Lara Croft – 25 Anos de um Ícone

No dia 14 de Fevereiro, Lara Croft fez anos. Quantos? A Lady never tells, como ela própria diria.* Mas em 2021 celebram-se 25 anos desde que a vimos pela primeira vez.

Tomb Raider é sem dúvida uma série icónica de videojogos – atrevo-me inclusivamente a dizer que não há gamer que se preze que nunca tenha pegado num. Para os fãs mais ávidos, acredito também que ficou gravado na memória o primeiro contacto com a franquia. No meu caso, nunca me esquecerei da caverna perto da Grande Muralha da China, onde tive (em pânico, devo acrescentar) de saltar e esquivar-me de tigres enquanto tentava perceber os controlos.

Estes gráficos eram super realistas em 1997, eu tinha razão para me sentir aterrorizada.

O meu amor pela Lara Croft começou então em 1997. Lara apresentava-se como uma mulher independente, confiante e aventureira, e o facto de ser retratada com cabelos e olhos castanhos só me fez sentir mais próxima dela (eu própria tinha cabelo e olhos castanhos na altura). A partir daí, acompanhei as suas aventuras, crescemos juntas, e lembro-me também de ficar despedaçada quando saíram as primeiras notícias de que Lara Croft tinha efetivamente morrido quando saiu Tomb Raider Chronicles em 2000 (sim, porque o final do The Last Revelation foi no mínimo ambíguo, por isso sempre acreditei que ela tinha sobrevivido – afinal, estamos a falar de Lara Croft).

Mas estou-me a adiantar um bocado, aqui – nada de novo, de cada vez que falo em Tomb Raider começo a divagar, porque há tanta coisa boa por onde pegar (especialmente as BDs, que são lindas!). Em 25 anos de Tomb Raider, o que podemos salientar?

Para começar, o ponto mais óbvio: a heroína mais famosa dos videojogos (aliás, Lara Croft ganhou o record do Guiness para a heroína de videojogos com mais vendas). Criada por Toby Gard, inicialmente Lara era suposto ser uma mercenária sul-americana chamada Laura Cruz; no entanto, devido à dificuldade na pronunciação do nome, Laura Cruz passou a Lara Croft, e da América do Sul passou para a Europa. Aqui, Lara inclusivamente se tornou Lady e mais sofisticada que na ideia original.

Arte conceptual para Laura Cruz.

Quando Tomb Raider saiu em 1996, o seu tremendo sucesso pavimentou o caminho para que mais personagens femininas pudessem chegar até nós nos anos seguintes. Começando por ser exageradamente sexualizada (se não se recordam do rumor do Nude Raider, são demasiado novos!), depois destes anos todos Lara acabou por se tornar um símbolo de que sim, as mulheres podem fazer o que os homens fazem. E fê-lo de tal maneira que acabou por transcender-se a si mesma: passou de personagem de videojogo para uma pessoa de carne e osso (muitas modelos retrataram-na para eventos promocionais), para personagem de banda desenhada (isto é assunto para um outro dia, que posso redigir páginas e páginas dedicadas às histórias dos comics da Top Cow), para personagem de filme, e ainda hoje é complicado pensar em Angelina Jolie sem fazer a associação à franquia Tomb Raider.

Mas o sucesso de Tomb Raider não se deve só à sua fantástica protagonista. O lançamento do primeiro jogo foi um avanço tecnológico, e passou a ser um marco para a PlayStation, sistema onde teve mais sucesso. Os gráficos inovadores, os puzzles e os ambientes eram únicos e algo nunca visto num só jogo. Apesar da série ter decrescido em termos de qualidade de história, com muita gente a afirmar que Angel of Darkness é o pior jogo de toda a franquia (discordo profundamente, mas eu também acho que não há jogos maus de Tomb Raider), em 2006 a Crystal Dynamics toma o leme e vemos o primeiro reboot da heroína com Tomb Raider: Legend. Aqui temos uma Lara mais “humana” (tanto em proporções como em termos de personalidade) e vemos o seu criador a voltar a trabalhar na franquia mais uma vez, depois de ter deixado a Core Design em 1997 por estar descontente com a maneira como Lara era sexualizada nos materiais promocionais da Eidos. Depois de dois jogos nesta timeline (Anniversary – uma espécie de remake do Tomb Raider original – e Underworld), eis que um novo reboot à série se dá em 2013, apresentando uma Lara mais jovem e inocente.

Tomb Raider (2013) gerou alguma controvérsia porque a Lara apresentada já não era a Lara confiante a que estávamos habituados, mas sim uma menina que estava a lutar para sobreviver. O jogo passou a ser muito mais de acção-aventura, tirando páginas do livro de Uncharted (uma série que, curiosamente, se tinha inspirado nos Tomb Raider originais). Mas o melhor de tudo nesta nova timeline é que conseguimos ver a personagem a evoluir ao longo dos três jogos, e inclusivamente vemos uns laivos da Lara clássica por detrás daquela resolução 4K. Conseguir ver o desenvolvimento psicológico de uma personagem de uma maneira lenta e consistente é, a meu ver, storytelling no seu melhor – e apesar de ser fã da Lara clássica, esta nova Lara também me deixa muitas vezes de queixo caído.

O que resta para Tomb Raider, então? Para já, temos o anúncio de uma nova série anime para a Netflix. A Square Enix planeia uma celebração ao longo de 2021, e já nos disse que num futuro Tomb Raider vamos ver uma ligação entre a nova e a Lara clássica. Se isto não é motivo para ficar com borboletas na barriga por causa da antecipação… Aconselho-vos a jogarem a franquia 😉

*Na realidade, ela pode fazer 53, 44, ou 29 anos, dependendo da timeline escolhida. Mas isso não interessa nada 🙂