Tenho de vos confessar algo.
Eu sou aquele tipo que quando tinha 10 anos viu o jogo tabletop Battletech, chorou, pediu e juntou todo o dinheiro que tinha guardado de Natais e aniversários para, muitos mas muitos meses mais tarde, conseguir ter nas suas mãos um jogo de tabuleiro do qual mal conseguia entender as regras e que, na verdade mais serviu para recortar as peças dos magníficos mechs (ainda hoje sou fã) e brincar simplesmente com elas, como se de G.I. Joe’s se tratasse – infelizmente as peças eram mesmo apenas pedaços de cartão e não figuras de plástico como eu pensava que seriam. O que quero dizer com isto, mudando de analogia (mas não descomplicando a situação) é que entre um Civilization e um Europa Universalis, eu sempre fui mais team Civ. Chamem-me simplório, mas eu gosto da minha estratégia minimamente acessível, sem ter de ter de andar a ler compêndios com anexos de A a Z para conseguir divertir-me a jogar um jogo. O que quero dizer com esta tão elaborada introdução é que Rising Lords é certamente para alguém, mas definitivamente não é para alguém como eu.
Desenvolvido pelo estúdio independente Argonwood, Rising Lords é um jogo de estratégia, passado nos tempos medievais, que combina uma série de aspectos de jogos de estratégia digitais, com jogos de estratégia de tabuleiro, ao mesmo tempo que as mistura com mecânicas que também se têm popularizado nos últimos tempos, como por exemplo a construção e manipulação de decks de cartas como forma de organizar e mover as nossas “peças” no “tabuleiro”, criando uma experiência que pode ser tão profunda como complexa.
O objetivo principal é o de sempre: levar a nossa “civilização” a “bom porto”, enquanto lidamos com todas as outras que querem fazer exactamente o mesmo. A diferença deste para a maioria dos jogos do género prende-se justamente na execução de velhas e novas fórmulas, bem como na forma como esta mistura funciona in-game.
Rising Lords oferece aos seus jogadores uma liberdade de movimentos e de decisões realmente incrível, no que diz respeito à construção e movimentação dos seus exércitos ou à construção de colónias/settlements. Aqui os jogadores têm uma míriade de opções à sua disposição e podem controlar praticamente todos os aspectos dentro das suas povoações ou cidades: podem colectar impostos, impor a pesquisa ou recolha de determinados recursos, controlar a quantidade de comida produzida e consumida, forjar armas, enfim, o costume, mas com um nível de detalhe que, aos meus olhos, me parece simplesmente absurdo. É claro que isto tudo deve ser bem medido se queremos manter a paz entre os colonos, pois estes rapidamente se podem virar contra nós se as nossas decisões os importunarem em demasia.
Em Rising Lords um outro aspecto que é essencial é o uso da diplomacia e com muito mais facilidade conseguimos levar “a nossa” a bom porto através do diálogo do que do combate. Mas neste momento (o jogo ainda está em early access) a forma de atingir um end-game satisfatório ainda é simplesmente aniquilar rapidamente os nossos inimigos, mesmo havendo um enorme leque de opções à nossa disposição. Outra coisa que também salta à vista e que nos “grita” constantemente “ainda não estou acabado” é a tradução portuguesa que parece estar feita a meio gás, misturando frases totalmente traduzidas (e bem) com expressões em inglês.
Conclusão:
É a tal coisa, Rising Lords, mesmo quando finalizado nunca será um jogo para mim. No entanto consigo ver nele um potencial enorme para os fãs de jogos de estratégia mais “sérios”.
Haverá muito por explorar em Rising Lords e recomendo que o façam, mas não para já pois, sendo totalmente “jogável”, penso que o jogo ainda se encontra numa fase demasiado embrionária. Mesmo não sendo “a minha praia”, acho que este é um daqueles jogos que poderá fazer as delícias de um certo nicho de mercado que cada vez mais é tudo menos um nicho de mercado.
Nasceu num dos melhores anos para nascer, 1980, e cresceu com um enorme desejo de poder jogar nas máquinas de jogos. Cumpriu esse desejo no dia em que finalmente fez 16 anos e pode legalmente entrar em salões de jogos. Infelizmente também descobriu que jogar custava dinheiro e por isso resolveu estudar mais um bocado. Hoje é publicitário e feliz proprietário de uma Super Nintendo. O seu jogo favorito ainda é o Street Fighter II.