Marvel Midnight Suns – Combates por turnos no seu melhor | Análise

Se existe um género de jogo que adoro são os de combates por turnos. E se existe outra coisa que também gosto bastante são os heróis e vilões da Marvel. Estes dois fatores juntos dão assim origem a Marvel Midnight Suns, um jogo que os fãs de super-heróis não podem perder. 

Esta nova aposta no universo dos super-heróis foi desenvolvida pela Firaxis, a mesma que nos trouxe X-COM Enemy Unknown, o excelente X-COM 2, não esquecendo ainda X-COM Chimera Squad. Em todos eles tenho horas e horas de jogo acumuladas, e em Marvel Midnight Suns estou a ir pelo mesmo caminho, onde já levo perto de 30 horas de jogo e ainda muita coisa está a acontecer. Mas então do que se trata este novo jogo da produtora norte americana? 

Se jogaram os jogos X-COM, é meio caminho andado, pois vão estar confortáveis com os combates por turnos e respetivas estratégias, só que aqui temos ao nosso dispor diversos heróis da Marvel, onde cada um deles tem habilidades distintas e modos de jogo totalmente diferentes uns dos outros, o que contribui para um gameplay diversificado, evitando assim que o jogo se torne monótono conforme as horas de jogo vão avançando. 

Para quem não está a par, o jogo da Firaxis é baseado em Rise of the Midnight Sons, um crossover bastante peculiar e esquecido do início dos anos 90 que reuniu muitos dos personagens sobrenaturais da Marvel para lutar contra  Lilith, que é conhecida por ser a Mother of demons. Tal como na banda desenhada em que se baseia, o jogo tem como ponto de partida a ressurreição de Lilith, que assola o mundo com as suas hordas de demónios, e cabe assim ao nosso grupo de super-heróis combate-los em numerosas batalhas e missões. 

Nós controlamos Hunter, uma personagem criada exclusivamente para Marvel Midnight Suns, cuja aparência e sexo podemos personalizar (num editor um pouco limitado). O que é realmente interessante é que na realidade trata-se do filho (ou filha) de Lilith, algo que dá ao jogo uma história bem construida e aprofundada e que pelo meio ainda nos vai dar um bom número de dilemas. 

A Firaxis esteve muito bem ao criar uma enorme variedade de situações (e a um bom ritmo diga-se), estando assim constantemente a encorajar-nos a jogar apenas por curiosidade do que possa acontecer a seguir. No final de contas, o jogo consegue dar a sensação de estarmos a travar uma guerra em grande escala, contra um inimigo incrivelmente poderoso, que parece estar sempre vários passos à frente. E eu a julgar que o facto de ter a disposição heróis com o Dr. Strange ou o Iron Man   que as coisas iam ser fáceis. Mas é isto que fazem os jogos da Firaxis serem bons, conseguem cativar o jogador por horas a fio. 

E por falar em heróis, um dos grandes sucessos é que não se concentra apenas nos heróis mais populares da Marvel, pois existe um roster bastante variado. Há espaço claro para grandes ícones como o Spider-Man, e os acima mencionados Dr. Strange e Iron Man, mas também marcam presença personagens que não são tão conhecidos e que estão gradualmente a conquistar o seu público alvo, como Robbie Reyes (o Ghost Rider), Nico Minoru ou Magik. É certo que podia haver mais uns tantos heróis à disposição, dada à ampla variedade de personagens da Marvel. Se tiverem adquirido o Season Pass ou a Legendary Edition do jogo, vão ter acesso no futuro a mais quatro personagens (Storm, Morbius, Deadpool e Venom), mas mesmo assim havia espaço para mais heróis, como por exemplo Dr.Voodoo, Black Panther, Black Widow e até mesmo para os Fantastic 4. 

A Firaxis captou perfeitamente a essência e o espírito de todas as personagens, por isso mantêm intacto o seu carisma habitual (o Tony Stark então está qualquer coisa) e é muito interessante vê-los interagir uns com os outros, algo muito importante num jogo com estas características. E isto também se aplica aos vilões. 

