Judgment – Voltamos a visitar a infame Kamurocho

Voltamos a visitar Kamurocho, agora pelos olhos de um novo protagonista. Sejam bem-vindos a Judgment!

Contém Spoilers

Originalmente lançado em Junho de 2019 para a Playstation 4, Judgment é produzido pelo reconhecido estúdio nipónico Ryu Ga Gotoku, responsável pela série Yakuza, que foi originalmente lançada para a Playstation 2. Em Abril passado, chega a vez da XBOX Series X/S, Playstation 5 e Google Stadia terem, no seu catalogo, esta versão remaster, que apresenta melhorias de desempenho e visuais surpreendentes.

Este novo jogo é um spin-off de Yakuza, que tem a infame Kamurocho (baseada no Red Light district de Tóquio, Kabuki-cho) como “base de operações”, mas desta vez iremos conhecer novas personagens e uma trama um pouco diferente da que estamos habituados.

Em Judgment, iremos seguir a história de Takayuki Yagami, um ex-advogado que desistiu da profissão e que tornou-se detetive particular, devido à absolvição de um cliente que defendia e que era acusado de assassinato. Contudo, e pouco tempo depois, o mesmo cliente que ele tinha ilibado, mata a sua própria namorada e incendeia a sua casa, deixando Yagami consumido pela culpa e de certa forma traumatizado, pois ele é o tipo de pessoa que procura sempre fazer o que está correto.

O nosso protagonista contudo não está sozinho nesta nova vida de detetive, pois está acompanhado por Masaharu Kaito, um ex-yakuza, expulso do clã Matsugane, e que o irá ajudar a investigar uma série de assassinatos, onde três yakuzas do Kyorei Clan, aparecem mortos em plena Kamurocho e onde os rivais, o poderoso Tojo Clan (já muito conhecido também pelos fãs de Yakuza) têm domínio absoluto.
Se apenas se focarem na história principal, podem contar com cerca de 30 horas de jogo. Contudo, o jogo tem muito, mas muito mais para oferecer.

Judgment tem a mistura de alguns elementos de RPG e de beat ‘em up. O nosso protagonista é um hábil praticante da artes marciais (que poderia perfeitamente ter sido treinado pelo Jet Li por exemplo) que possui dois estilos de luta distintos. Um mais eficaz para grupos de adversários (o Crane style), e outro mais eficaz quando estamos a lutar com um só adversário (o Tiger style). Em ambos os estilos de luta, também conseguimos dar uso a alguns movimentos de parkour, como por exemplo pequenas corridas apoiadas nas paredes. As lutas são bastante frenéticas e fluídas, e que nos dá o desejo de querer encontrar mais e mais grupos de adversários para derrotarmos.

Tal como Kazuma Kiryu, principal protagonista dos jogos Yakuza, Yagami também tem à sua disposição EX-Actions, que são essencialmente poderosos Finishing Moves, que continuam simplesmente brutais e agradáveis de se ver. É também possível usarmos nas lutas que teremos pela frente, uma panóplia dos mais variados objetos (por exemplo baldes do lixo, grades de cerveja ou até mesmo bicicletas) como armas para causarmos ainda mais dor aos adversários (e que gozo que dá).

Sempre que terminamos uma luta ou alguma atividade, iremos ganhar pontos SP para serem usados na aquisição de novas técnicas de combate ou de novas habilidades que serão de extrema utilidade, quer seja para “sobreviver” às ruas de Kamurocho, quer seja para tirar o máximo partido de tudo que elas têm para oferecer.

Estão ainda presentes algumas novidades no que respeita à jogabilidade. Para podermos dar uso às capacidades de detetive de Yagami, vamos examinar locais de crimes, seguir os passos dos alvos sem sermos descobertos, tirar fotografias que irão servir como provas ou até mesmo dar uso a diversos disfarces.

Contudo, o estúdio simplificou bastante a componente de investigação. Penso que seria mais recompensador se fosse mais elaborada. Nos diálogos que temos com os suspeitos por exemplo, o jogo não nos dá hipóteses de haver respostas erradas. Claro que existe o bónus de pontos SP se acertarmos nos diálogos pela ordem certa, mas mesmo assim…

Outro bom exemplo é nas missões em que temos de seguir os suspeitos sem sermos detetados, tornam-se também um pouco monótonas e repetitivas.

