Miasma Chronicles – O segredo está na luva – Análise

O novo jogo turn based do estúdio The Bearded Ladies (em parceria com a 505 Games) já aterrou nos PC e nas consolas de nova geração. Sejam então muito “bem-vindos” ao mundo pós-apocalíptico de Miasma Chronicles. 

Existem jogos que chegam, mudam o paradigma do seu género e oferecem ideias de design tão fortes que são impossíveis não serem aproveitadas por outras editoras. Para quem gosta de jogos ao bom estilo XCOM, eis que nos chega Miasma Chronicles, um jogo que posso desde já adiantar que vai ser do agrado dos aficionados de turn based games. 

Um jogo com as características de XCOM tem uma estrutura de exploração mais ou menos livre, em níveis mais ou menos abertos. Temos também presente um centro de operações, que no caso do novo jogo do estúdio The Bearded Ladies é uma pequena cidade, e claro não podia faltar o bom combate por turnos e toda a estratégia envolvida. Estes tipos de jogos são bem interessantes, pois existe espaço para uma boa história que suporta tudo resto, bem como ainda existe espaço para pesquisar novas habilidades (refrescando assim o gameplay).

Se jogaram há uns anos atrás Mutant Year Zero, e acham que Miasma Chronicles tem uma inspiração nesse jogo, então o vosso raciocínio está correto, pois ambos o jogos foram produzidos pelo mesmo estúdio e alguns aspetos do jogo de 2018 foram novamente aproveitados neste novo jogo. Miasma Chronicles segue rigorosamente o que estão à espera de um videojogo deste estilo, tanto que até é fácil prever as habilidades que iremos obter ao subir de nível. Falando por mim, mal tenha um ponto de habilidade para usar, quero desbloquear o Overwatch, que é aquela muito útil habilidade de disparar se qualquer inimigo passar pelo campo de visão, aliás uma habilidade praticamente obrigatória nos jogos do género.

Vamos saber um pouco do enredo do jogo? Vamos lá! Elvis anda a tentar encontrar a sua mãe, Bha Mahdi, juntamente com o seu “irmão” robô Diggs, que quase que se pode chamar de guarda costas de Elvis, pois faz tudo para o proteger. Mas a missão de encontrar a sua mãe não está fácil, pois para isso Elvis tem que conseguir destruir uma barreira de Miasma usando uma luva com habilidades especiais, contudo teremos que aprender primeiro a controlar a tecnologia da luva para combater a estranha substância que parece ter vida própria e que destruiu praticamente toda a América.

Com os Estados Unidos completamente devastados, as cidades restantes estão a lutar para sobreviver e os animais transformaram-se em criaturas bem horríveis (se não gostam de sapos, fica o aviso), e obviamente teremos que lutar contra elas. Pelo meio existe ainda uma família poderosa (chamada de The First Family) que controla o que resta da humanidade, e que também nos vão tentar fazer a vida negra. Contudo a lista de bad guys não fica por aqui, mas mais não digo para não dar mais spoilers. A partir deste ponto de partida, começamos a perceber que o jogo tem uma interessante história em volta dos personagens e que a mesma foi “construída” em torno de um enorme mistério que nos dá uma enorme vontade de o desvendar. Esse enigma faz com que queiramos explorar cada zona a pente fino, bem como saber mais sobre os personagens que vamos conhecendo. 

Miasma Chronicles não é um jogo de mundo aberto e os caminhos são na sua grande parte lineares. Contudo, existem salas para explorar e quebra-cabeças básicos para resolver e eles não são desnecessários por assim dizer, combinando bastante bem com a temática da história. Por exemplo, podemos tentar encontrar um código de um key pad para uma determinada porta e as dicas para a abrir estão próximas, sendo um desafio acessível e que não causa frustração. A recompensa por abrir a porta é bastante útil, contudo não é obrigatória.  

Seguir apenas e só a história é bom, mas podem beneficiar bastante de missões secundárias ou alguma de simples exploração. Há um benefício em explorar e estar familiarizado com o ambiente, pois o sucesso em combate poderá depender disso. Elvis e Diggs vão encontrar aliados pelo caminho, mas muitas vezes vão estar em menor número (já estive em combates de 10 VS 3). Se possível recorram sempre ao uso do ambiente e eliminem furtivamente os inimigos para equilibrar as vossas chances. Chegar a um terreno mais alto, utilizar objetos explosivos que estão no terreno ou usar os poderes da luva de Elvis sempre que possível (e os poderes são bem poderosos), poderão ser cruciais para a vitória.  

