Frostpunk – O gelo das expansões chegou às consolas

Frostpunk foi um dos melhores jogos de 2018, para PC. A sua adaptação às consolas recebeu agora os seus DLC’s.

É sempre bom quando um jogo exclusivo de uma plataforma é adaptado a outras, chegando a um público mais vasto. Frostpunk: Console Edition é mais um desses felizes casos, tendo a sua versão de PC já recebido, no passado, uma adaptação para PS4 e Xbox One. Este jogo, da 11 Bit Studios, estúdio responsável pelo também surpreendentemente interessante This War of Mine, foi lançado originalmente em 2018 e cativou um grande número de jogadores com a sua interessante realidade alternativa e mecanismos de construção de cidade, gestão social e e sobrevivência. O seu relativo sucesso comercial permitiu expandir os conteúdos do jogo com novas expansões. Estas chegaram agora, finalmente, à versão para consolas.

No ano passado, o Alexandre já tinha experimentado e gostado bastante da versão para PC, pelo que decidi explorar a sua versão para PS4.

A realidade alternativa de Frostpunk e a forma como se materializa nos mecanismos do jogo é das mais interessantes que vi nos últimos anos. Estamos no final do século 19 e um fenómeno climático global envolve o mundo num inverno apocalíptico, com as temperaturas a baixarem rapidamente para valores negativos impensáveis (-20º nos dias mais “quentinhos”). Com o fenómeno global a não ter fim à vista, as nações mundiais tentam, desesperadamente, encontrar soluções para a humanidade sobreviver. Sim, é a sobrevivência que está em causa. A Inglaterra constrói umas torres massivas, a que chamou Geradores, e que consomem quantidades enormes de carvão para conseguir criar zonas de calor habitáveis em seu redor. Mas só há um ponto no planeta com reservas de carvão suficientes para os Geradores funcionarem: o Ártico.

Nós assumimos o papel do Capitão, que lidera uma expedição que abandona Londres para chegar ao norte, onde será (esperamos) sustentável levantar um desses Geradores, que transportamos connosco. Após sermos atingidos por uma tempestade, que divide a expedição, deixando uma parte considerável dela perdida na desolação de frio e neve, chegamos a uma cratera gelada onde instalamos o gerador e esperamos desenvolver uma nova cidade, um porto seguro capaz de sobreviver ao longo inverno apocalíptico, a que chamamos Nova Londres.

Agora sim, o divertimento começa, enquanto tentamos alimentar o Gerador, que consome mais carvão que a quantidade de cerveja consumida numa festa universitária, exploramos o território desolado que nos rodeia e tentamos manter a população saudável e a estrutura social intacta. Nova Londres é a última esperança de sobrevivência da humanidade.

Os elementos de jogabilidade de Frostpunk estão implementados, por inteiro, na versão para consola, capturando bem todos os momentos de tensão presentes no jogo original. A 11 Bit Studios fez um bom trabalho com a adaptação do interface do jogo e é fácil realizar todas as tarefas de micro-gestão que o jogo exige, comandando os nossos edifícios, trabalhadores e novas construções.

Como está a temperatura nas várias zonas da cidade? Temos todos os postos de trabalho preenchidos? Quantas pessoas estão doentes e a que velocidade estamos a conseguir tratá-as (ou não)? Como está a previsão meteorológica para os próximos dias? A temperatura vai baixar outra vez e temos de conseguir aumentar os níveis de calor ou vai subir e podemos relaxar um pouco? Já podemos aprovar uma nova lei que dê ferramentas sociais para nos ajudar a manter as pessoas satisfeitas e funcionais? Os nossos scouts já chegaram ao destino, onde esperam encontrar mais sobreviventes ou recursos? Como estão os nossos recursos? Estamos a produzir o suficiente e temos capacidade de armazenamento para tudo? Como está a nossa pesquisa por nova tecnologia?

