Vampire’s Fall: Origins – Os primeiros passos de um vampiro

Circulam rumores da presença de forças das trevas nas terras vizinhas. É preciso recrutar quem estiver disponível para a batalha. Esta é a premissa de um jogo cujo combate e o único destaque.

Lançado em Setembro de 2018 para Android e iOS, Vampire’s Fall: Origins define-se como um jogo que presta tributo aos RPG’s clássicos, percebendo-se ao jogar que os produtores (Early Morning Studio, Blackrose Projects) se basearam numa jogabilidade, no que toca aos combates, assente em turnos puros, exigindo uma análise cuidada da estratégia, de cada movimento a executar, procurando um indispensável equilíbrio entre ataque e defesa. Se quando o ecrã de combate surge há vários elogios a fazer, antes e depois de cada batalha são mais as características negativas e que não ficarão na memória de quem experimente este jogo. Lançado no mês de Janeiro deste ano para PC, foi também feita a adaptação do jogo para Nintendo Switch e disponibilizado a 17 de Setembro para esta mesma plataforma (versão testada).

O jogador tem o controlo de uma personagem que pode personalizar em vários aspectos, como a cara, o cabelo ou a cor da pele, podendo ser tanto masculina, como feminina, sendo possível também atribuir um nome à vossa escolha. Deve ainda ser escolhida a linhagem à qual se pertencerá, podendo escolher entre Nosferatu, Magistrav, Ranjeni e Equides, havendo um benefício associado a cada uma, como uma percentagem maior de XP após os combates, por exemplo. As opções de personalização não são em grande quantidade, porém está longe de ser algo a que eu dê importância, uma vez que sou um apreciador de “vestir a pele” de uma personagem que os produtores tenham concebido e viver a sua história, não tanto de imaginar que quem controlamos é o “nosso eu” no mundo e na trama virtualmente criada.

Recrutada para uma milícia que procura todos os elementos possíveis que estejam em condições de pegar numa arma e combater, a nossa personagem encontra-se na sua vila, denominada Vamp’Ireque após um longo período de paz e harmonia se prepara para poder proteger-se do exército que surgiu das trevas, liderado por um ser temível, mestre da magia negra: o Witchmaster.

Não perdendo tempo em apresentar-se ao nosso herói\heroína logo no início da demanda, cabe-nos desenvolver as nossas habilidades e tornarmo-nos fortes o suficiente para que os planos maléficos não se concretizem, com algumas revelações inesperadas e opções importantes para serem tomadas, ficando uma outra surpresa por desvendar.

Como qualquer RPG, para além da quest principal o jogador é requisitado, logo desde o início, para uma imensidão de side quests que é importante que sejam realizadas em, pelo menos, média quantidade dado o XP e dinheiro (ouro) que é recebido com cada tarefa concluída com sucesso, pois evitará a necessidade de ser feito um grind mais repetitivo através de combates atrás de combates que, ainda para mais, ocorrem (na sua esmagadora maioria) através de encontros aleatórios, ao género de Final Fantasy X. As missões secundárias que nos são apresentadas, no entanto, não primam pela originalidade, colocando-nos no papel de mensageiro que deve entregar uma carta a alguém que está em outra cidade, de um “caçador” de autógrafos para um livro ou de um sicário que deve exterminar um determinado monstro (alguns especiais chamam-se “bestas colossais“), ou curar uma determinada praga, por exemplo. A falta de originalidade (que se deve a serem várias missões diferentes mas em que se faz, na prática, o mesmo) é compensada, em parte, com o humor com que foram escritas (o jogo apenas tem texto, exceptuando uma outra cut-scene).

Para além do humor empregue em certas missões, vários são os diálogos, seja com personagens relevantes na história principal, mas também (talvez até mais) com NPC’s aleatórios, em que se percebe que Vampire’s Fall: Origins não quer ser levado demasiado a sério, por trás de um guião de mais um vilão que surge para aterrorizar tudo o que se atravesse no seu caminho, percebendo-se que à volta a vida continua, havendo problemas do dia-a-dia que também incomodam e para os quais a nossa personagem calhava mesmo bem para ajudar, ainda que quem precise de auxílio não a conheça de lado algum

Como já tinha feito referência, quando o loading do cenário de combate surge é que o interesse por este jogo aumenta. Naturalmente que todos os pontos positivos e negativos de um jogo são percepcionados por quem o joga de forma diferente e, quando o assunto é combate por turnos, a minha atenção é maior. Desde logo, existe uma característica que coloca a estratégia durante o combate num patamar diferente de muitos RPG’s: não é possível utilizar itens. Achei a opção excelente. Quando 90% dos inimigos que defrontamos durante o jogo, fazendo um percurso com uma velocidade de progressão normal (sem excesso de paragens para grind), têm muito mais HP do que a nossa personagem, deve planear-se ao pormenor os movimentos para que não sejamos um alvo fácil. Por outro lado, em vez do MP, habitual em muitos jogos, Vampire’s Fall: Origins tem o “Foco“. O “Foco” aumenta em cada ronda, podendo ser melhorada a quantidade que fica disponível e, após três turnos surge uma “Ronda combo“, que como o próprio nome indica permite realizar ataques\habilidades em combo, dependendo quer do número de pontos de “Foco” acumulados nessa ronda, quer dos pontos de “Foco” necessários para as acções que queiramos utilizar, permitindo vários ataques\habilidades no mesmo turno. A análise e a ponderação cuidada de gastar pontos de “Foco” em cada turno ou acumular para uma “Ronda combo” em que se poderá atacar massivamente várias vezes seguidas ou curar-nos para compensar perdas, faz das lutas satisfatórias e versáteis. Com a estratégia e análise certa em cada “Ronda combo”, mesmo inimigos com 10 vezes mais de HP poderão ser derrotados em poucos minutos.

