Hazel Sky é um jogo de exploração e puzzles feito pelas mãos de 6 developers Brasileiros.
Quando vi o trailer de Hazel Sky pela primeira vez, fiquei com a sensação que seria daqueles jogos que gostaria de deitar a mão ao fim de um dia de trabalho, para relaxar. Depois fui aos comentários: 90% eram em Português do Brasil. Fiquei curiosa.
Foi assim que descobri que o estúdio Coffee Addict é composto por seis developers em Santa Catarina, no Brasil. Hazel Sky é o seu segundo jogo, anunciado originalmente em 2020. Mas todos sabemos como foi 2020, não é verdade? Durante este tempo, os devs ouviram os testers e foram comunicando com a comunidade, e muita coisa foi mudada e aprimorada (basta olhar para a página da comunidade no Steam). Estava na altura de jogar.
O que me surpreendeu de rajada assim que vejo o menu principal é a forma como a luz é usada. A forma como ela dança pelo ecrã, iluminando e obscurecendo certas partes do cenário. Um pôr do sol numa janela de escritório. Pacífico. Pareceu-me um bom prognóstico.
Enquanto desço para as opções, sou agraciada com acordes de guitarra de cada vez que mudo de palavra. Certifico-me que o áudio está em Português do Brasil (só para experenciar o jogo na língua nativa dos developers). Começo um novo jogo. O primeiro monólogo deixou-me logo de pé atrás: o voice acting soava robótico, sem emoção. Mas continuei (spoiler alert: ao fim de 2 horas decidi trocar para Inglês – infelizmente o voice acting é igualmente penoso, portanto reverti a minha decisão). Após uma tortuosa exposição de mundo que pouco nos elucida, é-nos dado o controlo de Shane Casey – um rapaz que tem de passar várias provas para se fazer Engenheiro.
Shane é originário da cidade flutuante Gideon, e ser Engenheiro é uma das posições mais importantes que se pode ter (até porque falar de artes é quase proibido). Para ser sincera, o plot de Hazel Sky é um bocado confuso se forem como eu e não estiverem com paciência de explorar o lore. Conseguimos perceber mais ou menos o que se passa através de monólogos de personagens (com quem vamos jogando pontualmente a meio da história) e também através do diálogo de Shane e Erin, a rapariga mistério que comunica connosco através do rádio. No entanto, os diálogos entre estas duas personagens e as outras transmissões de rádio que vamos ouvindo dão bom nome ao ditado “muita parra, pouca uva” – são arrastados, lentos, e com pouquíssima informação. Algo que me deixou frustrada foi quando temos de falar pelo rádio com Erin: algo é ativado no cérebro de pássaro de Shane e ele deixa de conseguir correr, só se mexe lentamente pelo cenário. O sumo da história está em documentos (livros, basicamente) que são longos, pelo menos quatro páginas. E isso torna-se ligeiramente entediante.
O que brilha em Hazel Sky é o mundo em si e os puzzles. Vamos percorrendo ilhas em que o nosso objectivo é encontrar um veículo avariado, a sua blueprint, e depois partimos à descoberta dos materiais para o arranjar. Arranjar estes materiais faz-nos explorar a ilha e interagir com outras ferramentas, tudo isto sem grandes pistas. Não que isso torne o jogo mais difícil, até nos ajuda a apreciar melhor o mundo. Para além de arranjarmos veículos, temos também de fazer upgrade a ferramentas e desbloquear áreas que nos levam aos sítios certos. Basicamente, temos de pensar como um Engenheiro e entrar em modo Resolução de Problemas.
No meio desta exploração vamos encontrando também coleccionáveis, nomeadamente porta-chaves. Um detalhe tão pequeno mas que eu adorei profundamente: assim que encontramos um, ele é adicionado à nossa mochila. E depois lá está ele, pendurado e a abanar enquanto corremos (ou tentamos) de um lado para o outro naquela ilha. É uma recompensa visual que acho importante. Falando em recompensas visuais, outro detalhe que acho amoroso é o facto de sairmos da água e o nosso ecrã estar repleto de gotas.
Voltando um bocado à questão da luz, o ambiente continua a ser perfeitamente iluminado ao longo dos diferentes ambientes, sejam eles nas ilhas, debaixo de água ou em canais subterrâneos. O próprio jogo está cheio de cor, com uma animação a roçar o cartoonesco sem ser demasiado (no entanto isto faz também com que algumas expressões faciais sejam um pouco estranhas). O som ambiente evoca muito o setting em si (especialmente na praia, onde ouvimos gaivotas a grasnar incessantemente) e a banda sonora é leve, o que contribui para aquela sensação de paz que referi anteriormente. Aliás, todos estes elementos estão tão perfeitamente conjugados entre si que consegui manter-me calma enquanto esperava que o Shane e a Erin acabassem de ter uma sessão de gritos ao rádio só porque sim (não, não estou a gozar). Os devs até conseguiram fazer com que nadar pelas águas sem qualquer motivo aparente fosse aprazível (até aparecer um tubarão e nos comer – mas hey, achievement unlocked!).
Se tentarmos tirar conclusões da história de Hazel Sky, penso que podemos dizer que é uma história sobre o que a sociedade espera de nós versus o que nós queremos fazer enquanto pessoas. Será que vale a pena desafiar… ou seguimos o caminho que alguém traçou por nós?
Conclusão:
Hazel Sky é um jogo para relaxar, explorar e resolver puzzles. Tem um tempo de jogo limitado (por volta de 5h), um voice acting que podia ser melhor e uma história meio confusa para quem não tem paciência de ouvir/ler todos os documentos. No entanto, não deixa de ser uma boa experiência criada por apenas 6 amantes de videojogos, com visuais bonitos e um gameplay simples.
Hazel Sky está disponível para PC, PlayStation, Xbox e Nintendo Switch.
Com 5 anos meteu as mãos numa cópia de Tomb Raider II e a partir daí o encanto pelos videojogos só aumentou. Joga maioritariamente RPGs, acção/aventura e terror, tendo um carinho especial por jogos “Choose your own Adventure”. Fangirl da Sony, mas quando ninguém está a ver vai jogando no computador.