Ainda o Sahara era uma floresta e já se pedia um remake do aclamado Final Fantasy VII.
O desejo de tanta gente está praticamente a tornar-se uma realidade visto que o jogo sai daqui a apenas alguns dias. Sou culpado admito, eu era uma dessas pessoas… até perceber que afinal a popular frase “cuidado com o que desejas” faz muito mais sentido do que eu imaginava. Vamos tirar já um pensamento da frente, não quero com este texto trazer, de todo, algum hate ou negativismo em relação ao lançamento do remake e muito menos à qualidade do mesmo. Até porque, pelo menos pelo que se pode ver pela demo, acho que o público no geral vai ficar satisfeito com o resultado. Mas este remake não é para mim. Final Fantasy VII é sem dúvida um dos jogos que me é mais querido. Foi o que me fez olhar para esta vertente do entretenimento de uma maneira diferente, de uma maneira mais séria. Despertou-me para a possibilidade de um jogo poder ter uma narrativa tão ou mais interessante do que os melhores livros na minha prateleira, de ser uma autêntica obra de arte. Já não era só a aventura incrível em A Viagem ao centro da terra de Júlio Verne ou o poster da Pamela Anderson que cativava a imaginação de um miúdo de 10 anos. Agora havia algo mais do que chegar ao fim do nível, ou de aniquilar todos os oponentes… Havia uma história fascinante, personagens que eu queria ajudar a terem sucesso e a enfrentarem as adversidades, todo um mundo cheio de segredos e recantos a explorar.
Final Fantasy VII foi na altura, para mim e para muita gente, uma experiência que dificilmente se esquece. E já agora, a todas as mães galinhas preocupadas porque o Barret tem uma metralhadora no braço e, obviamente, o meu filho vai ser um serial killer se jogar isto, só tenho uma coisa a dizer – foi com esta obra prima que em pequeno aprendi bastante de inglês por jogar com um dicionário ao lado. Se fosse em 2020 a mãe voltava à loja para devolver o jogo porque este não tinha português. Ai como os tempos, e as pessoas, mudam. Não querendo fugir ao que me leva a escrever este texto, Final Fantasy VII foi muito importante na minha infância tal como foi A lua de Joana para 80% dos meus amigo(a)s. Como tal, sempre que volto a pegar nele, é como uma cápsula do tempo. Tenho memórias vivas do que estava a fazer em certas alturas do jogo e dos meus sentimentos ao longo dele. Antes de sair o remake tinha de o completar novamente de uma ponta à outra e muitas dessas sensações são do mais nostálgico que pode haver. Até fico nostálgico só de pensar na nostalgia destes momentos nostálgicos. Redundância à frente, o remake, pelo menos na demo não me transmitiu nada disso, enquanto que no original basta 10 minutos para eu precisar de um lenço de assoar com as iniciais do meu tio avô bordadas e que cheire à casa da minha avó em 1998. O tipo de experiência que a versão original me oferece devido a todas as memórias que tenho, é algo que o remake nunca me vai poder dar, e eu descobri que é exatamente isso que é o mais importante. Não é o excelente sistema de materia. ou os inimigos desafiantes, ou o mundo bem construído… são as memórias de uma criança, neste momento adulto, que entende que o tempo não volta atrás para momentos mais simples das nossas vidas.
Já agora… Podemos parar com os diálogos intelectualistas de que o Sephiroth não é badass e que o Final Fantasy VII é overrated? Ele claramente é cú mau, e o jogo é definitivamente excelente, ponto final. Se quiserem discutir se o Kefka é um melhor vilão, tudo bem, não me vou opor!