Werewolf: The Apocalypse – Earthblood – Lobisomem ou cachorrinho?

Embora não seja amplamente conhecida, a Cyanide Studios não tem um currículo pequeno. O que se passou então com Werewolf: The Apocalypse – Earthblood?

A premissa era promissora. Seres que alternam entre homem, lobo e lobisomem num RPG de ação, prometia trazer algo diferente. Mas algo falhou.

Criado a partir do jogo tabletop RPG  Werewolf: The Apocalypse, tem lugar no World of Darkness, onde também tem lugar Vampire: The Masquerade. Nesta versão digital do jogo, a história coloca, de uma forma muito dicotómica, humanos contra lobisomens. Os primeiros representam a industrialização e os segundos a defesa de Gaia, a mãe natureza, que aos poucos morre às mãos da ganância e exploração do ecossistema, representada pela energia cósmica e maléfica do The Wyrm.

Somos Cahal, um licantropo que, devido a um acontecimento traumático, se afasta do seu clã e começa a fazer justiça pelas próprias mãos. Tudo muda quando o perigo se aproxima novamente do seu clã e o faz regressar para combater o inimigo.

O que me atraiu para Werewolf: The Apocalypse – Earthblood foram as mecânicas. Existem três formas em que controlamos Cahal. A de homem, em que nos podemos movimentar, interagir e na qual podemos disparar uma pequena besta, com quantidade muito limitada de munições. A forma de lobo, na qual podemos explorar, uma vez que é a mais veloz de todas as formas, e a qual nos permite movimentar de forma a não sermos detectados. Quando a coisa azeda, Cahal transforma-se em lobisomem, a forma de combate. Nesta temos duas posturas, a veloz e a agressiva, sendo que podemos ainda libertar a nossa fúria, que conjuga ambas as posturas sem penalizações.

Os combates são rápidos e caóticos e foram estes que me chamaram a atenção. Um RPG em que não existem praticamente armas, se luta com garras e se alterna entre modos de jogo, estava interessado! Os combates vivem de um misto de combos de ataques, esquivar a disparos e ataques especiais. Isto enquanto alternamos entre o modo veloz e agressivo, de forma a nos deslocarmos mais rapidamente no campo de batalha ou sermos mais agressivos. Podemos pegar em inimigos e atirá-los, ou desfazê-los, enquanto nos esquivamos de disparos de várias armas. Desde pistola e caçadeiras a tiros de prata, que causam dano que não pode ser curado até ao fim da batalha.

Tudo isto, inicialmente, parecia interessante. Mas Werewolf: The Apocalypse – Earthblood falha em diversos aspectos.

Começamos pela história. Não é que esta não exista, mas caímos nela sem contexto, sem o mínimo background para as personagens e muito pouco nos é dito sobre a sua luta, se bem que esta tem mais contexto que o restante. Tudo isto poderia ser mitigado se o voice acting não fosse tão pobre. O grito que Cahal dá quando algo muito trágico lhe acontece não é muito diferente do que daria caso lhe tivessem roubado a carteira, não transparecendo nenhuma emoção. O mesmo se aplica aos restantes diálogos, que se revelam insípidos e sem emoção e onde os atores parecem ter-se limitado a ler o texto.

Também os movimentos careciam de algum refinamento, embora na personagem principal se note ter havido algum cuidado e tenha a sua movimentação mais fluída em todas as formas de homem e lobo/lobisomem. A movimentação como lobo está muito bem conseguida, por exemplo. Contudo, nos combates, os inimigos, ao ser mortos ou capturados, assumem automaticamente uma postura de ragdoll demasiado óbvia, com braços e pernas a movimentarem-se de formas pouco naturais. Também os diálogos são demasiado estáticos o que, aliado à fraca performance de voz, não ajuda na imersividade. Muitas vezes me veio à memória o lançamento de Mass Efect: Adromeda.

O Stealth é a parte mais bem conseguida do jogo. A passagem de humano para lobo está muito bem feita e proporcionou-me os momentos mais divertidos. Como lobo, passamos mais facilmente despercebidos e permite-nos efetuar takedowns a inimigos que não dão por nos aproximarmos. Ao chegar perto de um oponente, Cahal transforma-se imediatamente em humano e aplica golpes que o neutraliza. Em stealth esta troca entre modos é muito recorrente pois permite aliar a movimentação rápida à destreza humana para abrir portas ou sabotar equipamentos.

O percurso é feito por áreas, onde teremos de passar despercebidos ou “limpar” de inimigos. Estas contêm aberturas de respiradouros ou zonas nas quais o lobo pode passar despercebido. Podemos é ser detectados (ou escolher sê-lo) e aí entramos em modo lobisomem, passando à ação. O que me incomodou em algumas áreas foi possuirem portas específicas para a entrada de reforços, que não servem para mais nada, o que faz zero sentido num edifício corporativo, mesmo que fortemente guardado. A curiosidade dessas portas é o facto de poderem ser sabotadas, o que confere dano crítico às unidades que por elas entrem.

Outro factor que poderia ter sido facilmente considerado como menor é o facto de que, visualmente, parecemos estar perante um jogo de geração anterior. Juntado ao anteriormente mencionado, toma outra proporção.

Conclusão:

Werewolf: The Apocalypse – Earthblood faria mais sentido se estivesse em early access e não fosse apresentado como produto acabado. Dando a sensação de que foi um bom início mas que no final ou não foi bem explorado, foi de alguma forma apressado ou perdeu o financiamento. Tem boas ideias mas de concretização algo deficitária. É pena, esperava algo muito mais interessante. Ainda para mais quando procura passar uma mensagem de ecologia e respeito pela natureza.