Longe vão os tempos em que, ao ser anunciado um remaster, os fóruns e redes sociais por essa internet fora eram inundados de reacções enraivecidas por alegado desrespeito ao consumidor… Há alguns meses atrás foi lançado o imensamente aguardado remake do mítico jogo Final Fantasy VII, após anos e anos de pedidos por parte dos fãs para que tal pudesse, um dia, ser efectivamente real. Não, não estou a fazer qualquer confusão entre uma remasterização e um jogo refeito desde o início. Começo por recorrer a FF VII Remake pois o seu lançamento era implorado há muitos anos, fazendo parte do imaginário de toda uma geração que viu no jogo original a “porta” para uma indústria que não mais largaram, passando aos mais novos os maiores elogios à obra prima lançada pela SquareSoft no longínquo ano de 1997, levando a que mesmo estes jogadores mais recentes contribuíssem para a onda criada à volta e que culminou, no dia 2 de Março deste ano de 2020, num jogo que (críticas à parte) é mais moderno.
Só que Final Fantasy VII foi uma excepção. Felizmente, desde a massificação dos videojogos no final dos anos 80 e na década de 90 do século passado, muitos foram os jogos e consolas lançadas mas que, com o passar dos anos e depois de fazerem tantos de nós felizes, passaram a ter o seu lugar apenas… na memória.
Eis que, na geração anterior àquela que agora está prestes a ser substituída, ou seja, nas consolas PlayStation 3 e Xbox 360, surgiu no léxico dos jogadores a palavra remaster. Do que se trata não é mais do que uma melhoria visual ou sonora (ou ambas) aplicada(s) a jogos que foram originalmente lançados em plataformas anteriores, da mesma marca (Sony, MicroSoft ou Windows) ou de outra(s). Se a “caixa de Pandora” aberta com God of War Collection em 2009 (há 11 anos!!), contendo os jogos God of War e God of War II não gerou muitas críticas, a cadência cada vez maior de jogos que recebiam o mesmo tratamento passou a ser bastante mal vista.
À medida que o número de lançamentos antigos que, sem se dar muito por isso, foram tomando conta do mercado, compilando vários jogos exclusivos e que assim se mantiveram, dando como exemplos The Ico & Shadow of the Colossus Collection, The Jak and Daxter Trilogy ou The Sly Collection, para PS3 até jogos que não existiam numa plataforma mas que, através da versão remasterizada, ficaram disponíveis quando não o estavam antes, como Bully da Rockstar que só tinha sido lançado para PlayStation 2 e que chegou à Xbox 360, a verdade é só uma: os remasters tinham chegado para ficar.
O que mais se apontava de negativo a esta política consistia em dois grandes argumentos: prejuízo para o consumidor por ter de pagar duas vezes pelo mesmo e preguiça das produtoras que prejudicariam o desenvolvimento de novas I.P.
Os ports de um jogo nunca tiveram muito feedback da comunidade de jogadores, sendo vistos como algo normal e positivo por permitir que numa plataforma de jogos mais recente se conseguisse continuar a jogar algo que, ou não se tinha tido oportunidade por não ter uma determinada consola onde um jogo tinha sido lançado, ou pelo facto de uma pessoa já não ter essa consola antiga. Mas com as remasterizações não era este o raciocínio, quer por se sentir que pelo preço cobrado (muitas vezes o preço de um jogo novo) eram poucas as melhorias apresentadas, quer por se considerar que a quantidade de jogos a merecer versões com melhor aspecto estava a ser exagerada. E a verdade é que com a ascensão da PlayStation 4, Xbox One e Nintendo Switch não houve uma inversão… antes pelo contrário.
Um caso particular que tem gerado controvérsia é o de Grand Theft Auto V. Se a PS2 teve o privilégio de receber três GTA distintos (GTA III, GTA Vice City e GTA San Andreas), GTA V vai ser lançado em três PlayStation diferentes, ou seja, PS3, PS4 e PS5, sendo que as versões PS4 e PS5 são, precisamente, remasterizações. Claro que não podemos reduzir a questão a esta simplicidade uma vez que é evidente que a complexidade da produção e o conteúdo presente num jogo como Grand Theft Auto V é muito maior, mas também muito melhor e mais rápida é a tecnologia disponível actualmente para se criar um videojogo, assim como muito mais avançado é o hardware das consolas e PC’s do mercado. Ainda assim, as duas maiores críticas aos remaster encaixam, parece-me, no caso da fantástica série da Rockstar.
