The Last of Us Parte II – É justa a revolta dos jogadores?

Se há coisa a que a Naughty Dog nos habituou foi a sequelas de sucesso.

The Last of Us Parte II vem pegar no que foi feito há 7 anos atrás, continuando a história do primeiro jogo, retomando-a volvidos 5 anos. Joel e Ellie assentaram numa comunidade, no que fora o estado de Wyoming, até que certos acontecimentos metem em marcha a trama desta sequela.

Desengane-se quem acha que se trata de um simples jogo, trata-se de toda uma experiência e, na minha opinião, não destinada a todos os jogadores. Veja-se a chuva de críticas de que foi recentemente alvo. Inclusivamente, jogadores descontentes iniciaram uma petição para alterar a história.

The Last of Us Parte II é um jogo complexo, com demasiadas vertentes, tornando-se mais simples de analisar por partes.

História

É aqui que o jogo lança os seus alicerces, sendo preciso coragem para fugir ao fácil e simples. E, felizmente, coragem foi precisamente o que a equipa teve. Mas histórias intensas, que vão contra o que os fãs idealizaram para as personagens que tanto gostam, estão longe de não ser polémicas.

Fiquei agarrado desde os primeiros minutos, The Last of Us Parte II está realizado de forma soberba, como um filme lento, daqueles que se saboreiam em cada diálogo, em cada pausa. E acreditem, há muitas pausas, os tempos são tudo o que não se esperaria num jogo de consola, onde os jogadores estão habituados a reações rápidas e cutscenes breves. Aqui, somos convidados a saborear as situações, a apreciar a lentidão de uma conversa emotiva, de um flirt, de um pai a oferecer um presente à sua filha adotiva.

Os diálogos estão muito bem escritos, plausíveis e carregados de densidade emocional, na sua interpretação. Retirando a vertente jogo, sem dúvida que ficaria agarrado às cutscenes, como se de um filme se tratasse.

Todas estas cenas são fenomenais, mas quando o controlo é de novo passado ao jogador, entramos noutro campo.

Mecânicas de jogo

Aqui The Last of Us Parte II pega no seu antecessor e, mais uma vez, constrói sobre uma base sólida. As mecânicas estão lá, mas mais refinadas.

Sentimo-nos compelidos a vasculhar todos os recantos do cenário, de forma a que não fique um único recurso por recolher. E podem crer, mesmo esses vão parecer poucos. O mundo está recheado de ameaças e podemos contar com uma inteligência artificial que dá luta e procura ativamente por nós.

O combate está realista e intenso, podemos e devemos adotar técnicas furtivas, tentando alcançar o alvo por trás, eliminando-o silenciosamente. Contudo, quando isso falha, somos obrigados a combater de forma mais aberta. Aí a adrenalina é garantida. Embora tenhamos armas à escolha, é sempre difícil dar um tiro certeiro no meio do caos. Podemos desviar-nos e contra-atacar, mas é uma manobra mais eficaz quando temos um ou dois adversários e os canos, machados e bastões têm durabilidade limitada, relembrando-nos que nos encontramos num mundo com recursos cada vez mais escassos.

Devido a isto, somos sempre impelidos a abordar uma estratégia mais discreta, evitando encontros que nos façam gastar balas e medkits preciosos.

Ao longo do percurso e à semelhança do jogo antecessor, vamos também recolhendo diferentes recursos, desde munições para as nossas armas, peças para as melhorar, entre outros, que nos permitem criar medkits, bombas de fumo, cocktails molotov, tripmines, etc.

Os inimigos podem não ser muito diferenciados, mas dão imenso gozo. Infetados ou humanos dão luta de formas diferentes e múltiplas estratégias terão de ser usadas para os combater. Gostei da forma como é imaginado que, num cenário devastador como este, o maior perigo não é o agente patogénico, mas sim as pessoas, estando isso bem vincado, mais ainda, pelo facto de que a personagem que controlamos não ser excepção.

Cenários

Deslumbrantes e incrivelmente pormenorizados, aqui também se percebe o porquê deste jogo ter tempos de produção longos. Tudo está pensado ao pormenor, não há recantos mais pobres e edifícios reais são inseridos neste mundo virtual de forma tão fidedigna e imponente como no mundo real.

A devastação, inicialmente causada por conflitos, e a invasão por parte da natureza foram imaginados e traduzidos para este mundo alternativo de forma irrepreensível, tornando a imersão do jogador, neste mundo, uma das melhores que já experienciei. Quem já visitou edifícios abandonados sabe o quão rapidamente se inicia a deterioração e tudo aqui parece, uma vez mais, plausível.

Banda Sonora

Pouco há a dizer sobre um jogo cuja banda sonora é composta por Gustavo Santaolalla. O tema principal enquadra-se perfeitamente na temática e aumenta ainda mais a imersividade.

Claro que a presença de covers dos anos 80 dão um efeito ainda mais cool a tudo, com a interpretação de Take on Me por parte da Ellie sendo, para mim, um dos momentos mais bonitos.

Analisando o todo, The Last of Us Parte II é um feito em todos os campos, tecnicamente irrepreensível e com incrível substância. Será certamente um jogo que ficará para a posteridade e bitola para muito do que se fará daqui em diante.

Conclusão:

The Last of Us Parte II não deixa pontas soltas, é um jogo maduro, pensado ao pormenor e de uma densidade difícil de igualar. Não é para jogadores que procurem gratificação instantânea, mas sim para quem procura uma experiência densa, complexa, com uma história coesa e que agarre, populada de personagens que nos emocionem. O mundo de The Last of Us Parte II é brutal e não perdoa. É importante ter isso em mente ao experienciar este jogo. Os detratores desta magnífica obra prima deviam ter isso em consideração e perceber que a visão artística aqui patente não é para se concordar ou discordar, é para saborear, inclusivé os dissabores que provoca.

Se The Last of Us fechou a chave de ouro a geração de consolas PS3, The Last of Us Parte II faz exatamente o mesmo com a geração PS4.

 

The Last of Us Parte II é um exclusivo Playstation 4.