As nossas queridas mascotes

Ah, as mascotes… Essas criaturas alvo da adoração de imensas pessoas. Não se pode, de maneira alguma, desvalorizar a importância das mascotes nos videojogos.

Sim, é verdade que a maior parte delas só se tornou popular devido ao sucesso dos jogos em que estão presentes, mas é também verdade que a sua existência acabou por transcender esses mesmos jogos. Algumas mascotes tornaram-se num símbolo, num ícone que permite identificar não apenas um jogo ou uma série de jogos, mas, também, uma empresa inteira. Existem dois exemplos paradigmáticos: quando se pensa em Nintendo, pensa-se, entre outros, em Super Mario; quando se pensa em Sega, pensa-se em Sonic.

Mas não é de Super Mario ou de Sonic que este artigo vai tratar. É sim, de quatro adoráveis mascotes associadas à Playstation (apesar de uma delas já não ser exclusiva da marca da Sony). Falo, pois, de Jak and Daxter (sei que são dois, mas contam como um), Sly Cooper, Ratchet & Clank (continuo a saber que são dois, mas continuam a contar como um) e Crash Bandicoot.

Jak and daxter

“Queremos um novo Jak and Daxter!” – esta frase está, certamente, espalhada por essa internet fora… Esta série de jogos de plataformas, desenvolvida pela Naughty Dog, teve a sua primeira entrega no agora longínquo ano de 2001. Apresentou um mundo colorido, relíquias em forma de ovo, muitos saltos e quedas, um grande sentido de humor e, claro, personagens carismáticas de entre as quais se destacam o Jak, um rapaz loiro e mudo, e o seu companheiro alaranjado, que nunca se cansa de falar, Daxter.

Este duo dinâmico regressou dois anos mais tarde, em 2003, num jogo com várias melhorias e mudanças em relação ao primeiro jogo, sendo de destacar, em primeiro lugar, o facto de o Jak ter deixado de ser loiro e mudo para passar a ser loiro, falador e bastante poderoso quando se chateava – também conhecido como Dark Jak. Em Jak II, passou-se da selva verdejante para uma cidade com tons mais escuros, constantemente patrulhada por guardas, que rapidamente atacariam Jak se este cometesse algum ato ilícito, e sobrevoada por naves conduzidas pelos seus cidadãos, que poderiam ser objeto de um furto caso a necessidade de uma fuga existisse ou, simplesmente, se a vontade de furtar assim o ditasse.

Os dois companheiros tiveram a sua última aventura da trilogia em 2004, mudando-se para uma área mais arenosa, onde a areia do deserto reinava. Depois de Jak III, o carismático e peludo Daxter teve a sua oportunidade de brilhar a solo na Playstation Portable (PSP) em 2006 e a dupla voltou a reunir-se em 2009 com o jogo Jak and Daxter: The Lost Frontier, lançado para a PSP e para a Playstation 2. Pelo meio, em 2005, os dois amigos fizeram-se à estrada no jogo de corridas, Jak X: Combat Racing. E depois?

Os anos passaram e os fãs da série esperavam que o duo regressasse com novas aventuras, mais cedo ou mais tarde. Uma luz de esperança acendeu-se, em 2012, com o lançamento de Jak and Daxter Trilogy, para a Playstation 3, que continha o três principais jogos da série remasterizados: Jak and Daxter: The Precursor Legacy, Jak II e Jak III. Certamente que, o lançamento desta coleção só poderia significar que um novo jogo com esta carismática dupla estivesse para breve.

A verdade é que, os anos continuaram a passar e a série continuou “arrumada”, a ver o caminho que ajudou a construir para o sucesso de séries como Uncharted e The Last of Us. Sabendo do carinho que os fãs sentem pela dupla, a Sony decidiu lançar, novamente, em 2017, a trilogia, desta vez para a Playstation 4 e com o acrescento de Jak X: Combat Racing.

Mas se, em 2012, o lançamento da coleção para a PS3 foi visto como um possível prenúncio para um triunfante regresso da série (que nunca se verificou), o lançamento da mesma coleção para a PS4 não foi visto da mesma forma.

E agora pergunta-se: porque é que a Naughty Dog, conhecida pela sua constante excelência em cada novo jogo que lança, abandonou esta amada série? Bem, a resposta é simples: a Naughty Dog tornou-se “mais adulta”.

