“Gostaria de usar meu expertise para ajudar o mercado português de games” – Entrevista a Fernanda Domingues

Seu nome não passa despercebido no cenário mundial de videojogos: Fernanda Domingues é uma profissional de comunicação dedicada à indústria de games brasileira há 25 anos no Brasil, pioneira, desbravadora de um mercado dominado pelos homens.

Fernanda Domingues trabalha também com e-sports desde que essa crescente chegou ao Brasil, lá pelos idos de 2012, quando teve a honra de participar da instalação da Riot Games como responsável pela assessoria de imprensa. Dirige a FD Comunicação, empresa de assessoria de imprensa, mídias sociais e consultoria exclusiva para a área de games e de e-sports, que em 2022 completou 25 anos de atividades.

Com um histórico de mais de 1000 jogos lançados no Brasil, a FD Comunicação tem em seu portifólio empresas como Riot, Valve, Capcom, Bandai Namco, Bethesda, Zynga, Amazon e Niantic (Pokémon:GO). É a agência do projeto de eSports GGWP, da Ambev e também cuida dos interesses do Zangado, um dos principais influenciadores de games do Brasil que possui mais de de quatro milhões de inscritos no Youtube (pessoalmente, um dos meus favoritos – abração Thiago!)

Como forma de partilhar seu conhecimento, Fernanda Domingues decidiu dar aulas no primeiro curso de  business de e-sports: E-Sports: a Nova Arena dos Negócios, lançado em 2018. Realizou ainda a primeira Pesquisa Game Latam, que disponibiliza hábitos de consumo dos gamers no Brasil e América Latina, sendo escolhida pelo seu envolvimento e paixão como “Top Voice” pelo site LinkedIn em 2020.

Fernanda Domingues, amiga do grupo Sidequest, separou uns minutos na sua extensa agenda para falar connosco nesta pequena entrevista.

Sidequest – Obrigado Fernanda! Como foi ter criado com sucesso 25 anos atrás uma empresa de representação sendo uma mulher pioneira actuando num ambiente que era tão masculino como das consolas e videojogos?

Fernanda Domingues – Obrigada Elio, pela oportunidade de contar um pouco da minha história aos gamers de Portugal! No fim dos anos 90, depois de passar pelas redações dos maiores jornais do Brasil, eu decidi empreender e abri a minha agência de relações públicas focada em TI. Alguns anos depois tive a oportunidade de atender uma distribuidora de games chamada MSD Multimídia e enxerguei uma oportunidade em um mercado que estava apenas começando: o de games.

De lá pra cá esse mercado só cresceu e se você olhar o carrossel dos títulos que eu trabalhei (está no site da Fd Comunicação) vai perceber que a história da minha empresa se confunde com a história dos games no Brasil. Sobre o fato de ser mulher sempre tive ajuda de meus parceiros homens que acreditavam no meu potencial profissional. Também pode ser que uma empresa ou outra possa não ter me contratado pelo facto de eu ser mulher, mas isso deve ter passado despercebido. Agora é que esses preconceitos estão mais em evidência! Por exemplo faz uns cinco anos que fui maltratada pelo diretor latino de uma empresa japonesa muito famosa, gritando e apontando o dedo pra mim! Nem levei por esse lado de preconceito, embora meu assistente tenha achado que era isso. Levantei, fui embora e não voltei mais!

Aproveito para deixar um recado a todos: trabalhar para grandes empresas é muito importante mas às vezes temos de abrir mão disso pela nossa saúde e dos demais funcionários porque eles são a minha maior alegria. Vi cada um deles crescer na profissão e na vida (isso parece coisa de mulher né? (risos). É o meu jeito de fazer negócios. Com o coração e usando minha intuição…

 

SQ – Das empresas e jogos conhecidos, qual dos lançamentos poderia indicar como aquele que mais te marcou positivamente?

FD – Muitos marcaram. 2012 foi o ano da virada na FD Comunicação. Deixamos de trabalhar para as distribuidoras e começamos a atender direto as publishers. LOL (League of Legends) foi um dos primeiros e tem uma história curiosa: um brasileiro que morava nos Estados Unidos que trouxe a Riot pro Brasil… Ele me procurou, mostrou aquele jogo “diferente”, fiquei pensando se conseguiria algum resultado na mídia, mas como a agência era especializada em games, aceitei o desafio! O resto nem preciso contar né? O League of Legends é sucesso até hoje, no Brasil e no mundo todo. (risos)

 

SQ – Me lembro nos anos 90 o lançamento do STEAM, a plataforma da Valve que prometia o futuro e nós, mero jogadores de Half Life (e dos mods Counter Strike e Day of Defeat), duvidávamos. Afinal o Gabe Newell estava mais do que certo. Qual você acredita que será o próximo passo nesse universo futuro e incerto dos videojogos, os metaversos?

FD – O jogo como serviço já está ganhando espaço. Por uma assinatura mensal você joga vários títulos. A Microsoft, com o Xbox, e a Sony com o Playstation travam uma batalha há alguns anos usando seus exclusivos para atrair os jogadores. Aqui no Brasil os videogames são muito caros, então o jogador tem de escolher um único e costuma fazer isso com base nas suas franquias de jogos preferidas. Amazon Prime por exemplo é mais democrático e oferece games de PC de muitas publishers todo mês, incluindo LoL, Assassin´s Creed e etc. Penso que o próximo passo será o fim das consolas… O Xbox Gamepass já oferece jogos na nuvem e o jogador não precisa sequer de uma consola pra jogar, podendo inclusive usar o controle do Xbox no PC ou telemóvel ou até teclado e rato do PC…O metaverso também é relevante mas a maioria dos estúdios e jogadores ainda têm muitas dúvidas em relação à monetização por blockchain e NFTs.

