Mortal Kombat 1 – Perto da perfeição | Análise

Se existe um fighting game que tem um amplo público e que consegue figurar na lista de lançamentos dos jogos mais aguardados do ano, é Mortal Kombat. O novo jogo Mortal Kombat 1 já chegou e tem muita pancadaria “gostosa” para oferecer. Vamos jogar?! 

Nos seus mais de 30 anos de história, o novo jogo da NetherRealm Studios é provavelmente uma das suas iterações mais inventivas dos últimos tempos. E por mais estranho que possa soar, Mortal Kombat 1 é uma sequela direta de Mortal Kombat 11 e segue a receita típica dos jogos mais recentes da série, com gráficos de última geração e uma ênfase no seu modo de história cinematográfico digno de uma grande produção de Hollywood. 

Para contextualizar, teremos então de voltar ao final de Mortal Kombat 11 para entender os acontecimentos do novo jogo. Se estão recordados, no final da história do jogo anterior, lutamos contra Kronika, que era responsável por controlar a ampulheta do tempo e que já tinha reiniciado a linha do tempo algumas vezes, tudo porque ela ouvia vozes dentro da sua cabeça que lhe diziam para reiniciar a linha do tempo. No DLC Aftermath, Raiden transferiu os seus poderes e privilégios de Deus para Liu Kang, que por sua vez transforma-se no Deus do fogo e passa a ser responsável por controlar a ampulheta do tempo. Ele decide então recriar a linha temporal e mostra-nos o seu encontro com um jovem e inexperiente Kung Lao. Após essa pequena recapitulação, prosseguimos para os acontecimentos de MK 1, onde nos deparamos com uma nova realidade criada por Liu Kang, que agora ocupa o lugar de protetor do EarthRealm, tendo “renunciado” a sua posição como Time Keeper. 

Liu Kang decide então reunir diversos campeões e participar num tradicional torneio de artes marciais contra o Outworld, que funciona como que um evento social para assegurar a paz entre ambos os reinos. Tudo parece acontecer conforme planeado, mas não tarda até que velhos problemas venham à tona e ameacem o período de paz tão cuidadosamente desenhado por Liu Kang.  

A história tem aproximadamente seis horas de duração e também é a maior já produzida pelo NetherRealm Studios.  O enredo tem um ritmo excelente e coloca-nos no papel de vários lutadores ao longo dos seus 15 capítulos. Tal como nos jogos mais recentes (MK X/MK 11) o modo de história é uma ótima forma de experimentar alguns dos personagens e quem sabe descobrir um novo lutador favorito, sem ter uma preocupação em decorar os seus golpes e ataques especiais. Achei interessante que a partir de metade da história, plot twists pouco usuais de se verem vêm à tona e remetem até mesmo aos jogos de culto da geração 3D de Mortal Kombat, com diversas referências que devem fazer a delícia de qualquer fã da série. 

Para mim, um dos destaques do modo de história é o enredo de Johnny Cage, que como todos sabem possui uma carreira como ator. Mas o que realmente se sabe sobre esta carreira? O que já vimos sobre ela? E é exatamente neste ponto que o jogo acerta em cheio. Nesta nova timeline poderemos vê-lo a atuar no seu mais recente filme de ação, que até tem diversas referências sobre outros filmes de Johnny Cage, garantindo assim o comic relief que também é necessário. 

Reptile e Baraka são outras duas personagens que oferecem uma experiência agradável no que diz respeito às suas histórias e suas respetivas motivações (e claro sobre a origem das suas raças). Com a integração destes fatores informativos, as personagens ganham um maior destaque e a história por trás de tantas guerras faz ainda mais sentido. 

Mas existe mais conteúdo para além do modo de história. Em MK 1 dizemos adeus a Krypt e damos as boas-vindas ao modo Invasion, que é composto por temporadas que duram cerca de 50 dias e possuem um tema específico (atualmente é o Scorpion Vingativo que veio de outra timeline). Este modo traz consigo mapas em formato de tabuleiro e elementos light de um jogo RPG, com progressões de níveis, atributos e modificadores de personagens. A ideia é que os jogadores explorem um cenário navegando por casas, onde cada uma delas tem uma luta ou então uma atividade. Por vezes, podemos também encontrar caminhos secretos e baús, que dão equipamentos, skins ou créditos. Este modo é bastante interessante no início, mas torna-se monótono com o decorrer do tempo. As lutas são bastante repetitivas e a navegação pelo tabuleiro… não me convenceu muito. Também não achei muita piada às mecânicas que modificam as propriedades das personagens, como os talismãs e os danos elementais com as suas respetivas vantagens/desvantagens, pois penso que não são funcionais o suficiente para convencerem os jogadores a aprofundá-las, pois é possível vencer as lutas facilmente sem sequer usar qualquer uma destas “preciosas” ajudas (mesmo no modo Hard). Mas estão prometidas atualizações de conteúdo com alguma regularidade para este modo Invasions, o que é bom, pois de outra forma talvez não lhe voltasse a tocar.

O modo de desafios de combos também não está muito bem conseguido por parte da NetherRealm Studios. Este modo é bastante comum para aprendermos como aplicar na perfeição os ataques das personagens. Aqui, temos lutadores com apenas um desafio, enquanto outros chegam no máximo a seis. Para piorar, há exercícios que estão completamente broken, pois apresentam sequências que não funcionam. 