E esta resposta não é apenas uma opinião deste escritor. Foi essa a resposta dada por um trabalhador do estúdio, Josh Scherr, em 2015, quando questionado, pela revista Game Informer, sobre se a Naughty Dog tinha saudades dos tempos em que faziam jogos mais “cartoonizados”. Apesar de respeitar a resposta do Sr. Scherr, não consigo concordar com ela. O facto de se passar a produzir jogos dirigidos a um público mais adulto não implica, necessariamente, que se tenha de abandonar a produção de outros jogos não dirigidos, exclusivamente, a esse público. Ainda para mais quando esses jogos “menos adultos” foram tão adorados e tanto reconhecimento deram ao estúdio que os criou.

Infelizmente, não se verifica nenhuma luz de esperança ao fundo do túnel para o futuro desta magnífica série. É claro que, as surpresas acontecem e nunca se sabe o dia de amanhã, mas por agora, Jak and Daxter continuarão apenas na memória daqueles que tiveram a oportunidade de os conhecer.

Sly COOPER

Um bando de ladrões constituído por um guaxinim, uma tartaruga e um hipopótamo. Uma raposa que é polícia e que persegue (salvo raras exceções), ferozmente, esse bando de ladrões. Eis os ingredientes principais da série Sly Cooper, protagonizada pelo guaxinim fanfarrão Sly, sempre ladeado pelos seus amigos de infância Bentley – a tartaruga e o “cérebro” do gangue – e Murray – o hipopótamo e o “músculo” desse mesmo gangue.

Inicialmente desenvolvida pela Sucker Punch (InFamous, Ghost of Tsushima), este curioso gangue de ladrões estreou-se em 2002, na Playstation 2. Os outros dois jogos da trilogia saíram em 2004 e em 2005 e uma coleção com os três jogos da série foi lançada, para a Playstation 3, em 2010. Três anos mais tarde, a série fez o seu triunfante regresso com uma nova sequela não numerada – Sly Cooper: Thieves in Time – lançada para a Playstation 3 e para a Playstation Vita. No entanto, a quarta entrega da série não foi produzida pela Sucker Punch, mas sim, pela Sanzaru Games.

Tal como Jak and Daxter (e as restantes séries que ainda irão ser abordadas), esta série de jogos enquadra-se também no género das plataformas. No entanto, e uma vez que se trata de um bando de ladrões, existe um maior foco numa aproximação furtiva, com a possibilidade de furtar, sempre de forma hilariante, moedas e itens dos bolsos de trás dos inimigos e depois, eliminá-los com um poderoso golpe, se estivermos a jogar com o Sly; um forte arremesso, no caso de estarmos a jogar com o Murray; ou colocar no bolso do pobre coitado uma bomba que explode ao fim de uns segundos, caso estejamos a jogar com o Bentley.

Apesar de todas as séries de jogos abordadas ao longo desta exposição terem um ótimo sentido de humor, para este escritor, é Sly quem mais provoca sorrisos e longas gargalhadas. Tal deve-se também à excelente dobragem portuguesa presente na série, a partir do segundo jogo – Sly 2: Band of Thieves (em português, Bando de Espertalhões).

Mas então, o que aconteceu ao nosso peculiar gangue de ladrões após 2013, ano em que foi lançado o último jogo da série? Lamentavelmente, o estúdio Sanzaru Games, responsável pela remasterização da trilogia para a PS3 e produtora do quarto jogo da série, foi adquirida pelo Facebook Gaming, este ano, e, por isso, terminou a sua parceria com a Sony, deixando Sly e os seus companheiros “sem dono” (leia-se, sem produtor, pois a propriedade da série pertence à Sony).

E quanto à Sucker Punch? Será que “atingiu a maioridade” como a Naughty Dog? Ou ainda se lembra da criança que existe em todos nós? A verdade é que, felizmente, a produtora norte-americana não anunciou que o estúdio se tornou “mais adulto”. Contudo, é percetível que com a criação da série InFamous e com o sucesso do mais recente Ghost of Tsushima, o estúdio também não esteja muito interessado em voltar para um mundo onde não há sangue nem decisões morais a tomar, que nos levam para o caminho do bem ou do mal.

Mas talvez bata aquela saudade de voltar ao convívio com Sly e o seu gangue, até porque, para quem jogou Thieves in Time até ao fim, sabe que ainda há história para contar. Não esquecer ainda que, antes de ser adquirida pelo Facebook Gaming e ser tirada das mãos da Sony, a Sanzaru Games, em 2019, apelou aos fãs para “dizerem à Sony que querem mais jogos” da série. Fica o conselho…

Ratchet & Clank

Mais uma dupla! Desta vez constituída por um robô que ia ser descontinuado e uma espécie de raposa humanoide – um Lombax para ser exato.

De todas as séries abordadas neste artigo, esta é, de forma clara e inequívoca, aquela mais consistente, aquela que não se deixa cair no esquecimento e aquela que se consegue manter relevante com o passar dos anos e das gerações.

