Muita curiosidade para ver o que mudou com EA FC 24 para além do nome e mudou alguma coisa, mas não assim tanto… excepto no Ultimate Team.
Há uns meses atrás, eu já tinha teorizado sobre o que poderia significar a mudança de nome para a franquia, libertando das amarras da marca FIFA. Agora que pude jogar o primeiro jogo da Electronic Arts sobre o novo nome, não mudo uma palavra ao que escrevi na altura. Mas agora podemos responder à questão “esta mudança significou um evoluir significativo do jogo ou, mudou o nome e ficou tudo na mesma?”. Bem, a resposta é um mais ou menos.
À primeira impressão, ao começar a jogar, senti que estava a jogar o mesmo jogo. Ou melhor, na verdade, estava a jogar o jogo como o conhecia e ele estava a responder da forma esperada. Depois comecei a explorar as novas mecânicas e foi aí que comecei a abrir as portas das inovações de EA FC 24.
O Precision Pass abre novas possibilidades de passe, com um controlo totalmente manual. Em várias situações de jogo consegui rasgar a defesa com o passe que realmente queria fazer e que anteriormente nunca conseguia que acontecesse, pois o jogo entendia que a bola deveria ter outro tipo de trajectória. E este novo mecanismo de passe realmente funciona, com os jogadores alvos do passe a interpretarem bem a jogada e a moverem-se de forma eficaz para tirar partido da jogada. Mas funciona sem ser broken, pois como se diz na gíria, é preciso ter unhas ou não fosse um mecanismo não assistido pelo jogo.
Outras novidades que rapidamente incorporei no meu jogo foram Controlled Sprint e o Effort Drible. O primeiro permite que os jogadores adotem um modo de sprint mais controlado, que, não abdicando de muita velocidade, tenhamos um maior controlo sobre a bola. O segundo permite dar toques na bola direccionais de forma manual, que ajudam a tirar defesas do caminho, mas, sobretudo, é tremendo para fazer receções de bola direcionais e controladas.
Estas são as novidades que mais rapidamente integrei no meu leque de opções, mas outras tenho experimentado e posso dizer que vão contribuir para um maior skill gap entre jogadores. EA FC 24 recompensa, mais que qualquer outro seu antecessor, o ter unhas para o jogo, acrescentando formas mais manuais de jogar, que recompensar quem as souber usar. O Precision Shooting the premeia quem aponte os seus remates mais manualmente com uma maior eficácia e o Advanced Defending que separa em botões diferentes as acções de fazer um desarme ou uma carga de ombro para ganhar posição. Ambas são opções que se podem ligar ou desligar nas definições, mas recompensarão quem as souber usar.
A grande novidade, contudo, são os Playstyles. Substituindo o antigo sistema de traits e com um impacto significativo na jogabilidade, os Playstyles tornam certas intervenções no jogo muito mais eficazes, indo além dos valores das habilidades dos jogadores. Algumas vezes tornando as intervenções mais eficazes, outras até permitindo fazer coisas que sem determinado Playstyle não seria possível. Um jogador, tendo as mesmas habilidades, pode ser um monstro defensivo se tiver os Playstyles Bruiser, Antecipate e Jockey, mas poderá antes ser um desequilibrador nato com os Playstyles Technical, Whipped Pass e Incisive Pass. A construir a nossa equipa, podemos fazer uma maior micro gestão e escolher jogadores com Playstyles que se adequam ao nosso estilo de jogo e à forma como pretendemos usá-los. E torna cada jogador mais único e distinto dos demais. Esta é uma novidade realmente impressionante e o grande destaque (pela positiva) deste novo título.
Agora, por muito excitantes que estas novidades de EA FC 24 soem, encontramos ainda muitas das desilusões que, ano após ano, nos criam situações frustrantes de jogo. A inteligência artificial do Hypermotion V não está a par dos movimentos realistas e fluídos que esta tecnologia gera. Continuamos a ter uma jogabilidade que apresenta inconsistências, com guarda-redes ocasionalmente a desviarem-se de bolas de defesa fácil, jogadores da nossa equipa controlados pela I.A. a fazerem péssimas opções atacantes ou defensivas e já dei por mim a berrar com o comando com um passe a sair para o jogador errado apesar de estar 100% certo que dei o input certo ao comando ou por sofrer um golo porque, apesar das novas opções de mudança de jogador que a EA introduziu, o jogo continua a mudar o jogador que controlo para o que menos hipóteses teria de me ajudar a interromper uma jogada ofensiva do adversário. Percebemos que há uma tentativa da EA de melhorar as intervenções de I.A., mas o resultado ainda não é o mais desejado.
Relativamente a modos de jogo, vão perdoar-me mas sou daqueles viciados em Ultimate Team e não vos vou falar de Volta ou Modo Carreira. Quando ao Ultimate Team, as novidades são consideráveis, tem muitas coisas positivas, mas se evoluiu nas ofertas aos jogadores, também aparenta ter evoluído na componente negócio.
Logo à cabeça, a grande novidade é a integração total do futebol feminino, acrescentando cerca de 1600 novas cartas femininas às opções de construção de equipa. A paridade é total! As cartas femininas têm total equivalência de rating às masculinas, com, por exemplo, Alexia Putellas a dividir o rating mais alto do jogo (91) com Mbappe e Haaland. Dentro do jogo, também se comportam de forma igualmente eficaz. É um grande passo da EA e trás uma necessária diversidade ao jogo. Se, por um lado, temos de fechar um pouco os olhos a algum realismo, quando vemos potências de remate ou velocidade equipadas entre ambos os sexos, este falseamento é necessário e compreensível em prol do usufruto do videojogo. Encontramos excelentes novas cartas entre as novas femininas, havendo até quem já apregoe que algumas serão realmente meta.
A novidade mais entusiasmante, para mim, é, contudo, as Evolutions. A capacidade de pegar em cartas e “treiná-las” para ficarem melhores era algo há muito pedido pela comunidade e EA FC 24 traz isso. Temos várias evoluções nos vão sendo oferecidas ao longo do ciclo do jogo. Cada uma delas apresenta requisitos para os jogadores que podemos colocar nelas (requisitos esses que servem, na verdade, para controlar o nível dos jogadores escolhidos, de forma a nunca ficarem demasiado fortes para o momento do ano) e os benefícios que o jogador escolhido irá colher, seja ganhos em determinadas habilidades, rating, melhorias no pé mais fraco ou skill moves, novos playstyles ou cosmética da carta. Depois, cumprimos determinados objectivos (até ao momento, do que foi dado a ver, bastante acessíveis) e completamos a evolução. O jogador que escolhermos, a partir do momento que começar uma evolução, transforma-se em untradeable (se ainda não o fosse) e não pode mais ser vendido. Seja para evoluir um jogador para a opção mais meta possível, seja para pegar em jogadores que gostamos imenso para são fracos no jogo e assim os podermos tornar usáveis, esta novidade é de louvar.
Claro que onde há coisas boas para os jogadores, a EA tenta monetizar e fazer mais receitas ainda. Pse a maioria das evoluções ser gratuita, temos já no jogo uma evolução que custa moedas ou FC Points para podermos completar e que, como seria de esperar, é mais poderosa que as restantes. Será de esperar mais ao longo do ano.
Por falar na monetização do Ultimate Team, da forma como os packs na loja têm aparecido neste período de Early Access e pelos desafios de plantel apresentados, tenho para mim que, este ano, a EA será ainda mais agressiva na forma como nos tenta induzir a adquirir FC Points.
No que toca à apresentação, EA FC 24 dá um grande passo em frente. Apesar de não serem revolucionárias, as melhorias nas animações dos jogadores e no seu grau de detalhe são notórias e enriquecem a experiência de jogo. A física das roupas, a complexidade física dos jogadores, as texturas, tudo apresenta um grau de detalhe elevado. O ambiente do estádio está excelente e todo o nível de imersão passou para outro nível, com cutscenes a acontecerem constantemente por detrás dos menus durante intervalo e preparação do jogo, sejam entrevistas, cenas de balneário ou do público. Se há coisa em que o jogo está realmente incrível é na apresentação.
Conclusão:
EA FC 24 não é a reinvenção extrema que muitos estariam a reclamar. É um jogo de entrada na nova série que não desmantela o que estava construído. Contudo, apresenta novidades suficientes em dimensão e quantidade para podermos dizer que a mudança fez bem à franquia e que a EA até vai ouvindo o que a comunidade deseja no jogo, seja pela introdução das Evoluções, seja pelos Playstyles. Infelizmente, as inconsistência da I.A. não foram pelo mesmo destino do antigo nome. O que é uma grande pena porque enquanto este jogo não se libertar do fardo das suas inconsistências, as melhorias constantes e a apresentação sublime nunca serão realmente apreciadas. Tivesse a EA resolvido este handicap e EA FC 24 seria extraordinário.
Começou a jogar ainda os jogos se carregavam a partir de uma cassete de fita magnética. Completamente viciado em FIFA, é também fã incondicional de RPGs e Jogos de Estratégia. Junta, aos videojogos, a paixão pelos jogos de tabuleiro.