pelo meio temos imensos puzzles para resolver, enquanto lidamos com o constante stress de manter a nossa sanidade intacta (uma clara influência da mecânica de jogo da saga Amnesia) e fugir a entidades sobrenaturais.

Lucy, és um amor de pessoa.

A história em si, é algo… peculiar. Os devs (uma equipa de 2!!) disseram que deixaram certas situações abertas para interpretação, mas isto faz com que em vez de termos uma história linear, esta espalha-se em várias direções e ficamos sem uma linha concreta – para uns isso é bom, para mim só me deixou confusa. Temos 3 histórias diferentes, e o nosso personagem é o que as liga todas – ou será que não? Vou deixar esta aberta para interpretação também!

O que mais destaco neste jogo é, sem dúvida, a atmosfera. O ambiente está desenhado de maneira a que nunca nos sintamos seguros (aliás, toda eu estava tensa enquanto jogava), e fá-lo de maneira quase poética: começando pela banda sonora, que tem sempre aquele agudo de fundo para mexer ali com os nossos nervos; passando pela iluminação, muitas vezes o suficiente para percebermos onde estamos, mas não o suficiente para conseguirmos ver para onde vamos; e terminando nos efeitos sonoros que, apesar de alguns serem clichés (sussurros, gritos, portas a bater), estão de tal forma colocados e embrenhados no ambiente que a mínima alteração nos deixa com pele de galinha. A maneira como a casa se vai alterando enquanto a exploramos, desafiando todas as leis da física e da lógica, dá aquele toque final a este festival de ansiedade.

Costumo dizer que um jogo de terror não é feito de jump scares, e Visage sabe aproveitá-los. Genuinamente não conseguia prever quando eles iam aparecer, e tenho de dar os parabéns a este jogo, porque nos meus 28 anos de existência, foi o primeiro que me fez soltar um gritinho daqueles que me envergonha.

Mas (e há sempre um mas!) nem tudo são palavras bonitas para Visage. Começando pelo significado do próprio título, as caras (ou os modelos das personagens, vá) estão de tal forma mal renderizados que parece que estamos a jogar um jogo feito para duas gerações anteriores. Falta detalhe, falta textura, e isso tira um bocado a imersão quando nos viramos e de repente temos uma senhora fantasmagórica de meia idade a olhar para nós quase sem pálpebras.

Isto podia ser só um pequeno detalhe numa imensidão de elogios para este jogo. Mas não. Há outra coisa bem mais grave, e que me levou quase a gritar com o jogo logo nos primeiros minutos – a mecânica de inventário. Temos 5 slots que podemos preencher com itens para levar connosco, sendo que os mais usados são os isqueiros (mini-fontes de luz quando a eletricidade é cortada) e os comprimidos (de uma necessidade extrema para manter a sanidade – o que é um detalhe um bocado agridoce quando comparamos com a realidade). Temos também duas mãos (dá jeito!), onde podemos segurar um item em cada. Problema: para tirarmos algo do inventário, não é só clicar num botão, oh não – temos de fazer uma sequência de tal forma que às tantas nos perdemos a trocar itens de mão, guardar no inventário, deixar cair, etc. É o pânico. Existem certos itens chave que às vezes temos de pousar para usar outros que são importantes para a nossa sobrevivência imediata, mas se damos alguns passos, aparece a mensagem que o que deixámos no chão agora está na Storage Room. Não há mapas, portanto boa sorte a encontrá-la! E quando o item que agora se encontra lá era o que precisávamos para avançarmos para a próxima parte da casa, literalmente a 10 passos de distância de onde estamos, fazer o caminho todo para trás torna-se tedioso, já para não dizer frustrante.

Não obstante, é possível aproveitar toda a experiência que Visage tem para oferecer, se nos focarmos nas tarefas a realizar – e na nossa sanidade.

Conclusão:

Apesar de ter alguns contratempos, Visage é sem dúvida um jogo intenso, feito a pensar nos amantes do verdadeiro terror, que nos deixa inquietos durante toda a experiência. É perfeito para quem, como eu, achava que já tinha calo suficiente neste género. Se calhar não é bem assim.

 

Visage está disponível para PC, PlayStation 4 e Xbox One (esta review foi feita com base na experiência de jogo em PlayStaion 4).