Ao contrário de XCOM, onde vamos no Skyranger até aos locais problemáticos combater os aliens, aqui a exploração é feita tempo real, pois podemos navegar livremente no mapa, isto se não formos vistos por nenhum inimigo claro. Enquanto exploramos podemos (e devemos) procurar Plastic, que é a moeda do jogo. Este é um ponto que a mim não me agradou muito, pois existe muito pouco Plastic espalhado pelos mapas e tudo o que podemos comprar com ele é estupidamente caro (parece que a inflação também chegou a Miasma Chronicles). O normal e acharmos aqui e ali 10 Plastic (raramente podemos encontrar 30) … por isso imaginem o quão difícil é comprar novas armas por exemplo, ou até um simples Medipod, que custam 100 unidades de Plastic, para não falar das Energy Cells (necessárias para carregar a luva de Elvis) e que custam 220 unidades. A economia do jogo tem de ser revista a meu ver e se possível aparecer novamente Plastic sempre que voltamos a um mapa que já descobrimos. E sim, os inimigos por exemplo, podem largar Medipods (entre outras coisas) quando são eliminados, mas mesmo assim nunca chega para as nossas necessidades e temos que pensar cuidadosamente qual o personagem que devemos usar o item de recuperação de vida. 

À medida que vamos avançando no jogo vamos como é óbvio ter acesso a novas habilidades. Cada um dos personagens tem uma skill tree, que está dividida em quatro partes, com habilidades que vão desde bónus de pontos de vida, bónus de armadura ou ataques corrosivos que são ideais para desfazer as armaduras dos inimigos. Não se esqueçam de desbloquear o tão útil Overwatch como mencionei antes, pois é aqui que o podem fazer.  

O arsenal à nossa disposição não é tão vasto quanto o de XCOM ou Phoenix Point, o que nos faz passar bastante tempo em posse das mesmas armas. Contudo, a eficácia de cada uma delas é o suficiente para não deixar a jogabilidade aborrecida. Vamos poder usar SMG, Shotguns, Sniper Rifles e mais umas tantas bastante originais, mas veremos poucas variações ao longo do jogo.  

Um grande contraste entre Miasma Chronicles e outros jogos de estratégia turn based é que a barra de vida não recupera naturalmente após o fim do combate. Ao contrário de outros jogos em que todos ficam curados após uma missão, os nossos personagens ficam com a vida do último combate, nem que sejam uns míseros 5 pontos de vida. Uma vez mais, lá temos nós que usar os valiosos e escassos Medipods, isto se os tivermos. Isto acontece se escolherem a dificuldade de jogo Standard (ou superior), se jogarem na dificuldade Narrative, após o fim de cada combate, os personagens ficam com a barra de HP cheia…, mas esta dificuldade pelo menos para mim não tem grande piada, pois o desafio é mínimo, ideal apenas para quem quer focar-se apenas na história. 

utro aspeto que acho que tem que ser revisto, os cooldowns das habilidades, e posso dar como exemplo uma vez mais o Overwatch. Os cooldowns não fazem reset ao terminar um combate, e transitam para o combate seguinte mesmo sendo num mapa diferente…, e acho que não faz qualquer sentido. Portanto, pensem muito bem em cada ataque que fazem, e tenham em conta este pormenor, pois influencia bastante a estratégia de jogo. E já agora também me pergunto porque só podemos ter três personagens em simultâneo na nossa equipa, não faz sentido deixarmos “no banco” outros companheiros (vamos conhecendo mais conforme vamos avançando na história), pois seria um pouco mais justo para nós, que estamos sempre em desvantagem. 

Miasma Chronicles está visualmente muito bom, com a natureza distorcida e horrenda provocada pela Miasma. São ambientes decadentes sim, mas ao mesmo tempo não podemos deixar de admirar o seu look bem atrativo, pois o estúdio The Bearded Ladies sabe melhor que ninguém em como criar um bom ambiente pós-apocalíptico.  

Já o áudio, também consegue imergir-nos, com silêncios ou ruídos de fundo reforçando o vazio do novo mundo devastado pelo estranho fenómeno. Contudo, existem alguns momentos em que vemos perfeitamente que o áudio não foi sincronizado com a animação facial, e fica esquisito de se ver. Nada que um update resolva claro. 

Conclusão:

Miasma Chronicles consegue expressar a sua própria personalidade com o que nos oferece. Quem procura um toque mais de RPG e exploração neste género vai certamente gostar, mas não revoluciona este género de jogos (e nem pretende). Não deixa de ser um jogo a considerar, pois irá exigir uma boa estratégia (e paciência) da nossa parte, e quem é aficionado de jogos turn based certamente gosta de um bom desafio.