Em Frostpunk temos de estar sempre em cima de um número enorme de variáveis e nem sempre conseguimos fazer tudo o que queremos e precisamos, tendo constantemente de tomar decisões que sacrificam mais do que o que gostaríamos.

Vamos aprovar uma lei coloca as crianças a trabalhar, dando-nos a mão-de-obra que tanto nos está a faltar para conseguir os recursos necessários para alimentar o Gerador e alimentar toda a população ou vamos aprovar uma lei em que são construídos abrigos de protecção para as crianças, aumentando a satisfação e esperança das pessoas, que podem ir trabalhar descansadas com as suas crianças em boas mãos, mas que nos levam a ter de gastar recursos na construção desses mesmo abrigos e nos limita a mão-de-obra? Vou produzir carvão suficiente para fazer face à vaga de frio dos próximos dias, mas não conseguindo recolher comida suficiente para toda, levando a fome e insatisfação, ou vou alimentar toda a gente, mas deixar a população exposta a maior frio por uns dias, levando a um aumento do número de doentes, que, por sua, vez, são pessoas que deixam de estar disponíveis para preencher postos de trabalho enquanto não se curarem?

E, quando pensamos que temos tudo controlado, um evento imprevisível puxa-nos o tapete debaixo dos pés e temos novas variáveis com que lidar. Frostpunk é um jogo que nos faz roer as unhas da tensão, mas que nos leva a momentos de satisfação elevadíssimos, como poucas vezes senti em videojogos, numa experiências de gestão de sobrevivência extremamente gratificante.

Para tudo isto, os controlos tiveram de ser, naturalmente, ajustados às consolas. Embora não sejam tão rápidos ou precisos como o rato, funcionam bastante bem. Um interface renovado torna as ações que temos de fazer mais intuitivas e os menus radiais são sempre uma solução que funciona bem ao transpor um jogo de PC para consolas. Esta versão oferece ainda um grande número de opções de customização, que não estavam presentes na versão original, que vão desde ajustes de câmara e navegação a sensibilidade do cursor, ajudando a tornar os controlos mais fáceis. Apenas um pormenor me provocou algumas comichões mas nada que comprometesse a experiência de jogo: quando abrimos o menu de um edifício, para navegar dentro das suas opções, temos de usar o D-pad em vez do analógico. Mais vezes que gostaria, continuei a usar o analógico para tentar controlar as opções dentro do menu, levando-me a que, na verdade, saísse do mesmo em vez de o navegar.

Frostpunk: Console Edition tem ainda incluídas todas as expansões já lançadas, o que oferece 3 cenários alternativos para jogar, além do original, expandindo consideravelmente a re-jogabilidade, sem custos adicionais. A versão para consolas traz ainda um modo de jogo Endless, em que enfrentamos o inverno apocalíptico enquanto quisermos e não até a história terminar.

É na qualidade visual que encontramos os elementos menos bem conseguidos desta adaptação. Ao aproximarmos a câmara da nossa cidade, vamos encontrar alguns elementos com menor resolução e menos polidos. Já sabemos que isto é um problema que as adaptações de PC para consolas têm de lidar, mas já jogos que o conseguem melhor que Frostpunk. Contudo, o nível de zoom que estou a falar raramente é utilizado e o jogo absorve-nos na sua gestão de forma tão intensa que nem processamos bem um pixel ou outro mais vincados. Este é, para mim, um falso problema.

 

Conclusão:

A adaptação de Frostpunk: Console Edition às consolas está muito bem conseguida e este é um jogo que merecia um público mais alargado. É um jogo brilhante, que oferece uma experiência de simulação, gestão e sobrevivência ímpares. Quem já tem a versão de PC, não ganha nada em adquirir esta versão, mas os jogadores de consola têm agora ao seu alcance um dos melhores jogos de 2018, agora muito mais completo e com um maior factor de re-jogabilidade com as recente adição dos DLC’s.