The Dark Pictures Anthology: Little Hope – Quem espera, sempre alcança!

A fórmula pode ser a mesma, mas o resultado é completamente diferente.

Devo começar por dizer que sou fã assumida de dramas interativos e, por conseguinte, da Supermassive Games. Desde o momento em que saíram as primeiras imagens para o Until Dawn em 2012 (quando ainda era suposto sair para a PlayStation 3), este estúdio tem estado no meu radar e tenho jogado praticamente tudo o que eles mandaram cá para fora.

Depois de, pessoalmente, ter tido uma experiência mais positiva que a maior parte dos jogadores em Man of Medan (pontuação de 5.7 em 10 segundo as reviews no Metacritic), e depois de ter sido adiado cerca de 6 meses, esperava a segunda entrada da The Dark Pictures Anthology com muita expectativa.

Little Hope baseia-se no que dá à Supermassive a sua notoriedade e consegue melhorá-lo. É um drama interativo, sim. Jogamos como vários personagens, sim. Temos decisões para fazer que influenciam a história de maneira irreversível, sim. Mas acrescenta muito mais à fórmula.

Antes de entrar a fundo na análise, devo dizer que joguei o jogo do princípio ao fim uma vez, por mim mesma. Pode-se experienciar Little Hope de duas maneiras – sozinho ou acompanhado. O primeiro modo (chamado Play Alone) é um playthrough solo, em que vamos acompanhando as personagens, alternando o controlo entre elas. O segundo (Don’t Play Alone) é um modo multiplayer que pode ser jogado localmente ou online, em que os jogadores vão jogando por turnos com a sua personagem, podendo estar um máximo de 5 jogadores ligados.

A trama começa em 1972, onde somos testemunhas de uma terrível desgraça – este prólogo serve para nos familiarizarmos com os comandos, as mecânicas das escolhas e dos quick time events, ou seja, basicamente começar a perceber todo o lore envolvido neste jogo. E claro, apresentar-nos à típica “miúdinha num setting de terror”.

Megan
Uma rapariga com ar creepy num jogo de terror, wow, nunca tinha visto!

Como em Man of Medan, após o prólogo temos uma curta conversa com o Curator – esta é a personagem comum em todos os jogos da The Dark Pictures Anthology. O Curator intervém na história para nos dar umas quantas pistas entre capítulos, e corre por aí a teoria que ele na realidade é uma personificação da Morte – teoria com a qual eu concordo, já agora (afinal, ele é omnipresente, já assumiu que “conhece toda a gente pelo menos uma vez”, e tem uma entrada em cena espetacular ao som da música “A Conversation with Death”, dos Khemmis).

Sejamos sinceros, ele tem todo o ar de entidade sobrenatural.

Depois de toda esta introdução, entramos na história em si. São-nos apresentados os cinco protagonistas, um grupo de estudantes e o seu professor que, depois de um estranho acidente de autocarro em que o motorista desaparece misteriosamente, decidem procurá-lo e pedir ajuda, já que se encontram perdidos numa estrada a caminho de Little Hope a meio da noite.

Cada personagem tem a sua própria personalidade e relações pré-estabelecidas uns com os outros. Temos John, o professor; Angela, a “estudante madura” (esta descrição é algo que ficará comigo para sempre, de tão estranha que é); e Andrew, Taylor e Daniel, três jovens estudantes na casa dos 20.

À medida que a história avança, vamos tendo visões e/ou relatos de duas épocas: 1692 e 1972. Vamos descobrindo histórias paralelas, em que os nossos protagonistas podem interferir por vezes, e ao mesmo tempo vamos desvendando o que raio se passou em Little Hope (e por que é que em 2020 aquilo parece uma cidade fantasma).

Em termos de história, não tenho rigorosamente nada a apontar – a seguir a um bombástico prólogo, a história vai-se desenvolvendo lentamente (como é costume em jogos de terror). Mas é nesta altura que temos realmente um contacto profundo com as personagens, que começamos a entender as suas ambições e relações que mantêm uns com os outros (algo que muita gente se queixou em Man of Medan – não havia apego emocional aos personagens, coisa que em Little Hope se vai desenvolvendo). E o mais curioso é que, apesar de sermos nós a fazer algumas escolhas, estes personagens simplesmente têm vontade própria mesmo quando os “controlamos”, o que revela muito trabalho por parte do estúdio em apresentar personagens credíveis, com qualidades e defeitos – houve uma personagem em particular que eu simplesmente detestei do início ao fim.

Imagem puramente ilustrativa, que em nada tem a ver com a opinião manifestada no parágrafo anterior.

À semelhança de outros jogos de terror, esta cidade fantasma está coberta de nevoeiro. Little Hope pega no clichê de o transformar numa personagem secundária, forçando-nos a seguir pelo caminho que é preciso seguir para a história prosseguir, enquanto cria suspense. Não que seja particularmente mau, apenas é uma mecânica que já se viu inúmeras vezes.

Gosto imenso de prestar atenção à parte sonora em jogos de terror – para mim, 50% de um bom jogo de terror é uma boa banda e efeitos sonoros. Aqui, infelizmente, Little Hope peca um bocado. Para além dos usuais jump scares visuais com um aumento num efeito sonoro do género “ah ha, apanhei-te!” (que pessoalmente não me assustaram, talvez por já ter um calozito nestas andanças), o resto do jogo é passado com sons ambiente ou uma ligeira música, aumentando o ritmo em cenas de perseguição ou de quick time events.

Os cenários, no entanto, estão bem conseguidos. Nota-se uma clara diferença enquanto viajamos entre épocas, com atenção à arquitetura e interiores, a texturas nos tecidos, e a maneira como os mesmos estão envelhecidos quando regressamos ao presente. As próprias personagens têm maneirismos e sotaques diferentes de época para época, o que leva a algumas interações que, apesar de não ser essa a intenção, acabam por nos arrancar um risinho infantil (muitas vezes chamam “Mareh” a uma personagem de seu nome Mary).

 

Conclusão:

Como é hábito em jogos da Supermassive Games, a joia da coroa de Little Hope é a história. Sem vos contar muito, este é um jogo que, após a conclusão da história, nos lembramos de pequenos detalhes e pensamos, “ahhhh pois é, já tinham dado uma pista sobre o que ia acontecer numa cena anterior!”. E o facto de a podermos moldar de maneiras diferentes em cada playthrough é o que me faz voltar a um jogo que já tinha “acabado”.

 

Podem ver o meu playthrough completo aqui.

The Dark Pictures Anthology: Little Hope está disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC.