Cult of the Lamb junta as melhores partes de um roguelike com todos os encantos de um jogo de simulação em tempo real, numa cerimónia deliciosamente macabra que não vão querer perder.
O jogo do estúdio da Massive Monster é deliciosamente demente, e combina diversas dungeons num ritmo bastante acelerado, arte ousada, temas sombrios e elementos de simulação em tempo real para criar uma experiência única.
O nosso “improvável” protagonista é o último cordeiro existente no mundo. Prestes a ser sacrificado num ritual, o pequeno animal é salvo por um ser que se apresenta como The One Who Waits. Contudo, isso não foi um mero ato de bondade, pois o pobre cordeiro torna-se na peça central para que o poderoso The One Who Waits ressuscite.
Para isso, o nosso “herói” de 4 patas precisa não apenas conquistar fiéis para um terrível culto, mas também destruir os Old Ones, tidos como hereges, para que The One Who Waits possa, mais uma vez, caminhar entre os mortais. Desse modo, o cordeirito, que agora prega a palavra do seu salvador, parte numa perigosa missão envolvendo fé, poderes sobrenaturais e rituais satânicos.
Este título fez-me lembrar o magnifico HADES (no que toca ás lutas nas dungeons), mas também tem uma ou outra coisa de Animal Crossing, pois aqui também existe uma micro-gestão do nosso culto. O início do jogo é um pouco arrastado, já que as mecânicas são introduzidas aos poucos conforme realizamos as mais diversas tarefas. Contudo, quando finalmente atraímos fiéis suficientes para o culto, as coisas começam a ficar super interessantes e a jornada do pobre cordeiro para libertar o The One Who Waits passa a fazer muito sentido e consegue envolver-nos de tal forma, que quando damos por nós já se passou uma tarde inteira e nem demos pelas horas…, que foi o meu caso!
Contudo, isso não quer dizer que cuidar do rebanho seja uma tarefa fácil. Além da exploração das dungeons, precisamos ainda de administrar as atividades dos fiéis que vivem na comunidade que vamos criar. É necessário que tenhamos comida sempre à disposição, que estejamos prontos para limpar as fezes deixadas pelos nossos fiéis, que criemos locais para dormirem, enfim…, um sem número de coisas para mantermos a fé bem lá no alto.
Como qualquer ser vivo, os nossos fiéis ficam felizes/furiosos, ficam doentes, envelhecem e morrem (mais parecem um Tamagotchi). Cult of the Lamb gira em torno de um interminável ciclo de dia e noite ao qual precisamos de prestar atenção a cada 10 segundos. Se por um lado o jogo nos informa do que acontece na nossa “base de operações” do culto enquanto estamos a chacinar inimigos e a amealhar recursos, por outro, nem sempre temos tempo útil para evitar que um desastre aconteça.
As ações executadas em combate e a gestão do culto também são avaliadas pelos nossos fiéis. Se, de repente, um ou mais começarem a duvidar da palavra do cordeiro, é provável que o restante rebanho se perca nas mentiras dos infiéis. Até conseguirmos pegar o jeito da coisa, muito suor, lágrimas e sangue serão derramados (tenham bem a certeza).
A parte mais simples do jogo está na exploração das diversas dungeons. No melhor estilo dungeon crawler, temos áreas geradas aleatoriamente com os mais diversos tipos de inimigos para derrotar e vários setores para explorar. Começamos com uma arma aleatória e um feitiço, que podem ser melhoradas quando tiramos à sorte nas cartas de tarot ou até mesmo antes de enfrentar um Boss.
Cada vez que concluímos um setor, somos brindados com um grande fluxograma no qual podemos escolher qual o caminho que queremos seguir. Por vezes, a próxima área pode garantir fiéis — normalmente envolvendo um combate para libertá-los do sacrifício — ou até mesmo a recolha de recursos para melhorarmos o nosso culto.
Ao fim de concluirmos alguns setores, iremos enfrentar um mini-boss. Repetir a mesma dungeon permite-nos lutar eventualmente contra um dos Old Ones e libertar uma das correntes que aprisionam o The One Who Waits. Quando finalmente completamos uma dungeon, ela torna-se uma espécie de “no man´s land” e versões mais poderosas dos inimigos aparecem com mais frequência em cada setor.
Por ser um roguelike, as nossas conquistas não são perdidas caso sejamos aniquilados, embora possamos perder alguns dos itens que recolhemos durante a jornada. É aqui que “o perigo espreita”, expedições bem-sucedidas fazem com que os fiéis nos vejam como autênticos heróis, mas se estivermos a sair de uma derrota humilhante, é quase certo que a fé que eles depositam em nós comece a diminuir.
Quanto à gestão do nosso culto, já é um pouco mais difícil. Todas as melhorias são obtidas por meio da fé e da devoção dos fiéis, o que implica em saber atribuí-los para as tarefas certas e manter as orações sempre em alta. Com a devoção, que é obtida através das orações, podemos desbloquear novas estruturas para a nossa “base de operações”, enquanto a fé faz com que os nossos fiéis subam de nível, para que dessa forma, ganhemos acesso a novas doutrinas e habilidades de luta. Outro ponto positivo disto tudo é que são atribuídas características aleatórias aos nossos fiéis, que vão desde ceticismo, ou uma dada probabilidade de andar à luta com um outro devoto ou até mesmo uma certa percentagem de adoecerem.
Saber racionar os recursos também é um aspeto em ter em conta, já que as melhorias requerem bastante “investimento divino”. Às vezes, gastar dinheiro para garantir mais terreno para plantar sementes pode comprometermos a longo prazo, já que o ouro pode ser refinado em barras, que servem como “combustível” para megafones, que são estruturas que aceleram a produção dos nossos devotos dentro do seu alcance. Portanto fica a dica de saber usar os recursos de forma inteligente e eficiente.
Cult of the Lamb tem um visual muito querido e cartoonesco que disfarça (e bastante) todos os ensinamentos existentes do anticristo. Portanto, o jogo é para aqueles jogadores que tem estômago para sacrificar um fiel devoto que faz tudo por nós como se fosse a coisa mais simples do mundo.
Claro que não dá para resumir um jogo apenas pela sua qualidade áudio e visual, então outro grande ponto positivo é a diversidade que esta aventura satânica nos proporciona, pois podemos ainda alterar o aspeto dos nossos queridos devotos, com direito a troca de nomes, aparências e também escolher que rumo a seguir com as doutrinas. Para minha surpresa, existem algumas opções mais “amigas” (se assim posso dizer), como respeitar os idosos…, o que no meio deste “oceano satânico” até achei estranho.
Conclusão:
Cult of the Lamb pega em alguns elementos de séries bem conhecidas no mercado e aplica-as num jogo que nos remete a um humor bastante negro. Para além de oferecer muitas horas de gameplay, mesmo que seja baseado em muito grinding e diversas opções de customização, tanto de fiéis, quanto de doutrinas e outras melhorias, esta pérola indie desenvolvida pela Massive Monster traz consigo uma apresentação audiovisual impecável que nos consegue aliciar a fazer parte deste culto satânico que é estranhamente querido e inocente.
Jogo de tudo um pouco, desde a minha primeira consola de jogos, a Master System II. Desde aí muita coisa mudou, mas a paixão e dedicação aos videojogos permaneceu intacta.
Apesar de jogar de tudo um pouco, desde FPS a RPG´s, sou grande adepto de Fighting games, como o Mortal Kombat e ainda de jogos de desporto automóvel, como o Forza Motorsport. Também não dispenso boas séries e bons filmes. Sou grande fã de animes desde muito cedo, onde tenho DragonBall e Naruto como séries de eleição.