Em relação a jogabilidade de Marvel Midnight Suns, ela está dividida em duas partes muito bem diferenciadas. A primeira é referente a Abbey (ou Abadia se preferirem a tradução), a nossa base de operações através da qual podemos nos aceitar missões, treinar personagens, fazer pesquisas de novos projetos para a Abbey e também para as batalhas e até podemos conversar com outros personagens para aumentar nosso nível de amizade com eles. Além disso, também é possível explorar os seus arredores, uma gigantesca floresta com uma infinidade de pequenos quebra-cabeças, testes e segredos que nos ajudarão a “mergulhar” no enredo do jogo. 

Tal como nos jogos X-COM, aqui também podemos ter acesso a novas funcionalidades para a nossa base de operações, como uma área de treino onde podemos reforçar as nossas competências, uma forja onde podemos fazer pesquisas para adquirir novas vantagens e melhorar as nossas instalações ou um centro de comando a partir do qual podemos enviar os nossos heróis em missões para ganhar recursos extra, e ista apenas para citar apenas alguns exemplos de tudo o que iremos desbloqueando à medida que avançamos. E é mesmo muita coisa acreditem. 

Um aspeto a ter em conta é que o jogo nos dá total liberdade para definir o nosso ritmo e decidir o que queremos fazer em cada momento, por isso quase todas as atividades disponíveis na Abbey são opcionais. Desta forma, se a componente social que foi introduzida não vos chama a atenção e preferem ir diretamente para as batalhas e avançar na aventura, podem fazê-lo, algo que também é aplicável a tudo relacionado com a exploração da base e os seus arredores. Contudo, eu recomendo que se jogue desta forma, já que investir tempo com os restantes companheiros acaba sempre por ser compensatório. Entre as recompensas, teremos acesso a novas passive skills que nos vão dar jeito nas batalhas mais exigente, bem como alguns itens cosméticos para cada personagem, incluindo para o Hunter. Mas é bom de ver que o jogo não nos força a “fazer” aquilo que podemos não gostar. 

Queria também destacar a enorme quantidade de conteúdo que o jogo possui. Existem dezenas de milhares de linhas de diálogo e a maioria delas é totalmente opcional, portanto podemos perder uma boa percentagem do jogo se pularmos as conversas e eventos com nossos companheiros. Pode parecer exagero, mas este jogo pode tornar-se “avassalador” para alguns jogadores, dada a quantidade de sistemas inter-relacionados que possui e a quantidade de coisas para disponíveis para fazer. 

Existem vários níveis de dificuldade, contudo no princípio apenas estejam disponíveis Easy e Normal. À medida que formos avançando vamos desbloquear dificuldades cada vez maiores que também irão aumentar nossas recompensas e a experiência obtida se aceitarmos o desafio. Se no modo de dificuldade normal as batalhas já são interessantes e equilibradas, imaginem então na dificuldade Heroic II (que foi o máximo que experimentei)…, para mim já se tornou quase impossível de vencer, portanto já imagino que nas dificuldades superiores seria o meu fim…. 

A segunda parte da jogabilidade de Marvel Midnight Suns é o seu sistema combates, que para mim é um dos seus grandes trunfos. Eles são feitos por turnos, embora em vez de nos oferecer um copy/paste de X-COM, a Firaxis optou por um sistema de jogo completamente novo baseado em cartas. Desta forma, formaremos uma equipa de três heróis com os quais teremos que cumprir os objetivos que nos são indicados em cada missão, como por exemplo proteger um dispositivo por vários turnos, roubar artefactos vitais para a nossa operação, capturar agentes inimigos da Hydra ou até mesmo derrotar um Boss que de vez em quando nos surpreende no meio das missões que referi anteriormente.  

