SideFUT – Amor/Ódio? Vício? A relação pouco saudável com o FIFA

O FIFA 22 está à porta. Muitos juraram não comprar mais um jogo da série… poucos resistem.

Se jogas FIFA com metade da intensidade com que eu jogo, provavelmente já tiveste vários momentos em que o teu comando esteve perto de conhecer um fim trágico. A veia na testa a saltar, a consola desligada em 2 segundos e os vizinhos todos a conseguirem ouvir o quão chateado estás. Se és um jogador casual, que pouco ou nada toca no Ultimate Team, então isto, provavelmente, passa-te ao lado. Mas para os jogadores aficionados neste modo competitivo, esta é uma realidade mais frequente que gostariam de admitir.

A comunidade de FIFA tem, nitidamente, uma relação amor/ódio com o jogo. Atrevo-me a dizer que mais que qualquer outra comunidade de qualquer outro jogo. Desde a jogabilidade que nunca está perfeita e nunca agrada a ninguém até às queixas constantes que a EA só quer é extorquir dinheiro aos jogadores, estando-se a marimbar para o jogo. É o jogo que não nos deixa ganhar, que está scriptado. São os packs que abrimos que só trazem lixo. Podíamos escrever um artigo só com as queixas em relação ao FIFA, mas não é esse o propósito hoje.

No fundo, a experiência de jogar FIFA pode ser mais negativa do que gratificante. Acabar uma sessão de jogo irritado e zangado não é, nem nunca foi, a meu ver, o propósito dos videojogos. Num jogo tão competitivo, onde não só se ganha, mas também se perde, faz parte ter de lidar com a frustração.

É preciso ter poder de encaixe para aceitar a derrota e mais ainda para aceitar a derrota que sentimos como injusta, seja por que motivos for. Um jogador que não sabe lidar com a frustração, não joga Dark Souls. Então se não sabes lidar com a frustração, porque jogas FIFA? Perdoem-me a analogia, sei bem que não é assim tão linear, mas aceitem-ma como forma de ilustrar uma ideia: temos de saber lidar com as coisas como elas são. Se não conseguimos, mas insistimos, então deixa de ser saudável e, se calhar, precisamos de nos afastar.

Há ainda a questão do vício. Jogar Ultimate Team pode ser extremamente viciante, levando os jogadores a, já depois de desligada a consola, continuarem a viver o jogo de forma intensa. Isto não é algo único do FIFA, muito menos dos videojogos no geral, como parece estar na moda apregoar em alguns círculos. É da natureza humana encontrar vícios. E o FIFA Ultimamente Team toca em muitos pontos que facilmente despoletam essa face da natureza humana. E se a EA pode e deve ser tornada responsável pelas suas “políticas de casino”, em tudo o resto depende de nós manter uma relação saudável com o jogo, conseguindo desligar dele.

Ainda neste campo, muitos jogadores se queixam da quantidade de videojogos que deixam de jogar, porque ficam absorvidos no FIFA e dedicam a esmagadora maioria do teu tempo a ele, não havendo espaço para mais.

Por todos estes motivos e mais alguns, muitos dos jogadores de FIFA já afirmaram, ao findar um ciclo anual, que não iriam voltar a comprar o jogo. Mas, convenhamos, poucos são depois os que o concretizam. Invariavelmente, ano após ano, se o ciclo repete-se e são poucos os que saem deste loop.

Um amigo meu, por esta altura no ano passado, dizia-me que não ia comprar o FIFA 21. Que não conseguia lidar com a ansiedade de querer fazer mais e melhor e não conseguir. A frustração que o jogo lhe provocava e que passava para o seu dia-a-dia não estava a ser saudável. E ele, de facto, não comprou o FIFA 21… até Abril. Acabou por não resistir, mas, pelo menos, já o abordou de forma diferente. Não jogou mais FUT Champions, focando-se sobretudo em jogar Pro Clubs com amigos. De vez em quando, tocava em Rivals, mas rapidamente se afastava quando sentia os antigos “sintomas” a voltar.

Considero-o um bom exemplo. Não estou aqui a querer apregoar para não se comprar o jogo. Longe disso! Mas é importante sabermos reconhecer a nossa capacidade de lidar com todos os estímulos, emoções e armadilhas que o FIFA nos coloca à frente.

FUT Champions
FUT Champions – o modo mais competitivo do jogo

Eu pessoalmente, adoro a competição. Mas lido bem com a derrota. Quando perco, a minha primeira reacção é querer tentar novamente, é querer melhorar.  Mas, se o ambiente extremamente competitivo do FIFA Ultimate Team não te está a fazer bem, então joga de forma mais casual. Não precisas de consumir o teu fim-de-semana a jogar weekend league, se isso só te deixa a sentir miserável, pois não? Experimenta outros modos de jogo.

É preciso aceitar que o jogo tem falhas! Todos os jogos têm falhas, não é um exclusivo da EA. E onde há falhas, há jogadores a descobrirem como as explorar para seu proveito. Se isso não faz mossa num jogo single player,  num jogo online competitivo a história já é outra. Por isso, pára de culpar o jogo e fica em paz com a ideia que, quando jogares, vão acontecer coisas fora do teu controlo que te vão fazer sentir injustiçado.

Quanto à sorte na abertura de packs, há muito que abracei a ideia que não posso contar com ela. Assumo sempre que nunca recebo nada que não lixo. Não tenho de dizer o que cada um faz com o seu dinheiro, mas se decidires comprar packs, fá-lo de forma consciente e sabendo ao que vais. Gerindo as expectativas, não só as frustrações são menores, como irás tomar decisões mais racionais onde gastar os teus recursos. Se calhar, aquele desafio que custa metade do teu clube a descartar e a probabilidade de sair lixo é elevada, não vale a pena fazer. A EA é muito inteligente na forma como explora a atração dos jogadores de FIFA por packs. Sê também inteligente e aborda-os de forma mais casual.

É importante encontrar os estratagemas pessoais para lidar com este jogo de forma mais saudável.  Porque, se saímos do jogo para a nossa vida real frustrados e zangados, então não estamos a cumprir o propósito maior dos videojogos que é o entretenimento, pois não? E, se o único estratagema que funciona for deixar de jogar, então, se calhar, está na altura de parar e não comprar o FIFA 22. Se decidires comprar, então encontramo-nos no relvado virtual.

Este artigo pertence a uma rúbrica sobre FIFA Ultimate Team. Vê outros artigos aqui.