Teremos também acesso a um drone, que será uma ferramenta de investigação fundamental. Contudo o uso a dar à nossa máquina voadora não fica pela mera investigação, pois também é possível entrarmos em corridas de drones, onde inclusive existe um campeonato com diversos níveis de dificuldade. É possível ainda desbloquear novas peças e opções cosméticas (com bastante variedade diga-se). Uma ótima adição ao jogo na minha modesta opinião.

Um dos pontos fortes de Judgment, é a quantidade de mini-jogos disponíveis. Existe uma variedade de opções para quando queremos “desligar” por uns momentos do trabalho de detetive.
E o que temos então no que toca a mini-jogos? Podemos então visitar os salões de arcada e jogar alguns títulos icónicos da SEGA, como o Fighting Vipers, Virtua Fighter 2 e Virtua Fighter 5 (entre outros). Mas a diversão não acaba aqui, existem ainda casinos clandestinos, dardos, mahjong, baseball e ainda mais uns tantos jogos exclusivos da cultura nipónica.

Mas Judgment ainda tem mais conteúdo para oferecer, falo agora das inúmeras missões secundárias, que nos são apresentadas como casos paralelos para investigarmos. Aqui serão apresentadas pequenas histórias, que podem-nos levar a missões mais sérias e mais exigentes, mas também nos podem levar à mais hilariante das situações, situações que muitas vezes não têm pés nem cabeça. Mas é isto mesmo que o estúdio Ryu Ga Gotoku já nos tem habituado nos seus jogos, que são momentos capazes de soltar uma bela gargalhada, para fugir um pouco ao tom mais sério da história principal.

Sendo um remaster, esta nova versão roda a um framerate de 60 fps, invés dos 30 fps da versão original da Playstation 4. E que bom uso dos 60 fps, pois conseguem tornar o jogo (principalmente nos momentos de luta) super fluido e envolvente, e tudo isto a acontecer em 4K! Os visuais estão absolutamente lindos, com Kamurocho a estar sempre muito movimentada, repleta de cor e cheia de luzes.
No que toca a loadings, e como seria de esperar na nova geração de consolas, estão super rápidos e são praticamente inexistentes. Um bom exemplo disso vê-se quando saímos de um interior de um edifício paras as ruas, a transição é perfeita e pouco ou mesmo nada se nota em termos de carregamento de texturas.

Tal como acontece em Yakuza, há que realçar o design de Judgment. O estilo semi-fotorealista, a atenção ao detalhe das muitas ruas de Kamurocho e a representação fiel de pessoas e costumes é algo que é impossível passar despercebido.

Como bónus, esta versão remasterizada inclui todos os DLC que foram vendidos aquando do lançamento original da versão da Playstation 4. Confesso que um dos DLC, o Ultimate Battle Pack, até me foi útil na fase inicial do jogo, pois inclui diversos itens (por exemplo, aumentar o dano dos nossos ataques ou até mesmo pormos os adversários KO com um só golpe) que deram uma boa ajuda enquanto me habituava às técnicas de luta de Yagami.
Para terem acesso aos DLC, basta dirigirem-se ao escritório e aceder à caixa do correio que se encontra junto à porta, assim não ficam provavelmente como eu fiquei, que já estava pensar que os DLC não estavam presentes no jogo, e se estavam, onde raio é que estavam.

No que respeita à componente sonora, temos excelentes dobragens em Inglês, dignos de um filme. Contudo, Judgment merece (e deve) ser jogado com as vozes originais em Japonês, e temos que dar os parabéns ao estúdio pela sua escolha de atores, que se dedicam a 200% para dar vida às diversas personagens presentes.

 

Conclusão:

Judgment é praticamente obrigatório para os fãs da série Yakuza, mas também é ótimo para quem entra neste “universo partilhado” pela primeira vez. É recompensante acompanhar Yagami na busca de redenção, numa história repleta de momentos marcantes. Mesmo com a sua componente de investigação simplificada, não mancha em nada o trabalho que o estúdio Ryu Ga Gotoku fez.
O sistema de combate simples e eficaz e as toneladas de conteúdo são também dos fatores mais positivos que encontrei. Não esquecendo a cereja no topo do bolo deste remaster, os bem vindos 60 fps com todo o esplendor do 4K!
Venha agora a sequela, Lost Judgment, que também prometer ser mais um sucesso!