O co-op local é um modo negligenciado pela industria. Quantas casas não procuram avidamente por jogos que ofereçam o prazer de jogar a dois, lado a lado?
Aqui em casa (felizmente) moram dois gamers. Divido e partilho o tempo de consola, no sofá, com a minha cara metade. Muitos dos momentos que temos em conjunto passam por jogarmos juntos. E é aqui que o mercado dos videojogos nos dificulta a vida: a oferta de jogos que ofereçam o modo cooperativo local é extremamente reduzida. E, dentro dessa já curta oferta, é ainda mais restrito o número de jogos realmente interessantes para o nosso gosto.
A ausência de oferta levou-nos a fazer três playthrough de Resident Evil 5, outros tantos de Lord of the Rings: War in the North e dois de Divinity the Original Sin. Estamos ainda a concluir o segundo playthrough de Divinity the Original Sin 2. São jogos que merecem ser jogados mais que uma vez, oferecendo boa re-jogabilidade, mas, sem dúvida, que apenas o fizemos porque, após os concluirmos, não encontrámos sucessores que nos oferecessem experiências similares.
Com o passar dos anos, a sobrevivência do co-op de sofá, outrora quase imprescindível, está por um fio. A internet de alta velocidade eliminou a necessidade de partilha de um espaço físico, na experiência multi-jogador. O multi-jogador online tornou o co-op de sofá obsoleto. Apesar de não oferecer a mesma experiência rica, em que partilhamos risos e momentos de tensão lado a lado, oferece uma experiência similar, de uma forma muito mais conveniente.
Agora, amigos podem jogar juntos, estando em casas separadas. Podem estar até em pontos do Mundo totalmente opostos. Já não temos de esperar que o nosso amigo saia da escola para vir jogar connosco ou, para a minha geração, que a agenda entre trabalho e família se alinhe entre amigos. Ou até que não tenhamos nenhum amigo com quem jogar aquele jogo que tanto gostamos. Basta entrar online e encontrar milhares de pessoas de todo o Mundo disponíveis, a qualquer momento, para jogar connosco.
Outra vantagem do multi-jogador online é a eliminação do ecrã dividido. Ter de dividir o ecrã em áreas de jogo menores, reduz a experiência visual do jogo e, em alguns casos, até torna alguns momentos logisticamente complicados.
Obsoleto sim, mas desnecessário? Por favor, não! Não vou entrar pela ideia romântica da experiência de jogo partilhada com alguém sentado ao nosso lado ser superior, pois isso seria fechar os olhos à evolução social e tecnológica dos tempos e já aqui indiquei as vantagens do jogo online.
Contudo, os amigos podem jogar uns com os outros online, mas e as famílias? Casais, irmãos, pais e filhos… não se esqueçam que a primeira geração de entusiastas de videojogos são agora pais de crianças e jovens adultos que também jogam. A possibilidade de jogar localmente é algo que pode transformar um videojogo numa experiência de partilha familiar. Os tempos pandémicos em que vivemos, que confinaram famílias inteiras em casa, deviam servir de catalisador para que a indústria percebesse que o co-op local não pode morrer e deve ser revigorado.
De facto, parece-me que apenas falta vontade por parte dos estúdios. Vontade de ver que até há um mercado para o modo, mas, sobretudo, vontade de investir em ter essa funcionalidade disponível.
Temos um exemplo recente de como um jogo desenvolvido a pensar no coop local (e também multi-jogador online) foi um sucesso de vendas. A Way Out, da Hazelight Studios e publicado pela Electronic Arts em 2018, vendeu mais de 1 milhão de cópias em 2 semanas, provando que há mercado para o modo. Neste jogo, só conseguimos jogar com 2 jogadores, com estes a controlarem Leo e Vincent, 2 prisioneiros que tentam evadir-se e fugir às autoridades.
Naturalmente que isto é um projecto muito específico e não esperamos muitos similares. Contudo, pode ser falta de conhecimento a falar, mas não estou a ver quão mais exigente para o desenvolvimento de um jogo, que já está desenhado para multi-jogador, será acrescentar a possibilidade local. Passará por acrescentar um split screen ou, como em muitos casos, apenas um segundo jogador controlável no mesmo ecrã. Nos dias que correm e com a tecnologia ao dispor, não me parece um problema.
Aqui, acredito que a recente forma de monetizar os jogos multi-jogador poderá provocar alguma interferência. Cada vez mais, os modos multi-jogador estão minados de fontes de rendimento extra para os estúdios. Loot boxes como em Star Wars Battlefront ou micro-transacções como em Fortnite funcionam num ambiente de jogo online e não seriam rentáveis se um co-op local estivesse disponível.
Felizmente, temos estúdios que não abandonaram este modo e são faróis no meio da industria. A Larian Studios é um exemplo notável. A sua série Divinity mostra como pode ser interessante para um RPG poder ser jogado localmente e como isso parece ser um modo facilmente implementável. Faz-nos olhar para o mercado, ver a quantidade de RPG similares, como Pillars of Eternity ou Sword Coast Legends, e questionar porque não há mais jogos com modo cooperativo local.
Parece-me, sobretudo, que o co-op local é território explorado sobretudo por títulos indie. E como seria interessante se jogos maiores incorporarem esse modo. Como eu gostava de partilhar, no sofá, momentos de jogo em títulos como Mass Effect Andromeda ou Dragon Age Inquisition, que muito embora disponibilizem modos multi-jogador, não o permitem localmente.
Por agora, resta-nos, aqui em casa, terminar o segundo playthrough de Divinity Original Sin 2, explorar o indie How to Survive 2 e esperar, ansiosamente, que a versão definitiva de Baldur’s Gate 3 chegue às consolas.
Começou a jogar ainda os jogos se carregavam a partir de uma cassete de fita magnética. Completamente viciado em FIFA, é também fã incondicional de RPGs e Jogos de Estratégia. Junta, aos videojogos, a paixão pelos jogos de tabuleiro.