 

SQ – Poderia nos contar um pouco da sua experiência em participar e organizar grandes  eventos para lançamentos de games, feiras como os B.I.G. Festival e a BGS Brasil Game Show que hoje marcam o ritmo dos acontecimentos do Brasil para o mundo?

FD – Sempre gostei muito de eventos e agenciar o Zangado deu uma oportunidade de conhecer todos os que aconteciam pelo Brasil. Em 2018 por exemplo o levei à E3, que é a maior feira de games do Ocidente e acontece em Los Angeles. Há dez anos vou pra lá! Durante cinco anos fiz a divulgação do B.I.G. e sempre é muito bom poder ajudar os devs locais as mostrar seus trabalhos e assim ajudar o mercado como um todo a crescer. Acompanho a B.G.S. desde que ainda era uma feira pequena no Rio de Janeiro e já fiz a divulgação de alguns clientes também em São Paulo. Foi muito interessante ver esse crescimento! A CCXP do Brasil também, hoje é a maior do mundo!  Trabalhar nessas feiras e eventos é cansativo mas vale a pena. Agora, se for pela emoção, eu prefiro os eventos “menores”, pra 50 mil pessoas, como o SANA, no Ceará e o Anime Friends, em São Paulo, porque dá pra comunicar melhor. Eu sempre fico boaquiaberta de ver a animação do público, que vai de cosplay, vestidos e maquiados como os seus personagens prediletos. O astral é muito bom. Eu adoro! Uma vez uma fã pediu para o Zangado autografar no seu peito. Nunca esqueci. (risos)

 

SQ – Dentre os youtubers com mais qualidade de conteúdo, uma raridade nos dias de hoje, o Zangado segue há anos como um dos preferidos deste autor e também de muitos  fãs portugueses. Como é agenciar um talento desses?

FD – Sim ele tem quase dez por cento dos seus fãs em Portugal, o que dá mais de 300 mil gamers. Trabalhar pra ele é uma privilégio! O Thiago é um profissional muito responsável e sempre cumpre o que se compromete a fazer. Ele nunca mente e se você assistir um vídeo dele pode ter certeza de que aquela é sua opinião, você concorde ou não com ela. Eu sou agente dele há sete anos e antes da pandemia viajamos pelo Brasil todo em eventos geeks e gamers. Em cada um deles eu fiquei muito orgulhosa em ver o carinho que ele tem pelos fãs e vice-versa.

 

SQ – Ser considerada “Top Voice” pelo site profissional Linkedin não é para qualquer um, muito menos sem perder a simpatia e humildade com fãs e clientes, que é a sua marca pessoal. Agora partilhando conhecimentos como professora de e-sports business, o que mais falta para adicionar ao seu currículo que vc gostaria de conquistar?

FD – Quero conquistar Portugal! Gostaria de usar meu expertise para ajudar o mercado português de games e também oferecer um suporte para o mercado global estar aí. Agradeço os elogios, mas tenho de ser sincera: redes sociais são para que possamos nos relacionar com pessoas que têm o mesmo interesse que nós então se você só postar e deixar os seguidores a ver navios o que vai ganhar com isso? O LinkedIn não me remunera, mas abre oportunidade de “falar” com pessoas do mundo todo. Agora estou com um novo projeto no meu LinkedIn fazendo infográficos com informações sobre o mercado brasileiro de games. O boom dos games tem levado muitas empresas e profissionais a se tornarem experts e postarem informações equivocadas. Ai essa info é reproduzida na Internet e vira fato. 

 

SQ – Gostaria de te desafiar a empreender em Portugal, há muitas miudas a trabalhar como  youtubers, influencers, gamers, repórteres e jornalistas nessa área ainda tão masculina. Aliás, com base na sua carreira meteórica e expertise de anos de mercado, quais conselhos ofereceria a elas?

FD – As miudas são muito autosuficentes hoje, batalham seu espaço e seguem em frente. Meu conselho é não levar ofensas pelo lado pessoal. A comunidade gamer é muito tóxica, infelizmente. Contra isso não há o que fazer senão denunciar. Apenas as publishers tem o poder de amenizar impondo punições aos jogadores. Uma coisa que é certa é que quando uma pessoa te ofende se você não revidar, ela perde. Se eu estivesse começando hoje faria como o rapper Lil Nas X, recém-nomeado presidente do LoL, que mandou entregar pizzas aos manifestantes protestando na porta de seu show.

 

SQ – Muito obrigado Fernanda Domingues, seja sempre bem-vinda quando quiser retornar a Portugal! Recomendo aos leitores assistir à entrevista de 2020 mas que tem muitos detalhes incríveis dessa história de sucesso.

FD – Eu que agradeço! Você escolheu o video do Overplay que é de outro excelente empreendedor brasileiro de games. Eles fazem um trabalho excelente, direto da Paraíba. Obrigada Portugal, Obrigada Sidequest e até breve Sigam meu Linkedin:

https://www.linkedin.com/in/fdcomunicacao/