A mudança para uma marca própria EA SPORTS FC pode ser um passo muito maior para a Electronic Arts do que aparenta.
Vai fazer agora um ano que a Electronic Arts anunciou o divórcio com a FIFA, levando a que FIFA 23 tenha sido o último título da série que sempre dominou o mercado do futebol interativo durante 30 anos e construiu uma comunidade global de futebol de mais de 150 milhões em várias plataformas. No início de abril, a empresa revelou a marca do seu próximo jogo de futebol. Já sabíamos que se iria chamar EA Sports Football Club ou EA Sports FC e ficámos a conhecer a nova imagem.
A nova marca inspira-se diretamente no triângulo, uma forma que faz parte do ADN do jogo. Do icónico símbolo do indicador do jogador que controlamos, aos polígonos triangulares que compõem cada pixel dos nossos jogos, aos triângulos de química no Ultimate Team ou a conhecida técnica de passe. Pessoalmente, acho que funciona visualmente muito bem. Mas não é da imagem que vos quero falar hoje.
Aquando da revelação da marca, Nick Wlodyka, vice-presidente e General Manager do EA Sports FC, tem duas citações interessantes: “É aqui que começa a história do EA SPORTS FC. Estamos a criar algo novo sobre 30 anos de liderança e história e a criar experiências que unem a comunidade global do futebol e a levam a um futuro que dá prioridade os fãs” e “O EA SPORTS FC será um símbolo para o desporto, um símbolo de inovação e mudança(…)”.
Fala-se em unir a comunidade global do futebol e em ser um símbolo para o desporto.
Curioso que, como estratégia de marketing para a revelação da EA Sports FC, a Electronic Arts tenha colocado todos os seus parceiros, em sintonia, a partilhar a nova identidade. Nos dias que se seguiram, esta esteve visível em mais de 100 jogos nas maiores ligas do mundo. Adicionalmente, nas redes sociais e quase simultaneamente, centenas de ligas, equipas, marcas e atletas partilharam o logotipo.
A mensagem é dupla: por um lado a união, por outro que o divórcio não beliscou os licenciamentos (pelo menos a nível de clubes) que tanto ajudaram este jogo a dominar o mercado.
Mas mais que a revelação, o que me despertou o interesse foi o primeiro anúncio sobre a chancela da nova marca. A 11 de abril, a Electronic Arts anunciou o EA SPORTS FC FUTURES, um plano para investir 10 milhões de dólares no crescimento do futebol a nível comunitário à escala global, com o objetivo de expandir o jogo para todos.
Na primeira de muitas ativações do FC FUTURES, a EA SPORTS e a Football Foundation, a instituição de caridade da Premier League, a FA e o Governo do Reino Unido revelaram a ‘Rocky and Wrighty Arena’ na Turnham Academy no sul de Londres, inaugurada pela lenda inglesa Ian Wright.
O FC FUTURES construirá uma biblioteca pública de práticas de treino, produzida em cinco idiomas, que estará disponível ainda este ano para jovens jogadores e treinadores da comunidade verem on-line e usarem nos seus planos de treino. Além disso, o FC FUTURES proporcionará acesso da comunidade ao futebol, vai apoiar a criação e renovação de campos, facilitados e distribuídos através de fundações, federações e ligas. Por último, o FC FUTURES investirá em acessórios de treino, irá fornecer equipamento de futebol sob a forma de bolas, peitorais, cones e equipamento essencial para o futebol de base.
A EA SPORTS acordou ainda uma parceria multi-anual com a UEFA para apoiar ainda mais o futebol a nível comunitário, através da consultoria dos Treinadores de Futebol de Base da UEFA e do investimento em iniciativas de futebol de base da UEFA.
Claro que não temos a Electronic Arts como uma empresa generosa e altruísta. Esta caridade não será certamente desinteressada. Acontece que, de repente, a marca salta do plano digital dos nossos videojogos e entra no mundo do futebol real. Através dos grandes clubes e atletas seus parceiros, mas também pela sua presença junto das comunidades e da formação.
Ao desvincular-se da marca FIFA e ao criar a EA Sports FC, a EA ganha total controlo e autonomia sobre o seu posicionamento. Mas mais importante, pode expandir-se para outros campos. Começou com o investimento no futebol comunitário, mas quem impede de virmos a ver uma equipa real EA Sports FC, ou uma liga ou marca de vestuário desportivo. Não estou a preconizar que tal aconteça, mas certamente que a possibilidade ficou em aberto.
O que penso sim que irá acontecer é que vai permitir à marca imiscuir-se mais próximo das raizes do desporto rei. Se, quando pensarmos em futebol, EA Sports FC vier a nossa cabeça, a Electronic Arts estará a ganhar de forma avassaladora a sua batalha pelo domínio do mercado dos jogos virtuais de futebol, ao manter-se no top of mind num mercado que promete maior concorrência no futuro.
E é assim que o vai conseguir. Aqueles miúdos que treinam no seu bairro num campo cheio de logotipos EA Sports FC, jogando com coletes e bolas EA Sports FC e ainda vendo a marca exposta pelos seus ídolos e clubes pelos quais torcem, quando chegam a casa e querem jogar um videojogo de futebol, qual acham que vai comprar?
E isto não era possível sobre a chancela da marca FIFA, pois havia sempre a associação à entidade que rege o futebol mundial.
A Electronic Arts apela-nos com o claim “Junta-te ao Clube”. E eles sabem o que estão a fazer. Estão no caminho certo para criar a comunidade maior, mais forte e mais incontestada de sempre em torno do seu jogo.
Entretanto, Julho, saberemos mais sobre o próximo capítulo do jogo.
Começou a jogar ainda os jogos se carregavam a partir de uma cassete de fita magnética. Completamente viciado em FIFA, é também fã incondicional de RPGs e Jogos de Estratégia. Junta, aos videojogos, a paixão pelos jogos de tabuleiro.