Assunto que habitualmente proporciona acalorados debates, a exclusividade dos jogos nas consolas faz crescer a indústria e o interesse dos jogadores. Como?
Começo por fazer uma declaração prévia: o artigo que se segue não refere, nem pouco mais ou menos, todos os exclusivos fantásticos que existem ou que já estejam anunciados para as consolas referidas, pois a dimensão seria gigante! Não se pretende dar mais importância a uns do que a outros.
No rescaldo da bombástica notícia da aquisição da Bethesda por parte da Microsoft, pela “módica” quantia de 7.5 mil milhões de dólares, as conversas, rumores e teorias sobre esta jogada foram mais que muitas.
“Não veremos Fallout 5 e The Elder Scrolls VI na PS5?”, pensaram muitos. Só o tempo dirá se os planos serão esses, mas para dar já alguma esperança e tranquilidade a quem planear jogar apenas na plataforma da Sony, cumpre referir que The Outer Worlds, RPG muito bem recebido pela crítica e lançado o ano passado, está disponível para Xbox One, PlayStation 4, Nintendo Switch e PC, mesmo tendo sido desenvolvido pela Obsidian, estúdio que desde Novembro de 2018 pertence à Microsoft.
Além da aquisição da Obsidian e da Bethesda, também no ano de 2018, em Junho, a Microsoft comprou a Ninja Theory (produtora, entre outros, de DmC: Devil May Cry e Hellblade: Senua’s Sacrifice), tendo anunciado, para alegria de muitos (eu incluído) estar a ser desenvolvido por este estúdio o jogo Senua’s Saga: Hellblade II, através de um fantástico trailer durante a gala The Game Awards 2019, com exclusividade em consolas para Xbox Series X | S.
Nos últimos dias, foi ainda ganhando força um rumor que dava conta da intenção da compra da SEGA, também por parte da companhia fundada por Bill Gates, entretanto, mais ou menos desmentido pelo Twitter oficial da Xbox, ao informar que, durante o evento Tokyo Game Show 2020, que decorre até ao próximo dia 27/09/2020, não irão avançar com notícias de novas aquisições. Uma coisa parece certa: ter jogos first party, mesmo na nova geração que está aí a chegar, continua a ter peso para as empresas.
Tal como já tinha feito referência, a compra da Obsidian não impediu que o seu mais recente jogo tenha sido lançado na PS4 e na Switch, pelo que a Microsoft poderá, numa primeira fase, estar mais interessada em garantir já mais subscritores para o seu Game Pass (Doom Eternal já foi confirmado como estando neste serviço a partir de Outubro), mas mesmo que não impeça o lançamento de, por exemplo, The Elder Scolls VI na rival da Sony. Certamente, quererão ter software nas suas novas consolas, que contribua para serem os chamados system seller.
A PlayStation realizou o seu último livestream no passado dia 16/09/2020 e como é que arrancou? Com o fortíssimo anúncio de Final Fantasy XVI, exclusivo consola, para a PS5. E como terminou o evento? Com o anúncio de mais uma entrada na sua franchise exclusiva, God of War (subtítulo, Ragnarok). Pelo meio, ainda foi mostrado gameplay do exclusivo remake de Demon’s Souls.
Desde há muito que a PlayStation se tem destacado pelos seus jogos first party, sendo sempre muito elogiada pela aposta, por parte dos seus consumidores, até levando a algumas reacções negativas quando a exclusividade total é perdida aquando do lançamento do mesmo jogo para PC (como aconteceu recentemente com Horizon Zero Dawn). Só este ano, jogos como Persona 5 Royal, The Last of Us Part II e Ghost of Tsushima foram lançados e só podem ser jogados num único sítio: numa PlayStation 4. Na Xbox One, por outro lado, o único exclusivo consola de 2020 que sobressaiu foi Ori and the Will of the Wisps e mesmo este jogo já se encontra disponível para os utilizadores da Nintendo Switch. A política de aquisição de estúdios não é recente, fazendo parte do portfólio da Sony, nomeadamente, a Naughty Dog (sagas Uncharted e The Last of Us), Santa Monica Studio (saga God of War), Sucker Punch Productions (saga Infamous e o recente Ghost of Tsushima) ou Guerrilla Games (sagas Killzone e Horizon), com a Insomniac Games a ser o mais recente a pertencer à “família”, depois de vários anos de colaboração mútua, através da série Ratchet & Clank e após o estrondoso sucesso com Marvel’s: Spider-Man, que foi lançado apenas para PlayStation 4. De tal forma esta política faz parte do modo como a Sony encara o mercado que, em 2012, lançou um jogo inspirado na famosa série Super Smash Bros., denominado PlayStation All-Stars Battle Royale, em que apenas 4 personagens não eram passíveis de serem jogadas de forma exclusiva em consolas PlayStation.