Para compensar não ser possível utilizar itens, há que tratar de ter bom equipamento (armas, escudos, armaduras, etc.), sendo disponibilizadas várias opções, podendo utilizar-se uma arma principal e\ou uma arma secundária (sejam espadas, lanças, machados, martelos, etc.), uma arma principal e\ou um escudo, ou até dois escudos, baseando a táctica na defesa e limitando as opções de ataque às habilidades. Dentro das habilidades pode recorrer-se às de controle e às de instinto: quer numas, quer noutras podemos utilizar buffs debuffscom uma das habilidades a ser vital para nos regenerarmos ao longo da batalha. Se por um lado as armas tanto podem ser compradas a vendedores que se encontram em certas cidades, como conseguidas de loot ao derrotar inimigos, as habilidades terão que ser desbloqueadas com pontos de habilidade que se conseguem ao evoluir por cada nível, merecendo elogios o facto de as opções serem bastante equilibradas e, uma vez que por cada nível que subimos ficamos com 4 pontos para melhorias, pode fazer-se uma gestão segura que compense o poder dos adversários, estando disponíveis aumentos do HP, ou da probabilidade de se esquivar ataques, por exemplo.

Os itens disponíveis em Vampire’s Fall: Origins limitam-se a 4: frasco de sangue, poção de viagem do morcego, atracção de criaturas e pedras de sangue. A função das primeiras três é autoexplicativa: o frasco de sangue permite curar e recuperar HP (existem 3 diferentes que recuperam quantias diferentes), a poção de viagem do morcego permite um fast-travel (apenas para as grandes cidades) e a atracção de criaturas serve mais para o grind quando não se quer esperar demais por um random encounter com um inimigo (ou numa hunt para atrair mais rapidamente um específico). Quanto às pedras de sangue têm a função de permitir a utilização de cada uma para forjar uma peça de equipamento, como a arma ou a armadura, melhorando as suas stats. Se os 3 primeiros itens podem ser adquiridos em fabricantes de poções que se encontram nas cidades do mapa, as pedras de sangue ou são encontradas em baús espalhados por diversos sítios por onde se passa enquanto se vai do ponto A ao ponto B (também há baús com ouro), ou têm de ser seleccionadas para serem fabricadas, demorando 40 minutos em tempo real (!) até ficarem disponíveis, o que achei péssimo para um jogo de Nintendo Switch, uma vez que, pese embora ter sido lançado originariamente para telemóvel, esta característica de Candy Crush não tem nexo num jogo de consola ou PC. Os restantes itens também podem ser fabricados, demorando entre 2 a 30 minutos, dependendo de qual for.

Na versão Nintendo Switch houve atenção nos controlos para ser jogado em modo portátil já que existe a utilização de funcionalidades touchscreen o que dá bastante jeito na gestão do inventário, principalmente se deixarem ultrapassar a quantidade máxima disponível e tiverem que escolher que arma ou peça de equipamento fica e qual sai, tornando-se fácil com a utilização dos dedos (o que não é de estranhar dado o port do jogo de telemóvel) O design do menus, no entanto, está longe de ser bonito, ficando-se pela excessiva simplicidade, ainda que funcional.

A vantagem da utilização do modo portátil também se verifica na componente gráfica e de som. Os gráficos são sofríveis pois apenas se consegue algum detalhe (pouco) nos NPC’s, na personagem que utilizamos e na água. Árvores, casas e cenários em geral do mapa ficam a dever em muito até a outros jogos lançados nas plataformas móveis, ressentindo-se de forma ainda mais pronunciada quando se joga em modo dock, pois numa TV tudo o que agora referi ganha uma outra dimensão negativa. Nos combates as animações não passarão de uma dúzia, e a variedade do design dos inimigos é, igualmente, bastante curta, repetindo-se quase na totalidade quando são humanos (alterações ligeiras na roupa ou no cabelo), além de entre ratos, lobos, patifes encapuçados e espectros, serem demasiadas batalhas no mínimo parecidas umas com as outras.

Na componente de som apenas nas cidades há uma melodia, que também repete em algumas delas, enquanto ao longo da exploração do mapa apenas são audíveis os passos da personagem e algum som ambiente de passarinhos a cantar, o que é manifestamente minimalista. Durante os combates ditos “normais” a música não fica para recordação e o mesmo se pode dizer da que é possível ouvir durante as boss fights, ainda que diferente das restantes lutas comete o mesmo pecado de ser repetitiva de uns para outros. O benefício da portabilidade explica-se com o podermos simplesmente ter a consola no silêncio e ouvir outra coisa qualquer enquanto se joga. Além destes aspectos, foram perceptíveis “soluços” enquanto se percorria o mapa, aparecendo até, por mais do que uma vez, a mensagem de estar a decorrer um “carregamento”.

 

Conclusão:

Vampire’s Fall: Origins é um port de um jogo lançado inicialmente para Android e iOS que, em virtude do sucesso aí alcançado, chegou também a um público mais abrangente através do PC e da Nintendo Switch. No geral é um jogo banal, quer pelo aspecto pouco ou nada polido, quer pela banda sonora minimalista, construído à volta de um enredo cliché que, com bom humor, não se leva a sério, mas que proporciona surpresas, com imensas side quests repetitivas, embora estas facilitem a evolução pelo XP e ouro que permitem acumular, aumentando ainda a longevidade. Contudo, proporciona combates por turnos divertidos, estratégicos e que com as opções e equipamento correctos divertem e entretêm.