Uncharted, Assassin’s Creed, Batman são exemplos de séries de enorme sucesso e que, estreando-se nas consolas da geração anterior, todas elas tiveram versões com melhorias na resolução, nomeadamente, na geração actual, havendo até o exemplo do reboot da série Tomb Raider que após o lançamento original em Março de 2013 para PS3, Xbox 360 e PC foi alvo de um edição definitiva menos de um ano depois (!), com o lançamento desta a ocorrer em Janeiro de 2014 para PlayStation 4 e Xbox One.
Porém, creio que é justo dizer que tem havido uma adaptação da mentalidade de muitos consumidores de videojogos no sentido de, por um lado perceber que só compra se quiser, por outro, crescendo os pedidos de jogos que se gostaria que tivessem um tratamento semelhante, o que não deixa de ser curioso. Daqui a poucas semanas será lançado Need for Speed: Hot Pursuit Remastered e já vi, não apenas entusiasmo com esta versão, como desejos de apreciadores da série para que surja no futuro outra versão de um Need for Speed que outros jogadores preferiram, como o Most Wanted.
Partilhei comentários que li quanto a este Need for Speed mas já me apercebi do entusiasmo com que muitos jogadores, como eu, veriam uma colecção para a geração actual (e para a que aí está prestes a chegar) da saga Mass Effect, da série The Wicher (que para quem joga PlayStation 4 e Nintendo Switch apenas pode deliciar-se com o 3) ou de alguns dos mais marcantes clássicos de The Legend of Zelda, o que a juntar-se à quantidade de pessoas que receberam “de braços abertos” jogos remasterizados como The Last of Us, Mafia: Definitive Edition ou o recente Super Mario 3D All-Stars, seja pelo factor nostalgia, por terem deixado passar o jogo anteriormente, pela maior resolução e/ou fluidez possível num hardware melhor, o que me parece é que a aceitação das remasterizações é, hoje em dia, muito maior do que era há não muitos anos atrás.
Quanto ao receio que se fez sentir, principalmente nos primeiros meses de vida da PlayStation 4 e Xbox One, de que apenas eram lançadas estas versões “recicladas” em vez de jogos novos que realmente fizessem valer o preço dado por um sistema de nova geração, creio que o tempo foi tirando toda e qualquer dúvida: extraordinários jogos novos tivemos a sorte de receber! Não creio que seja necessário mencionar nenhum mas é impensável não o fazer, pelo que desde já enumerando The Witcher 3: Wild Hunt, Persona 5 (e Royal), Control, Gears 5, The Last of Us Part II, passando por Super Mario Odyssey, God of War, Hellblade: Senua’s Sacrifice, The Outer Worlds, etc. e MUITOS mais poderia indicar, não há qualquer razão para não se estar satisfeito por ser apreciador de videojogos nos últimos anos!
Não tenho qualquer problema em ser o mais sincero possível: fui um dos que “torceu o nariz” à regularidade com que eram anunciados e lançados remasters. Actualmente, ao estar a desfrutar (e como!) na minha Nintendo Switch de Phoenix Wright: Ace Attorney Trilogy, após nunca ter dado grande importância à série, enquanto os lançamentos na Nintendo DS e 3DS se sucediam, sou da opinião de que as vantagens são superiores às desvantagens, principalmente pela possibilidade de se poder jogar jogos que, seja por que razão for, não se jogou antes mas que merecem ser jogados, para além de (quando bem feitos) permitirem ter a sensação de ser um jogo recente, de acordo com o hardware mais avançado. Quem não se sentir confortável, nomeadamente por já ter a versão original, pode simplesmente não patrocinar esta política e não comprar. Mas podermos escolher é importante.
O meu primeiro contacto com os videojogos aconteceu por altura do meu 8º aniversário, quando recebi de prenda uma SEGA Mega Drive, ficando “agarrado” a jogos como “The Revenge of Shinobi” ou “Streets of Rage 3“. Anos mais tarde, tive a possibilidade de experimentar a primeira PlayStation, juntamente com o original “Spyro the Dragon”, jogando a todas as consolas da Sony desde essa altura (caseiras e portáteis). Nenhum jogo, até hoje, me marcou mais do que o Final Fantasy X, mas creio que o que mais horas joguei foi o PES 5, também na PS2. Adoro jogos de ação na 3ª pessoa, visual novels e RPG’s no geral (para indicar alguns géneros), mas tenho um fraquinho particular por turn-based JRPG.