Apesar do sistema de combate funcionar com cartas, o fator aleatório do jogo parece bem mais reduzido e contido do que em X-COM, já que as cartas farão sempre o que dizem que fazem, pois aqui não existe uma probabilidade de se falhar os ataques, quer da nossa parte, quer da parte inimiga. 

As “arenas” são quase sempre muito pequenas e fechadas e ao contrário do que tem sido comum no género, não são divididas em pequenos quadrados ou em forma de tabuleiro, já que podemos chegar a qualquer ponto do mapa com qualquer ação que queiramos realizar. Aqui não existem covers nem percentagens de acerto, oferecendo-nos batalhas mais diretas e duras onde a estratégia reside quase inteiramente no bom uso das nossas cartas, em saber priorizar alvos e em contrariar os nossos adversário para que quando chegar o momento na hora de atacar, o dano que recebemos seja o menor possível. 

Para que possam entender como se joga, cada personagem possui um baralho de 8 cartas, que passam a representar as suas habilidades e técnicas especiais, por isso todas as suas cartas são sempre exclusivas de cada um. Quando lutamos, fazermos draw de cartas a cada turno de um baralho formado por todas as cartas que os membros de nosso esquadrão equiparam até termos uma mão de seis, e temos sempre a possibilidade de descartar até duas cartas por turno para fazermos novos draws e tentar obter uma carta que seja mais útil para nós.  

Por sua vez, as cartas são divididas em três tipos diferentes: ataques, técnicas e heróicas. As de ataque são usadas ​​para causar dano, as de técnicas geralmente consistem em dar-nos algum boost benéficos de vários tipos, enquanto as heroicas permitem usar as habilidades mais poderosas de cada um de nossos heróis. Obviamente, estas últimas só podem ser usadas consumindo os pontos de heroísmo que obtemos ao usar as cartas de ataque e técnica. 

A nível gráfico, o jogo não está com um detalhe visual de um God of War: Ragnarök, mas não desilude e lembra inevitavelmente o que costumamos ver nos filmes da Marvel Studios. Graças a isso, ver os nossos heróis em ação é um espetáculo que consegue transmitir toda a sua força a cada golpe ou técnica que executam. Além disso, as arenas de combate estão repletas de detalhes, e podemos inclusive tirar proveito delas para atacar, graças aos environmental attacks (portanto se virem um poste de iluminação por exemplo, ele pode ser usado para causar dano aos inimigos). Mas cuidado, que os adversários também podem tirar proveito desse fator também.

De realçar ainda que as sequências de vídeo são espetaculares e estão cuidadosamente trabalhadas, assim como a execução dos nossos ataques e técnicas especiais. Marvel Midnight Suns também nos oferece uma banda sonora épica que acompanha na perfeição toda a ação, potencializando assim a intensidade de cada batalha e acrescentando um toque de mistério quando necessário. 

Como nota extra, e se quiserem perceber como heróis como Blade, Ghost Rider e companhia foram recrutados para os Midnight Suns, podem ver as diversas Prequel Shorts (a 1ª podem ver acima), que são pequenos vídeos de animação que rondam os 5 minutos e que merecem mesmo ser vistos. Vai ajudar bastante a perceber quem é Lilith e a importância que cada um dos heróis da Marvel tem para ajudar a derrotar a Mother of Demons. 

Conclusão:

Marvel Midnight Suns é um excelente jogo! Um título gigantesco, brilhantemente desenhado e com muitos sistemas interligados que funcionam muito bem. Os combates são, sem dúvida, a sua grande força, oferecendo-nos batalhas emocionantes, profundas, cheias de possibilidades táticas, variadas, desafiantes e espetaculares que nos vão deixar totalmente absorvidos enquanto “quebramos” a nossa cabeça para sobreviver a cada turno. Não esquecendo ainda um design de missões requintados que nunca deixam de surpreender. É um titulo diferente e com muita personalidade, que já pode se orgulhar de ser um dos melhores jogos de super-heróis já feitos.