Far Cry 6 – Uma Yara Brutal

Far Cry 6 leva-nos a uma terra longínqua, onde uma guerra civil sangrenta consegue levar-nos ao extremo!

Não foram raras as vezes em que me viram criticar, até aqui no SideQuest, a aparição excessiva e a qualidade duvidosa do Far Cry 6, em apresentações digitais. No entanto, a chegada a Yara trouxe-me algumas certezas e outras dúvidas ainda maiores.

O Far Cry 6 é Bom?

Não é habitual, de todo, citarem-se autores de literatura em sites que falam sobre videojogos, e talvez eu possa dar um impulso nesta área. Lobo Antunes disse, numa entrevista, “Eu não quero nem que me compreendam nem que me discutam, quero que apanhem os livros como quem apanha uma febre”. Ora é precisamente este o efeito que o mais recente título da franquia Far Cry nos causa. Perante toda a balbúrdia em torno dos visuais, o jogo emerge com uma história (parâmetro ao qual sou sempre mais sensível) tocante e imersiva. Mais do que a qualidade gráfica na nova geração que o jogo apresenta, foi o facto de ter passado dias a citar frases dos guerrilheiros ou a pensar em Antón Castillo que me ficou mais vincado para a posterioridade.

Contudo, abandonemos o plano mais metafórico, e entremos num plano objetivo e realista do jogo. Eu não sei se este será o melhor jogo da franquia ou não, até porque não os joguei a todos, mas de um aspeto tenho a certeza: agarra os melhores adjetivos do nome Far Cry e transforma-os numa aventura coesa e emocionante, que todos vão querer explorar.

Antes de irmos a características mais específicas, merecem minha referência dois pontos mais gerais: a banda sonora é, de facto, muito boa e torna as missões (ainda) mais emocionantes. Contudo, a inteligência artificial (que já motivou o nome “BugSoft” a voltar a surgir, na comunidade) é um dos pontos fracos do jogo. A IA dos NPC tem vindo a demonstrar-se o calcanhar de Aquiles de qualquer criador de jogos e, cada vez mais, os estúdios são castigados com estes problemas, em versões finais dos jogos.

 

Gameplay

No que diz respeito à jogabilidade do título, sou forçado a reutilizar a palavra imersivo para a descrever. O facto da maioria das sequências se realizarem em primeira pessoa, dá toda uma perspetiva de realismo que vai para além dos gráficos ou das expressões das personagens. Desde os movimentos de descer a subir escadas, a interação com animais (muito presente no jogo) e até a própria dinâmica das armas, tudo fica afetado positivamente, criando uma lógica de maior identidade no jogo.

De realçar também, a certa altura da história, a introdução à terceira pessoa na franquia, de forma opcional.

Gráficos

Desengane-se quem acha que, ao jogar o título na nova geração, vai ser brindado com as sensações que teve quando viu os primeiros trailers. A nível gráfico, principalmente tendo em conta as paisagens e ambientes paradisíacos, o jogo comparta-se mesmo muito bem e exibe um nível superior a todos os outros da série, neste aspeto.

No entanto, o desenho das personagens mantém-se, digamos… Menos bem conseguido! A meu ver, e já com a questão dos gráficos melhorada, a Ubisoft desprezou mais a parte da própria arte do jogo e dos seus intervenientes. O que é, de facto, de lamentar, porque personagens tão vincadas e absurdas mereciam uma representação mais interessante ao longo das cutscenes.

Não sendo tão mau, a nível gráfico, como se esperava, Far Cry 6 abre a porta de que poderia ser uma experiência ainda melhor, caso as suas personagens tivessem sido mais bem trabalhadas. Ainda assim, há outros fatores que compensam…

História

Desde o esplendoroso trailer de revelação (um dos melhores dos últimos tempos, a batalhar com Hellblade 2) que apontei a história como uma das potenciais vencedoras do ano de 2021. Não me enganei!

Confesso que não sou nada fácil de convencer neste parâmetro. Há que me mostrar que tudo o que vi em séries, livros e até noutros jogos pode ser esquecido e, principalmente, ultrapassado por este novo título.

A história é bastante assente nas personagens irreverentes e forçosamente “malucas” que nos entram pelo ecrã. Porém, e a contrastar com toda esta lógica mais volátil, há, no extremo oposto, um vilão respeitoso e imponente. Antón Castillo (interpretado pelo ator Giancarlo Esposito) dá seguimento a uma premissa que já se torna quase consensual: o Far Cry tem os melhores vilões do mundo dos jogos! Antón é, obviamente, mau. Mais do que isso é completo, é inteligente, traumatizado, mas de ideias fixas e intransponíveis. O final do jogo (que não revelarei por questões compreensíveis) mostra justamente que ninguém o conseguiu derrubar. De todas as batalhas, ele nunca quis perder nenhuma. E por falar em final, até nesse aspeto, uma personagem tão consistente como o ditador de Yara, consegue surpreender-nos com um verdadeiro golpe de teatro!

 

Conclusão:

Far Cry 6 assinala o regresso da lendária franquia, agarrando tudo aquilo que os seus antecessores tinham de melhor: jogabilidade imersiva, missões intensas e um vilão marcante. Fintando as primeiras apresentações, a Ubisoft entrega um jogo muito bem conseguido, sendo já um destaque deste 2021!