Say No! More encoraja-nos a dizer NÃO! mais vezes. Mas será que vale a pena dizer “sim” a este jogo?
Achei piada ao conceito deste pequeno jogo dos Alemães Studio Fizbin quando li a descrição de Say No! More: é o primeiro NPG (No!-Playing Game) criado. O problema? É literalmente tudo o que ele é.
Não me interpretem mal: Say No! More acaba por ser uma experiência gira, cómica por vezes, que pode ser concluída em menos de duas horas. Notem que o chamei de “experiência” e não “jogo”. Já explico porquê.
Começamos com um Character Creator onde podemos escolher um dos personagens pré-definidos ou fazer o nosso. Aqui temos mais opções de personalização do que estava à espera, e temos a oportunidade de fazer um personagem relativamente parecido connosco ou algo completamente estapafúrdio.
Agora que temos o nosso Intern (porque a nossa personagem não tem nome, está literalmente reduzido a “Estagiário”), podemos escolher em que língua vamos dizer o nosso “NÃO!”. Existem 17 línguas por onde escolher, cada uma com uma voz masculina e feminina (e Português está entre elas!). Depois de voz dada (preparem-se, que é tudo o que vão ouvir da boca do nosso Intern – ou então “errr…”), a experiência começa.
Num mundo onde estamos constantemente pressionados a dizer “sim” no local de trabalho (especialmente quando somos recém-contratados) ou aos nossos amigos de longa data (mesmo quando eles nos pedem para pagar a renda pelo nono mês consecutivo), a lição de Say No! More é essa mesma – temos de dizer NÃO! mais vezes. No nosso primeiro dia de estágio começamos com uma visita guiada pelo escritório, e o nosso supervisor vai-nos encorajando a dizer “sim” mesmo aos pedidos mais ridículos – como oferecer-lhe o nosso almoço, preparado pelo nosso melhor amigo, guardado numa lancheira catita com um unicórnio.
Eis senão quando o nosso Intern encontra uma cassete motivacional que ensina o poder de dizer “NÃO!”. Aí sim, começa o verdadeiro… gameplay? Isto porque a nossa personagem move-se quase sobre carris (não conseguimos controlar os seus movimentos pelo espaço) enquanto ela vai sendo interrompida por colegas e afins irritantes com pedidos idiotas, aos quais temos de dizer NÃO! para conseguirmos avançar. Situações destas vão acontecendo sistematicamente ao longo dos 8 capítulos com algumas variações – começamos por simplesmente dizer “NÃO!”; depois conseguimos carregar o nosso “NÃO!” para ser mais poderoso, e aprendemos maneiras de empatar enquanto a nossa barra de poder (que nos permite dizer um “NÃO!” mais bruto) recarrega – como bater palmas sarcasticamente ou desatar a rir na cara do interveniente.
Say No! More tem uma mecânica – dizer NÃO! com um botão, mudar a maneira de o dizer com outro (de entre quatro modos: heated, cool, lazy e wacky), e empatar com outro. Há monólogos que podemos ouvir até ao fim (que não requerem que o nosso Intern diga NÃO! porque a resposta certa para o dilema deles acaba por ser “sim”), mas no final de contas não há muito mais para fazer – daí não considerar Say No! More um verdadeiro jogo, mais uma experiência (pouco) interativa.
No entanto, nem tudo é ameno aqui. Há diálogos muito cómicos, as expressões nada detalhadas das personagens, o seu corpo em bloco e a maneira robótica como se mexem são deliciosas, e as animações são espetaculares. O voice acting dá uma dimensão necessária a uma experiência um bocado sem sal, e o facto de podermos dizer NÃO! em várias línguas e com entoações diferentes também é outro ponto positivo.
Conclusão:
Apesar do seu gameplay demasiado simples e da sua curta duração, Say No! More é uma experiência cómica que acaba por ser uma crítica ao mundo robótico em que vivemos. A necessidade de dizer “sim” literalmente porque sim muitas vezes não é questionada e esquecemo-nos que um bom NÃO! é necessário não só para nos salvaguardarmos, mas também para quebrar este ciclo vicioso. E na realidade… devíamos dizer NÃO! mais vezes – mas dar um SIM! a Say No! More.
Say No! More está disponível para Nintendo Switch, PC e iOS.
Com 5 anos meteu as mãos numa cópia de Tomb Raider II e a partir daí o encanto pelos videojogos só aumentou. Joga maioritariamente RPGs, acção/aventura e terror, tendo um carinho especial por jogos “Choose your own Adventure”. Fangirl da Sony, mas quando ninguém está a ver vai jogando no computador.