Mortal Kombat 1 - Fatality - J. Cage

Outra coisa que também não me agradou e até me pergunto a mim próprio, porque é que não existem as típicas Stage Fatalities (e interações com os cenários)?? Isto já é praticamente uma das imagens de marca de Mortal Kombat, e sinceramente não se percebe o porquê de não estarem presentes. Os cenários estão brutais, lindos de morrer… estão mesmo a pedir para serem “usados” e não para estarem ali só para embelezar o jogo. Uma enorme pena, pelo menos para mim claro. 

Mas calma, vamos voltar aos pontos positivos do jogo. O grafismo de Mortal Kombat 1 está impecável, desde os cenários como já referi, até aos pequenos pormenores presentes nas personagens (vejam por exemplo o Liu Kang, está TOP), fazendo assim um excelente uso do poder da Playstation 5 (versão onde testei o jogo). Não se pode também esquecer das animações dos golpes, que anteriormente até eram alvo de críticas e que agora estão bastante caprichados! 

Outra das novidades do novo são os Kameos, que são lutadores de assistência selecionados a partir de um roster à parte. Cada lutador Kameo tem o seu próprio arsenal de golpes e podem ser chamados a qualquer momento em combate, permitindo assim a criação de combos únicos e movimentos planeados. Pensem nos lutadores Kameo como se fossem os parceiros que chamamos em Dragon Ball FighterZ por exemplo, mas sem a opção de podermos controlá-los diretamente. 

Algo que pode incomodar alguns jogadores é que não serão escolhidos necessariamente os Kameos que os jogadores possam gostar mais, mas sim aqueles que têm mais sinergia com o personagem principal. Também se corre o risco de um lutador Kameo destacar-se muito em relação aos demais, deixando as lutas bastante repetitivas. A título pessoal gosto muito de usar o Striker ou o Jax, mas sinto que o Kano por exemplo não tenha grande utilidade, acho que os ataques dele não são muito eficazes.  

O roster inicial, por sua vez, é bastante variado e deveras interessante. São vários os lutadores esquecidos há que tempos e que agora estão de regresso, entre eles temos Nitara, Ashrah, Smoke, Havik, Reiko, isto só para referir alguns. São 22 personagens selecionáveis de início (23 se tiverem Shang Tsung disponivel), com a promessa de o jogo receber mais via DLC, incluindo um dos fan favorites da série Ermac, ou Omni Man que chega diretamente da série de animação The Invincible. Mortal Kombat 1 mantém assim a tradição de trazer vários lutadores convidados vindo de outros universos

Mortal Kombat 1 - Kameo fighters

Quero ainda falar da customização dos lutadores presente no jogo. As micro transações existem, mas elas servem apenas para mudar o visual, ou seja, é impossível gastar dinheiro real para comprar algo que dê uma real vantagem. Acerca dos itens desbloqueáveis nós temos três possibilidades, podemos doar mil moedas no altar e conseguir um novo item que geralmente será algo relacionado a arte ou música do jogo. Em segundo lugar temos as roupas (incluindo roupas da temporada) e todas as customizações possíveis que são desbloqueadas com a evolução do personagem e do seu Kameo. Por fim, temos os desbloqueáveis de cada personagem que remetem a novas Taunts, brutalities e fatalities. Aqui o “segredo” é apenas jogar muito com cada personagem para conseguir desbloquear tudo, sendo um trabalho a longo prazo que irá exigir uma boa quantidade de tempo. 

Para quem se pergunta acerca da componente online, MK 1 usa rollback netcode e as partidas são bastante responsivas, dificilmente vão existir problemas em relação a isso. Temos os tipicos combates do modo casual, se preferirem jogar apenas com amigos, podem usar o modo privado, também está presente o modo King of The Hill, onde quem ganha combates sucessivos tem que se defender de outros lutadores para continuar a ser o campeão, e obviamente não podia faltar o modo a contar para os Rankings. Aqui todos começam na “liga” Apprentice e teremos obviamente que ganhar combates para chegar à “liga” seguinte. Sempre que subimos a uma nova “liga” recebemos uma recompensa, como um equipamento específico, seasonal credits ou banners/backgrounds para o nosso perfil. Se conseguirem chegar à “liga” Warrior, Grand Master e Elder God, também terão direito a uma paleta de cores exclusiva para alguns lutadores alusiva ao tema do Scorpion Vingativo presente no modo Invasions 

Antes que me esqueça de mencionar…, as torres clássicas estão presentes e seguem o mesmo padrão de sempre. Escolhemos um personagem, vencemos todas as lutas e recebemos como recompensa um vídeo que mostra o seu final após os eventos da história principal. Algo que sempre gostei de ver e espero que assim continue em futuros jogos da série. 

Conclusão:

Mortal Kombat 1 entrega a melhor história da série, visuais de última geração e um elenco com personagens bastante interessantes. Contudo é um jogo bastante “raso” em conteúdo single player e passa a impressão de que está incompleto em muitos sentidos, apostando unicamente em atualizações a longo prazo para tentar manter os fãs interessados.  É um bom jogo sim, mas poderia estar ainda melhor se não lhe faltasse algum conteúdo que em jogos passados fizeram sucesso.