Florence, desenvolvido pelo estúdio Mountains, não é um jogo no sentido tradicional, mas, ao contrário do que pode parecer à primeira vista, também não é bem uma visual novel.
É algo que vive no meio destes dois conceitos, uma espécie de experiência ludo-narrativa onde o lado da narrativa tem um peso ligeiramente maior do que o lado do jogo. Tendo sido desenvolvido para plataformas mobile, confesso que quando o joguei pela primeira vez pensei que esta era uma experiência talhada para esse tipo de plataformas. Depois de experimentar a versão disponível para PC e para macOS, confesso que esta é uma experiência que até funciona bem em todas as plataformas, mas acabei por confirmar as minhas suspeitas iniciais, sendo no nosso smartphone onde este “jogo” brilha verdadeiramente.
A história de Florence é simples e muito terra-a-terra. Acompanhamos Florence Yeoh, uma rapariga nos seus vintes que, como tende a acontecer, vive a sua rotina diária entre o trabalho de escritório, telefonemas com a mãe e o sentir que há algo que falta na sua vida, mesmo estando rodeada de pessoas. Até que um dia esta rotina é quebrada pela entrada repentina de um rapaz na sua vida.
À medida que progredimos, o jogo utiliza brilhantemente uma mecânica de repetição de tarefas que nos faz entrar na pele desta personagem e é pela forma como esta mecânica se desenvolve e se modifica dependendo do estado de espírito de Florence que nós deixamos de ser apenas espectadores e passamos a ser participantes activos nas boas e nas más escolhas, mesmo quando não dependem directamente de nós. Um contra-senso que faz todo o sentido no contexto do jogo. E é esta ideia que torna Florence numa experiência tão interessante.
As acções que temos de realizar são muito simples, mas é por fazerem tanto sentido, quer na história como um todo, quer na vida de Florence, num instante estamos de coração apertado e a não querer concretizar o simples gesto de fazer um slide no ecrã por anteciparmos o que aí vem e não querermos que isso aconteça. Mas tal como na vida, o futuro é inevitável, e nós fazemos parte dele.
Florence não é um jogo que recomendo jogar pelo seu bonito design gráfico, pela excelente banda sonora minimalista ou até pela sua história super-simples. Este é um jogo que se destaca dos restantes e que faz valer o seu custo (pode ser mobile mas não é grátis) pelo impacto que tem em nós, não só enquanto jogamos, mas principalmente pelo que nos faz ter de pensar quando termina.
Florence
Desenvolvido por: Mountains
Publicado por: Annapurna Interactive
Disponível nas plataformas: Nintendo Switch, iOS, Android, PC, macOS
Nasceu num dos melhores anos para nascer, 1980, e cresceu com um enorme desejo de poder jogar nas máquinas de jogos. Cumpriu esse desejo no dia em que finalmente fez 16 anos e pode legalmente entrar em salões de jogos. Infelizmente também descobriu que jogar custava dinheiro e por isso resolveu estudar mais um bocado. Hoje é publicitário e feliz proprietário de uma Super Nintendo. O seu jogo favorito ainda é o Street Fighter II.