Tal como Sly Cooper, Ratchet & Clank fizeram a sua estreia, na Playstation 2, em 2002. O grande ponto de destaque da série da Insomniac Games é e tem sido o vasto arsenal de armas, de todas as formas e feitios, à disposição de Ratchet. Como exemplos é possível referir: uma arma que transforma os inimigos em ovelhas; uma arma que é nada mais do que uma bola de discoteca que põe os inimigos a dançar, deixando-os vulneráveis; ou o mítico Sr. Zurkon, um pequeno robô matador que insulta os inimigos enquanto faz o que melhor sabe.

A série está a ser novamente alvo de atenção principalmente pelos fãs da Playstation, uma vez que, já no próximo ano, será lançado Ratchet & Clank: Rift Apart, um exclusivo Playstation 5. Apesar de a dupla ter estado bastante tímida na Playstation 4, com apenas um jogo, em 2016, que teve como principal objetivo acompanhar o lançamento do filme baseado no jogo (que é baseado no filme), nas eras da Playstation 2 e da Playstation 3 (e também da PSP) foram vários os lançamentos da série. Desses lançamentos considero importante destacar Ratchet & Clank: A Crack in Time (o último jogo da trilogia da PS3) que é, para mim, o ponto mais alto da série até ao momento.

Algo importante a destacar também é o facto de, durante todos estes anos, a Insomniac Games ter estado e continuar a estar ao leme da série. E como se sabe, o estúdio que agora pertence à Sony também já lançou os seus jogos dirigidos a um público mais adulto, nomeadamente, Sunset Overdrive – um exclusivo Xbox One lançado em 2014 – e Marvel’s Spider-Man – um exclusivo PS4 lançado em 2018. Ainda este ano, em Novembro, irá ser lançado Marvel’s Spider-Man: Miles Morales, o que demonstra que é possível para a Insomniac focar-se em mais do que uma série, uma menos e outra mais “adulta”.

CRASH BANDICOOT

Por fim, a série que, recentemente, viu ser lançado o quarto jogo da série principal e que fez o seu regresso com pompa e circunstância em 2017.

Crash Bandicoot é a mascote mais velha das quatro mencionadas, tendo feito a sua estreia na mítica Playstation (One), em 1996. Os primeiros três jogos da série foram desenvolvidos pela Naughty Dog e foi essa trilogia que deu fama à série e ao marsupial tresloucado.

Apesar de as outras séries mencionadas também pertencerem ao género das plataformas, é com Crash Bandicoot que este género mais se faz sentir. Não existe uma cidade ou um planeta para explorar, apenas vários níveis em que correr, saltar, girar e morrer são as palavras de ordem. E digo morrer, porque antes de os jogos da From Software se tornarem famosos pela sua dificuldade, já Crash Bandicoot o era pela mesma razão.

Após Crash Bandicoot 3: Warped, o último jogo da trilogia da Naughty Dog, ter sido lançado, a série andou de estúdio em estúdio durante vários anos, com vários lançamentos que, infelizmente, nunca atingiram o sucesso nem a qualidade dos três jogos originais.

No entanto, no ano de 2017, foi lançada, pela Activision, a trilogia original remasterizada intitulada N. Sane Trilogy que foi extremamente bem recebida tanto pelos fãs como pelos críticos. A boa receção que teve deixou claro que os fãs e até aqueles que tiveram pela primeira vez contacto com a série, queriam um novo Crash Bandicoot. Mas antes de trazer uma nova aventura de Crash, Coco e Aku Aku, a Activision voltou a presentear os fãs da série, em 2019, com uma dose de nostalgia ao lançar a remasterização do popular jogo de karts Crash Team Racing (CTR) – chamado agora Crash Team Racing: Nitro-Fueled. Assim como a remasterização da trilogia, também o lançamento de CTR com novos gráficos e jogabilidade afinada foi um sucesso.

E eis que, depois de gradualmente reintroduzir Crash Bandicoot no mundo dos videojogos, a Activision anunciou e lançou, este ano, Crash Bandicoot 4: It’s About Time, desenvolvido pela Toys for Bob. Foi a derradeira recompensa para os fãs da série que tanto ansiavam por um novo jogo e que, certamente, ficaram satisfeitos por ver o seu marsupial favorito de regresso e em grande forma.

Ao contrário de Jak and Daxter que também foi deixado ao abandono pela “adulta” Naughty Dog, Crash Bandicoot foi resgatado e está de volta para a alegria de imensos fãs, com novas aventuras e tropelias.