The Fabled Woods apresentava-se como uma short story narrativa ao estilo de Gone Home. Eu sugiro outra apresentação: o que jogar quando está complicado de adormecer.
Se já passaram os olhos pelos artigos que vou escrevendo por aqui, sabem que o que mais me puxa num jogo é o seu enredo. Linear, deixado para interpretação, não interessa – desde que seja bom, tudo o resto passa a ser secundário. Quando vos digo que o ambiente é a melhor parte de The Fabled Woods, já dá para prever como esta crítica vai correr…
Vou já arrancar o penso: The Fabled Woods deixou-me desapontada. Tendo apenas visto o trailer de apresentação e a descrição na sua página no Steam, até fiquei expectante. Adorei os walking simulators que foram o Gone Home e What Remains of Edith Finch, tenho um carinho especial pela The Dark Pictures Anthology, e achei que podia dar uma pausa ao meu rerun da trilogia Mass Effect com um joguito que dura cerca de hora e meia. A realidade é que poderia ter gasto os 116 minutos de jogo a descascar cenouras – de certeza que conseguia muito mais sumo.
Tenho de ser justa, porém. The Fabled Woods foi escrito, desenvolvido e produzido pela CyberPunch Studios – ou devo dizer, por Joe Bauer. Sim, esta aventura narrativa é um one-man show, portanto por mais falhas que tenha há que ter em conta o esforço posto por detrás deste projeto.
O jogo até começa bem: estamos num bosque, passarinhos cantam, e uma voz começa a falar connosco. Depois aparecem as típicas instruções de que teclas premir para andar. Estava tudo maravilhoso: o ambiente está bem conseguido, com gráficos mais que capazes para um jogo indie (as mudanças de luz conforme há mais ou menos árvores, as diferenças entre interiores e exteriores, os reflexos, tudo nota 10!), uma voz agradável, barulhos ambientes espetaculares (a diferença entre pisar folhas e solo é notória e quase ASMR).
Depois chegamos a um acampamento onde percebemos que algo aconteceu. Aqui aparece uma nova mecânica, o “remember” – onde fechamos os olhos, e quando os abrimos todo o ambiente está em tons de vermelho. Agora podemos seguir as pistas, que nos levam a passear pelo cenário e nos levam a interagir com certos objetos para que novos caminhos se abram. O problema é que o jogo não explica isto, e por isso passei 20 dos 116 minutos de jogo a tentar perceber o que tinha de fazer.
Em termos de mecânica de jogo, não há muito mais a dizer: é andar pelo cenário, encontrar as zonas onde nos precisamos de lembrar de eventos passados, encontrar o objeto chave, e passar por sequências de “sonho” – onde somos transportados momentaneamente para um mundo obscuro onde temos de seguir um caminho enquanto ouvimos excertos do passado.
Três personagens falam connosco: Larry, Sara e Todd. À medida que vamos andando e vendo o cenário, vamos percebendo a história… Por mais básica que seja. O voice acting de Larry é soberbo, transmitindo uma calma que acompanha bem o nosso passeio pelo bosque, mas Sara não me convenceu. Todd é o intermédio.
A banda sonora do jogo não é nada de fantástico – há uma ou outra música que se destaca porque se mistura bem com o cenário, criando coesão. Há também um “DLC” gratuito – um PDF que contém mais informação sobre os eventos do jogo, mas… meh.
Conclusão: Apesar do trailer fazer parecer o jogo minimamente interessante, The Fabled Woods é um walking simulator básico e confuso. Merece um elogio pelo desenvolvimento a solo, e acredito que com uma equipa dedicada poderia ser muito melhor. Recomendaria apenas pela parte de passear no bosque a ouvir os sons – de resto, é bom para quando precisamos de um boost para ir dormir.
The Fabled Woods está disponível para PC.
Com 5 anos meteu as mãos numa cópia de Tomb Raider II e a partir daí o encanto pelos videojogos só aumentou. Joga maioritariamente RPGs, acção/aventura e terror, tendo um carinho especial por jogos “Choose your own Adventure”. Fangirl da Sony, mas quando ninguém está a ver vai jogando no computador.