In Rays of the Light – Explorando a solidão

Uma lanterna, uma cidade deserta, e mensagens nas paredes – In Rays of the Light é uma aventura pós-apocalíptica que nos faz refletir.

Os one-man show walking simulators estão na moda. Depois de ter experimentado The Fabled Woods, agora foi a vez de In Rays of the Light.

Sergey Noskov é a mente por detrás deste… é complicado definir este jogo. Acima referi-me a ele como walking simulator, mas é muito mais que isso – a exploração e resolução de puzzles são muito importantes aqui. Foi-me apresentado como um survival horror, mas o foco não está na sobrevivência, e o horror é ligeiro. Na realidade, In Rays of the Light acaba por ser mais uma experiência que nos faz pensar um pouco… se não estivermos frustrados pela altura em que os créditos rolam.

Originalmente lançado em 2012 sob o nome The Light, Noskov pega no projeto original e torna a “parábola de autor” (palavras dele) em algo muito mais elaborado. Apresentado para o PC como The Light Remake em 2020, In Rays of the Light estreia agora na nova geração (e na anterior também).

Tudo normal… para quem não tem traumas com filmes de terror.

O jogo lança-nos aos tubarões logo ao início. Só que não há tubarões, e a sensação de ameaça eminente rapidamente é dissipada pela banda sonora calma que entra. Estamos sozinhos numa sala, com uma televisão em estática (não, a Samara do The Ring não faz a sua aparição). Exploramos um bocadinho, experimentamos os controlos (há instruções no menu de pausa) e, ao sair da sala, há uma mensagem na parede e uma lanterna.

Obrigada, caro estranho!

A partir daí, a palavra-chave é exploração. Explorar, explorar, explorar, até arranjarmos a chave para destrancar a porta, perceber o código para destrancar o cadeado, encontrar os itens que faltam para ligar o gerador. Apercebemo-nos rapidamente que provavelmente somos o último humano naquela cidade à medida que exploramos a universidade decadente num subúrbio qualquer russo.

Há sequências que roçam o horror. Considero-as mais claustrofóbicas que aterrorizantes, mas a sensação de pânico está bem conseguida. Vamos construindo o que se passou na nossa ausência através de notas deixadas para trás, escritas por fantasmas anónimos.

Nada preocupada depois de ver esta mensagem… nope.

O ambiente é fantástico. Fiel ao título, as sequências em que vemos a luz a passar pelas janelas e a ser usada para transmitir emoções são sem dúvida o ponto alto do jogo, juntamente com a sensação de solidão que todo o cenário nos traz. Os edifícios a serem lentamente reivindicados pela Natureza, juntamente com o contraste entre a decadência das construções humanas e o crescimento desenfreado (quiçá livre) das plantas é algo visualmente delicioso. Se a isso juntarmos a banda sonora melódica e melancólica de Dmitry Nikolaev, temos a receita perfeita para nos perdermos na exploração de um mundo virtual.

O contraste é o protagonista aqui.

Mas nem tudo são rosas:

  • A câmara é lenta, mesmo mexendo na sensibilidade nas opções (algo problemático com um jogo em first person);
  • Por vezes é preciso encontrar uma agulha num palheiro, figurativamente. Uma chave perdida num mundo enorme, com pouca indicação visual de estarmos a olhar diretamente para ela, é difícil de encontrar e pode levar à frustração;
  • Vemos várias mensagens nas paredes em inglês, mas há outras em russo. Ficamos sem saber o que significam;
  • Quem somos e como chegámos fica por contar.
Deixem isto assentar durante um momento.

Relativamente ao enredo, calculo que cada pessoa terá a sua própria interpretação pois o final é deixado deliberadamente ambíguo. Falando em final, existem 2 – mas aconselho passarem os olhos por um walkthrough para perceberem como chegar ao fim “secreto” (há uma pista numa parede, mas mais uma vez – ambígua).

Conclusão:

In the Rays of the Light é um jogo com troféus fáceis que nos mantém entretidos durante cerca de 2 horas. Leva-nos a pensar no que a Humanidade faz ao planeta e na maneira como lidamos com a Natureza durante um momento. Deixou-me curiosa relativamente ao trabalho de Noskov, e ficarei sem dúvida atenta aos seus próximos projetos.

 

In Rays of the Light está disponível para PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series, Xbox One, Nintendo Switch e PC (sob o nome The Light Remake).