Por seu turno, a Nintendo também vê na exclusividade dos jogos um trunfo na venda dos seus sistemas, como está bom de ver. Mario, Zelda e Pokémon são atractivos há mais de 30 anos(!!) não dando qualquer sinal de fraqueza (e ainda bem, digo eu!), e personagens como Luigi, Kirby, Donkey Kong, Yoshi ou Wario tiveram standalone games que só podem ser jogados em consolas da empresa sediada em Quioto, tanto caseiras como portáteis. Mas não tem ficado por aqui. Não só é detentora da Monolith Soft (Xenoblade), por exemplo, como “salvou” a extraordinária personagem Bayonetta, uma vez que depois de ter sido a SEGA que inicialmente investiu no jogo da Platinum Games, uma parceria desta produtora com a Nintendo é que permitiu a existência de uma sequela (na Wii U), estando já confirmado o terceiro jogo em exclusivo para a Switch. Ainda no último evento em directo, no dia 17/09/2020, foi divulgado que a chegada do próximo jogo da série que é um sucesso de vendas, Monster Hunter: Rise, também precisará de uma Switch para ser jogado, tal como acontecerá com Disgaea 6 (este em exclusivo consola apenas).
Como creio que ficou claro, ter software exclusivo nos seus sistemas é, ainda hoje, muito importante para as grandes empresas de videojogos, pois procuram utilizar a publicidade de uma forma bastante agressiva (no bom sentido) para tentar demonstrar que o hardware que vendem consegue, além de todas as specs avançadas, do poder de processamento ou dos frames por segundo, ter uma biblioteca de jogos para apresentar que os concorrentes não. Esperam, assim, fazer a diferença, na altura do consumidor escolher, dado que, na maior parte dos casos, os orçamentos são limitados e há que fazer opções. Feliz de quem puder usufruir do melhor de todos os Mundos!
Eu sempre fui da opinião da importância, e necessidade até, de existirem exclusivos, vendo como positivo e salutar a perda dessa exclusividade. Confuso? Eu explico-me: Se TODOS os jogos fossem lançados de imediato na mesma plataforma, a competitividade e a criatividade por parte de uma companhia rival não teria razão de ser, pelo que não haveria necessidade de pensar em algo que pudesse atrair outro público, deixando-nos (consumidores) reduzidos a uma única opção. No fundo, sem exclusividade, não haveria motivo para escolher. Comprar a consola A, B ou C ou ficar-me pelo PC seria quase irrelevante, pois poderia jogar o mesmo em qualquer uma, ainda que numas com mais ou menos fluidez ou com mais ou menos qualidade de imagem.
A vontade da SEGA entrar no Mundo das consolas levou à criação do Sonic, por forma a “combater” o Super Mario (o documentário da Netflix, High Score, aborda o assunto). A saga Tomb Raider serviu de inspiração a Uncharted. Os jogos Forza certamente que se empenharam em captar público aos aficionados de Gran Turismo. E, estou em crer, que a popularidade conseguida pela série Resident Evil, alimentou as mentes brilhantes por trás de Alan Wake e The Last of Us, por exemplo.
Pessoalmente, o que mais me importa são os jogos propriamente ditos, a sua qualidade e os meus gostos, e existir a possibilidade de optar pela plataforma A, B ou C por causa deles alegra-me. O que tenho visto ao longo dos anos é que as produtoras se esforçam bastante para atrair a nossa atenção e a nossa carteira. Quando a exclusividade deixa de existir, seja por ser temporária ou, como no exemplo recente de Horizon Zero Dawn (também está disponível para PC quando era um exclusivo PS4), em que houve mudança de estratégia de quem detinha a totalidade dos direitos sobre a IP, parece-me óptimo o facto de jogadores que não tinham forma de aproveitar um jogo pelo qual teriam interesse, verem isso deixar de ser obstáculo e poderem desfrutar também. Quem fez o jogo factura mais, quem não o podia jogar, passa a poder. Todos têm a ganhar.
Que os exclusivos continuem por muitos e bons anos!
O meu primeiro contacto com os videojogos aconteceu por altura do meu 8º aniversário, quando recebi de prenda uma SEGA Mega Drive, ficando “agarrado” a jogos como “The Revenge of Shinobi” ou “Streets of Rage 3“. Anos mais tarde, tive a possibilidade de experimentar a primeira PlayStation, juntamente com o original “Spyro the Dragon”, jogando a todas as consolas da Sony desde essa altura (caseiras e portáteis). Nenhum jogo, até hoje, me marcou mais do que o Final Fantasy X, mas creio que o que mais horas joguei foi o PES 5, também na PS2. Adoro jogos de ação na 3ª pessoa, visual novels e RPG’s no geral (para indicar alguns géneros), mas tenho um fraquinho particular por turn-based JRPG.